quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ainda virgem?Vamos para 2011..

"Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. "Paulo Wainberg


Li que na França, um Juiz de Direito anulou um casamento porque a noiva não era virgem!

Imagino a cena: suíte de luxo no hotel cinco estrelas, champanhe gelada, sorrisos, a noiva retorna do banheiro com seus negligées sedutores e estende-se ao leito, pronta para a ação.
O noivinho, ansioso, promete carinhos e cuidados, jura que não vai doer, que ela, a sua amada, vai gostar e, enquanto fala, vai enfiando a mão á valer. Ela, louca para receber seu amado, entrega-se à paixão.
Tudo pronto, as preliminares concluídas, todas as palavras ditas e lá vai o rapaz, com delicadeza e cuidado, invadir o tão cobiçado território, sabendo que terá ainda um último obstáculo a superar: o hímen da mulher amada.
E manda ver.
É quando explode o escândalo!
Você decide: ele armou o escândalo quando percebeu que o virginal obstáculo já fora removido por outro desbravador? Ou concluiu o serviço e só então foi se queixar ao Bispo, ao Mulá ou, no caso, ao Juiz?
Quando comecei minha recente carreira de advogado, no ano de 1968, a noiva não ser virgem era motivo para anular o casamento, sim senhora. E o marido traído podia matar a esposa infiel porque seria absolvido pela legítima defesa da sua honra maculada.
Virgindade e fidelidade, qualidades femininas divinizadas por séculos, ainda são atributos celebrados pelas religiões e, ainda que num caso circunstancial, pela Justiça francesa.
Fantástico.
Com a imparcialidade que me é peculiar, ouso dizer que, do ponto de vista das religiões, a verdadeira divindade é o hímen feminino que, inadequadamente rompido, condena os participantes, circunstantes e observadores incautos às mais dolorosas penas celestiais.
Nada é mais sagrado do que um hímen, tão sagrado que o repuseram em Maria, mãe de Jesus, transformando José, seu marido de tantos anos em, no mínimo, um pobre eunuco, incapaz de deflorar a esposa, que teve de conceber com o hímen intacto.
Tão importante e fundamental a Sacra Membrana que a ordem divina de crescermos e multiplicarmo-nos foi adequadamente adaptada pela exigência do matrimônio sem o qual podemos apenas crescer, mas, multiplicar, jamais.
O Serviço de Proteção ao Hímen percorreu séculos de História, gerando verdadeiros exércitos de abstinentes, poluindo cortes judiciais de civilizações antigas, pré-antigas, meio-idosas, modernas e contemporâneas, exercitando-se em templos e catedrais à base de ameaças furibundas de castigos terríveis e sofrimentos atrozes.
Mulher sem hímen era impura por definição, sabendo-se que impuro é tudo aquilo que contraria as ordens religiosas.
Casar com mulher virgem era imposição cultural, social, religiosa e – por que não? – econômica, vistas as finalidades materiais de um casamento bem fornido.
E a jovem nubente que ousasse desfazer-se, ainda solteira, da Santa Membrana era, entre outras coisas, expulsa de casa, desterrada, morta na fogueira, execrada em público e, conforme antigos costumes, apedrejada em praça pública, exercício que algumas mentes mais, digamos assim, conservadoras, ainda acham exemplares.
O homem-bomba, por exemplo, se explode num shopping porque, fazendo isso, terá à sua disposição incontáveis jovens mulheres virgens, pelo resto da eternidade. É importante ressaltar essa condição de “jovens” porque ninguém vai se explodir se a recompensa eterna lhe reservar “velhas” virgens.
Eu não me explodiria.
Interessante que a concepção de pureza da mulher concentra-se na pele pré-vaginal. Pode rolar de tudo, dedos no clitóris, pau nas coxinhas, sexo oral, sexo anal, lambidas e mordidas, desde que se preserve a pelanca, reservada para os trabalhos da noite de núpcias, com manchas de sangue no lençol para não haver dúvidas.
A noiva assim casada, mesmo que se tenha esvaído em orgasmos mis, pré-nupciais e com diversos namorados é pura para as finalidades do credo e, portanto, apta a preservar o matrimônio, desde que não incorra no pecado do adultério que, mais do que pecado, ofende de morte a honra do marido.
“Ó tempora, ó mores”, afirmo eu como Cícero afirmou, há mais de vinte séculos, no Senado Romano.
Quem te viu, quem te vê, já comentou Chico Buarque de Holanda quando você era a mais bonita das cabrochas desta ala.
Não fossem as mulheres feias terem deflagrado o Movimento Feminista e estaríamos ainda hoje subjugados pelo Sagrado Hímen, pela Pelanca Fundamental a impedir homens e mulheres de acessarem-se mutuamente, em atos de amor, de paixão, de tesão ou de pura e explícita sacanagem o que – me contaram – parece ser muito bom.
E ainda estaríamos à mercê de Cortes Judiciais nutridas de preconceitos a sancionar a insensatez e o obscurantismo da intolerância religiosa, seus tabus, sofismas e dogmas absurdos da qual esse Juiz francês é um anacrônico modelo.
Menos mal que o Governo e a sociedade franceses repudiaram a sentença, escandalizaram-se com ela, afinal de contas o que é isso, meu? Onde é que estamos? Com quem o senhor pensa que está falando? Anular um casamento porque a noiva já tinha dado? Porque a virgindade era cláusula do contrato? Afirmo, do alto de minha cadeira de advogado que essa cláusula, se existiu, é nula de pleno direito, ferindo os mais comezinhos princípios do Direito e da Moral, inclusive sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, a definir-se, no caso concreto, quem era o consumidor.
Aliás, qual é a função biológica do hímen? Alguém sabe? Sua existência não será um defeito na evolução, um pelego desnecessário que, uma vez rompido, não deixa rastro, pegada nem impressões digitais?
Protegê-lo com tanta fúria como alguns fazem é o mesmo que negar as funções biológicas, entre elas comer, beber e, com perdão da má palavra, fazer cocô. Mulher pura faz essas coisas? Ó meus sais, quanta decepção…
Ironias à parte se eu fosse imperador da Áustria no Século XVIII, teria encomendado de Mozart uma Missa Solene chamada A Sagração do Hímen, que seria tocada obrigatoriamente em todas as cerimônias de casamento da Europa. Beethoven poderia ter composto a Décima Sinfonia, A Himenêutica e James Joyce, em vez de escrever o nunca lido e sempre citado Ulisses teria escrito a monumental obra O Hímen Caído, isto depois de percorrer todos os cabarés e casas de meretrício de Dublin num único dia.
Neste assunto sou radical e definitivo.
Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. Mulheres produzem sucos gástricos e espinhas no rosto, assim como os homens, e olha que não estou falando de outras nojeiras.
Às que já se desfizeram da Santa Membrana minha recomendação é: aproveitem que a vida é curta e é só uma.
E vocês, homens, francamente, me fazem vergonha. Virgindade é lá coisa que se exija de uma noiva contemporânea?
Nem minha sogra acredita mais nisso.
Se você pegar uma virgem, desvirgine, mas nem por isso sinta-se dono da garota. Acredite em mim: é muito melhor ser amigo do dono da piscina do que ter piscina em sua casa. Você passa o domingo tomando banho na piscina dele e vai embora sem se preocupar em saber se ele tem cloro em casa para purificar a água.
Recomendo que as Altas Instâncias da Justiça Francesa exonerem o tal Juiz, coloquem-no nas galés e o desterrem para a Ilha de Alba ou de Santa Helena onde ele poderá proferir suas sentenças sem incomodar ninguém nem me obrigar a escrever esta crônica.
Nem você a lê-la.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Férias.O que seria sem elas.

Não é fácil ser um gaúcho típico, classe média.
Mal acaba de desembrulhar os presentes de Natal e já está carregando o carro, colchão enrolado em cima, o aparelho de TV acomodado entre a imensa bagagem, crianças, o cachorro, câmara de ar que será bóia, tudo socado, rumo à estrada que a praia está chamando.
Fila na rodovia, calor danado, capaz de chover, pára de berrar, menino!, engarrafamento inevitável em Canoas, quatro horas de viagem para um trecho tão curto, o chevetão só ferveu uma vez, enfim o mar.
E então é aquilo de sempre, todos numa casa de dois quartos, a mulher trabalha feito uma moura, ele paga todas as despesas - o cunhado que sempre aparece nunca se coça..
 - cadê o menino, pelo amor de Deus, eu disse para ficar olhando, picolé, areia na sunga, queimadura de sol, ui como arde, bota vinagre, o banheiro sempre ocupado, o cunhado é desregulado.
Dormir amontoado não é mole, o cunhado é flatulento, pudera, come feito um cavalo, ainda se colaborasse, mosquitos, pagode no vizinho até de madrugada, mania de soltar foguetes.
 Quando acaba o feriadão repete-se a viagem, agora em sentido contrário: fila de novo, só deu um dia de sol, diabo de chuva, congestionamento irritante em Canoas, o carro ferve, enfim o lar.
Descarrega-se toda a tralha, cuidado com a TV, será que esquecemos alguma coisa?
- O menino! Cadê o Wanderson Kleyton?
A mulher desmaia, a sogra abre falação, o cachorro mijou dentro do carro, calma, liga pro vizinho na praia, pra polícia, eu volto para buscar, alguém me empresta um carro que o chevetão está no bagaço. Leva um ano para curar o estresse das férias. (desconheço o autor)

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?: "Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular? Deve..."

Que presente te dar?


Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular?
Deveria desatar inúmeros presentes ao pé da árvore,entreabrindo jóias, tecidos, requintados e pessoais objetos, ou deveria dar-te o que não posso buscar lá fora, mas o que em mim está fechado e mal sei desembrulhar?
Gostaria de dar-te coisas naturais, feitas com a mão, como fazem os camponeses, os artesãos, como faz a mulher que ama e prepara o Natal com seus dedos e receitas, adornos e atenção.
Te dar, talvez, um pedaço de praia primitiva, como aquelas do Nordeste, ou de antigamente - Búzios e Cabo Frio; um pedaço de mar das Ilhas do Caribe, onde a água e o amor são transparentes e onde a areia é fina e brilhante e, sozinhos, habitam a eternidade, os amantes.
Te dar aquele verso de canção um dia ouvida não sei mais aonde, se numa tarde de chuva, se entre os lençóis cansados; um verso, uma canção ou talvez o puro som de um saxofone ao fim do dia, som que tem qualquer coisa de promessa e melancolia.
Fugir uma tarde contigo para os motéis, quando todos os homens se perdem nos papéis e escritórios, números e tensões: fugir contigo para uma tarde assim,um espaço de amor entreaberto na peça que nos prega a burocracia dos gestos.
Gravar numa fita as canções que me fazem lembrar de ti e ouví-las, ou tocar de algum modo, em algum cassete as frases que disseste, que em mim gravaste: frases líricas, precisas, que quando estou cinza, relembro e me iluminam.
Te enviar todos os cartões que colecionas, de todos os lugares que conheço ou que tu nem imaginas, ir a essas paisagens e ilhas e habitá-las com os selos e palavras de interminente paixão.
Dar-te aquela casa de campo entre montanhas, aquele amor entre a neblina, aquele espaço fora do mundo, fora de outros espaços, sem telefone, sem estranhas ligações, para ali nos ligarmos um no outro em una e dupla solidão.
Se queres jóias, te darei. Aqueles corais que vendem na Ponte Vecchia, em Florença; o âmbar ou as pérolas que expõem nas lojas do Havaí; aquelas pedras de vidro para iridescentes colares, que vendem em Atenas, ao pé da Plaka, ao pé da Acrópole, que amorosa nos contempla.
Te dar numa viagem os castelos do Loire, e sair comendo e rindo juntos no roteiro gastronômico franco-italiano; ali comendo e aqueles vinhos bebendo, de tudo nos esquecendo, sobretudo dos remorsos tropicais de quem tem sempre ao lado um faminto desamparado, de culpa nos ferindo.
Te darei flores. Sempre planejei fazer isto. Tão simples: de manhã acordar displicente e começar a colher flores sob a cama. Ir tirando buquês de rosas, margaridas, vasos de íris, orquídeas que estão desabrochando e, uma a uma, de flores ir te cumulando. E amanhecendo dirás: o amado hoje está mel puro, seu amor aflorou e está me perfumando.
Escrever bilhetes pela casa inteira, metê-los entre as roupas, armários, prateleiras, pra que na minha ausência comeces a desdobrar recados daquele que nunca se ausentou, embora esse ar de quem vive partindo, mas, se alguma vez partiu partido foi para reunido regressar.
Te dar um gesto simples. Passar a mão de repente sobre tua mão, como se apalpa a vida ou fruto que pede para ser colhido.
Te dar um olhar, não aquele olhar distraído, alienado de quem está nas coisas prosaícas perdido, mas um olhar de quem chegou inteiro e que se entrega enternecido e desamparado dizendo: olha, sou teu, agora veja lá o que vai fazer comigo.( Affonso Romano de Sant'Anna)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um vislumbre do fim.

Este trecho de Clarice Lispector traduz (infelizmente) meu estado de alma neste final de ano.
Que 2011 me revigore em esperanças.Amém




Uma vez eu irei.
 Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações.
 Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria.
 Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou!
Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo.
Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.: "Prezada Consultora Sentimental ! Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério. Eu tenh..."

DILEMA SENTIMENTAL.






Prezada Consultora Sentimental !
Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério.
Eu tenho uma namorada que eu amo intensamente e quero casar com ela. O meu problema e' que tenho receio que a minha gata não se identifique com a minha família, e isso venha a gerar conflitos no nosso relacionamento.
Papai é chefe do tráfico e tem atuação muito forte aqui no Rio. Ele conheceu a minha mãe numa casa de tolerância e conseguiu tirá-la dessa vida. Hoje ela tem sua própria zona com mais de duzentas mulheres e homens, e não precisa mais exercer esse trabalho pessoalmente; só de vez em quando, pra se manter por dentro das tendências do mercado.
Tenho três irmãos e duas irmãs que eu conheço pessoalmente. O mais velho é deputado federal. O segundo tinha problemas, mas mudou muito de vida depois que cumpriu a pena por sequestro e estupro e hoje é bispo da Igreja Universal da Glória de Jesus, já ressuscitou mais de catorze mortos e curou mais de 3.000 aidéticos e vive bem com a graça de Deus com suas quatro esposas em Jurerê Internacional. Meu terceiro irmão abandonou a milícia que ele comandava no Complexo do Alemão, se arrependeu dos presuntos que ele tem no currículo, saiu do armário faz uns oito meses e hoje é travesti e trabalha na rua do Jóquei em São Paulo, mas ele faz só ativo. Apesar de ter virado a casaca e largado o Mengão pra virar curintiano por causa do Ronaldo, ele é um menino bom e não causa preocupação na família. A gente vê que ele tá bem encaminhado.
A minha irmã mais velha casou com o avô da ex-namorada lesbica dela, que está em estado vegetativo por causa de um derrame que ele teve quando o bicho pegou na época do mensalão. Ela abriu sua própria empresa em parceria com um sindicato, um despachante e um cartório, e hoje vende autopeças procedentes de veículos "sumidos" de outros Estados.
Quanto a minha irmã caçulinha de dezoito anos, trabalha de dia como atriz nas Brasileirinhas e de noite ajuda a mamãe, só que ainda na fase do atendimento direto ao cliente, pra poder pegar o know-how do negócio a partir da base.
Bom, Marcella, a minha pergunta é a seguinte: você acha que eu devo revelar de uma vez ou ir revelando pouco a pouco pra minha namorada que eu tenho um irmão deputado?



"Anônimo da Barra-RJ."

sábado, 18 de dezembro de 2010

O que as mulheres procuram...

Primeiramente, nós mulheres somos por demais heterogêneas, portanto, a verdade para mim pode ser mentira para outro ser semelhante.

Adoro homem que me faz rir mas aquele humor refinado e não  com piadas antigas ou grosseiras.
Homem que dança (e sabe conduzir)e até aquele que fecha os olhos e deixa o ritmo lhe guiar a música nas veias.
Adoro homem inteligente e  sensível  que realmente me escute, e não apenas finja que me escuta enquanto observa o meu decote... Os introvertidos me fascinam, me provocam com seu silêncio perturbador e aquele ar de quem tudo vê e nada revela... Mas que não seja introvertido em excesso, saia do seu mundo de vez em quando, venha explorar o meu...
Amo homem que compreende o que lê, homem curioso, jamais satisfeito com aquilo que sabe, sempre querendo mais.
Gosto de homens romanticos, não os que fingem sê-lo só para terminar na cama, porque afinal de contas, em pleno século vinte e um, só homem burro mente que quer compromisso se o que ele quer é uma noite... Homens, acordem! Mulher procurando prazer tem por aí aos montes, deixem as românticas e conservadoras (que também existem) no cantinho cor-de-rosa delas...
Dispenso os materialistas, os esnobes, presunçosos, engomadinhos... fujo dos preconceituosos e abomino os machistas. Não me misturo com os ratos de academia nem com os ratos de biblioteca. Os primeiros esqueceram de exercitar o cérebro; os segundos, de viver, tomar sol, relacionar-se...
Playboys, sedutores baratos e narcisistas: não, obrigada. Estão em falta homens com personalidade (mulheres, também)... com auto-estima sólida, mas maleabilidade suficiente para admitir erros, para cultuar a humildade, a simplicidade, a verdade.
Enfim, não existe um manual que contenha o que "as mulheres" gostam; a verdade é bem mais complexa: cada mulher é um universo único, com seus próprios valores e preferências... a cada homem cabe descobrir, com a habilidade que lhe for peculiar, do que gosta esta mulher que agora está na sua mira. Boa sorte...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amanhã fica pra amanhã.


Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, "Fidelidades", onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura. Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa.
Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço."
Amanhã fica pra amanhã!
Amigos meteorologistas, segunda-feira poderemos vivenciar um dramático temporal ou um sol rachando, mas sinto muito, me desliguei de previsões, não estou interessada no que o céu despencará sobre mim amanhã quando eu acordar. Recém é hoje.
A cotação que o dólar terá quando o mercado reabrir continuará não fazendo a menor diferença pra mim, já que não trabalho com exportação nem importação. Nada me importa além desse minuto.
Já tomei banho e tudo o que minha pele e meus cabelos assimilarem durante minha passagem por esse dia ficará como marca registrada das ruas por onde andei e das intempéries que enfrentei, só no próximo banho é que eliminarei as partículas deste domingo.
Se você quiser me dizer alguma coisa, diga já, amanhã posso estar surda, com febre, ausente, desconectada, com TPM, de férias, e você terá desperdiçado a oportunidade de ser ouvido nesse instante.
As pesquisas de opinião são muito afoitas, ligeiras, ansiosas, que me interessa a eleição do ano que vem se nem o amanhã me é seguro, hoje eu tenho os representantes que tenho, até que eu me corrija no próximo voto.
Esse bombom em minhas mãos, quantas calorias terá, que estrago fará em minha região abdominal, que consequências deixará visíveis na beira da praia? Nhac. Veremos.
Não tenho caderneta de poupança nem me preocupo com fundos de investimento, e gastei três dígitos num vestido que me ofereceu cor, leveza e jovialidade para daqui a algumas horas, e daqui a algumas horas eu ainda terei a aparência que tenho, não garanto depois.
Comecei a ler um livro que tem frequentado a lista dos dez mais e nas primeiras dez páginas peguei no sono. Deixei o livro de lado: perder tempo é um insulto à vida. No mesmo instante comecei outra leitura e essa, sim, me devora.
No almoço de amanhã teremos à mesa o que eu me sentir impulsionada a comprar no supermercado amanhã, hoje eu me contento com o que há na geladeira e que alimenta o meu agora.
Olimpíadas de 2016, que viagem no tempo, mal sei se atravessarei os obstáculos anotados em minha agenda neste 3 de janeiro de 2010 e se quebrarei algum recorde de alegria ou tristeza antes que o telefone toque.
Hoje ainda estou dentro da lei, ainda tenho todos os amigos por perto, ainda me reconheço no espelho, ainda não enjoei da música que estou ouvindo, ainda estou em paz, ainda acredito que o dia terminará bem.
"Amanhã fica pra amanhã" é um aforismo que li no livro de Pedro Maciel chamado Como Deixei de Ser Deus. Admitir que não temos controle sobre o futuro é um bom começo. Deus é uma projeção, e hoje, aqui em casa, as projeções estão em falta, amém.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra)

Devaneios etcétera e tal...: UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra): "Vi o que vi debaixo do sinal vermelho de uma esquina da José de Alencar, perto do Olímpico. Aconteceu dias atrás, num desses dias azuis e ..."

UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra)



Vi o que vi debaixo do sinal vermelho de uma esquina da José de Alencar, perto do Olímpico. Aconteceu dias atrás, num desses dias azuis e amarelos de quase verão. Fazia uma tarde amena de sol, por isso estava com os vidros abertos, o que é raro. O sinal demorava a trocar. Lancei um olhar distraído por cima do ombro direito. O olhar espreguiçou-se para o mundo exterior e esbarrou no carro ao lado.
Então a vi.
Ela também mantinha os vidros abaixados. Havia apoiado o cotovelo na janela e a concha da mão cobria a orelha. Dentro da mão, um celular. Ela não falava; ouvia. E chorava.
A face esquerda do rosto reluzia das lágrimas que lhe caíam do canto do olho.
Fiquei chocado. Porque não havia lógica na cena. Não era uma jovem que chorava, mas uma senhora em idade madura, 60 anos, talvez. Fosse uma garota, seria mais verossímil. Uma garota chora se é rejeitada pelo namorado, ou se briga com o pai, ou se discute com uma amiga.
Uma mulher feita, em geral, já chorou o pranto que lhe cabia. Ela fica triste, ela fica amargurada ou fica até depressiva, mas é incomum que chore em campo aberto, acessível aos olhares que partem dos carros ao lado.
Só que ela chorava ali, sob o sinal.
Observei-a sem pudor, certo de que não havia reparado em mim. Desliguei o rádio do carro e apurei o ouvido. Por algum motivo, precisava de uma pista sobre com quem ela falava. O sinal ficou verde. Ela se aprumou no banco e engatou a primeira marcha. Ia-se embora, mas, antes de arrancar, balbuciou uma frase, a única que consegui captar:
– Está bem, meu filho...
E se foi, ziguezagueando pela floresta de lata do trânsito.
“Está bem, meu filho.” O filho a magoara, a ponto de ela chorar na rua. Lembrei de Maomé, o Profeta, que ensinou: “O paraíso está ao pé da mãe”. Lembrei de Freud, que disse não existir nenhum sentimento tão poderoso, tão incondicional, tão desprovido de agressividade como o da mãe pelo filho homem. E o filho homem reconhece esse sentimento, e esse sentimento se transforma na sua referência emocional sobre a Terra. Não é por acaso que os soldados feridos de morte, desamparados no campo de batalha, gritam pela mãe. Homens adultos clamando pela mãe feito meninos no escuro do quarto.
Também não foi por acaso que, dias atrás, um filho pediu que a mãe o ajudasse a ocultar o cadáver de uma moça que ele havia assassinado, e a mãe o atendeu.
Constatei eu mesmo a força desse sentimento nas vezes em que fui fazer palestras na Fase. Os meninos delinquentes lá recolhidos, meninos bandidos, muitos deles perigosos, eles, quando tentam se tornar pessoas melhores, o fazem pensando na mãe. A mãe faz com que se importem consigo mesmos. Porque é assim: você só quer ser melhor do que é por causa do amor dos outros.
Aquela mãe que chorava sob o semáforo, ela parecia ser esse tipo de mãe amorosa, que é capaz de morrer pelo filho. Por que, então, ele a fizera chorar? Poucas coisas são mais tristes para um filho do que causar desgosto a sua mãe.
Fiquei triste por aquela mulher que chorava e pelo filho que motivara o choro. No futuro, tenho certeza, ele vai lamentar aquele diálogo via celular. Gostaria de poder fazer algo a respeito. Bem... fiz. Liguei para a minha mãe.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: Tudo que desejo neste Natal!

Devaneios etcétera e tal...: Tudo que desejo neste Natal!: "Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entend..."

Tudo que desejo neste Natal!


Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante. Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação. Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom. Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento. Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter !

da mãe




Fonte Revista VEJA 12 de maio de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VIVER DÓI.






Detesto quando escuto aquela conversa: "Ah,terminei o namoro..."
"Nossa,quanto tempo?"
"Cinco anos...Mas não deu certo...acabou"
É, não deu...'
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Hoje , no alto dos meus 63 anos e maduro, não acredito muito que os "opostos se atraem".
Porque sempre uma parte vai ceder muito e se adaptar demais. E sempre esta é a parte mais insatisfeita.
Acredito mais em quem tem intereses em comum. Se você adora dançar, melhor namorar quem também gosta, se você gosta de cultura italiana, melhor alguém que também goste.
Frequentar lugares que você gosta ajuda a encontrar pessoas com interesses parecidos com os teus.
A extrovertida e o caretão anti social é complicado e depois, entra naquela questão de" um querer mudar o outro, ui..". Pessoas mudam quando querem. E porque querem. E pronto. E demora!

Cama é essencial!
Aliás pele é fundamental. E tem gente que é mais sexual, outras que são mais tranquilas. O garanhão insaciável e donzela sensível, acho meio estranho. Isto causa muitas frustrações! E dá-lhe livros de auto ajuda sobre sexo. Assim como outras coisas, cada um tem um perfil sexual. Cheiro , fantasias, beijo, manias, quanto mais sintonia, melhor.

Não acredito em pessoas que se complementam.
Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ela é carinhosa , mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso , mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...
e se o beijo bate, se joga...senão bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta!

Se ele ou ela não te quer mais, não forçe a barra.
O outro tem o direito de não te querer.Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.O ser humano não é absoluto.Ele titubeia, tem dúvidas e medos.
Mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem , gravidez, dinheiro, pressão de família?O legal é alguém que está com você por você. E vice versa.
Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte.
Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.E nem sempre as coisas saem como você quer...A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar.Ou se culpar.

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil? (desconheço a autoria)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quando eu me aposentar....

O cara se aposentou e foi mesmo morar na praia.
Mês a mês manda notícias contando sua nova vida para o filho.·
Janeiro: Estimado filho, tenho a lhe comunicar boas novas: me aposentei e agora vamos morar na praia. Vendemos nossa casa. Em março estaremos de mudança para o litoral. Lembra quando eu falava prá tua mãe? Quando me aposentar vou morar na praia! Ela duvidava. Beijo da mãe, benção do pai.
Fevereiro :Estimado, fechei negócio: terceiro andar, quatro por andar, nosso apartamento é de frente para o mar. São duas suites e mais um quarto, área de serviço, dependência de empregada. Uma sala em L e, o melhor de tudo, uma deslumbrante sacada com churrasqueira. A vista praquele marzão é pornográfica. Sua mãe achou a sala acanhada para os padrões dela. Mas apartamento de praia é assim mesmo e a manutenção fica mais barata. Beijo da mãe, benção do pai
Março :Estimado, já estamos morando na praia! O clima é um paraíso aqui na terra. Espetáculo. Não chove, faz um calorzinho do bom. Mesmo assim, providenciei o que faltava: o ar condicionado da nossa suite. Só não instalei porque procuro alguém para fazer o serviço mais em conta. Aqui tudo custa o olho da cara. De resto, tudo nos conformes. Até fizemos uma agenda para nossas atividades diárias. 8h00: despertar.8h30: lauto café da manhã. 9h30: caminhada de uma hora na praia para respirar o ar puro e aproveitar o sol da manhã.10h30: super mercado e tarefas externas. 11h30: sua mãe vai para a cozinha. 13h:00: o delicioso almoço da mamma. 14h30: soneca. 16h00: café da tarde. 17h00: leitura do jornal e revistas. 18h00: caminhada na orla para apreciar o por do sol.20h30: lanche e telejornal. 21h00: novela. 22h00: jogo de cartas. 23h00: prá caminha, que ninguém é de ferro. Que Tal, filhão? Beijo da mãe, benção do pai.
Abril: Estimado, já travamos amizade com os vizinhos do prédio. Temos gaúchos, paulistas, catarinas, paraguaios e argentinos. Só gente boa. Novidades: já estou até tomando chimarrão e fui convidado para participar do aperitivo diário no barzinho dos aposentados. Mudamos um pouquinho a rotina. Das 11h30 às 12h30 faço aperitivo. Tua mãe não gostou muito, mas ela precisa entender que precisamos ter uma vida social. Outra coisa: sabe a deslumbrante sacada? Mandamos envidraçar. A ventania é tanta que ela já estava inútil. Tua mãe não se agradou, acha que é mais vidro prá lavar. Beijo da mãe, benção do Pai.
Maio :Estimado, tua mãe está bem nervosa, acha que precisamos arrumar alguma Coisa prá fazer. De minha parte estou de agenda cheia. No meio da tarde jogo bocha com a turma do barzinho dos aposentados e depois fico para a happy hour. Tua mãe também não gostou muito. Beijo da mãe, benção do pai.
Junho: Acabo de comprar um pequeno barco inflável pra pescar. Só me falta companheiro de pescaria. Tua mãe não ficou muito satisfeita e agora inventou de colorir estátuas de gesso. Ela pintou algumas estátuas de Santa Edwiges e está vendendo bem, na feirinha. Um dos quartos virou oficina e o cheiro de tinta está insuportável. De resto, mudamos um pouco a rotina: estamos passando as tardes nas casas de bingo. Beijo da mãe, benção do pai.
Julho :Estimado, o vento Sul aqui é de lascar e ainda não consegui botar o barco na água. Desde o início de junho não estamos mais caminhando na praia. Parece que a maresia enferruja os ossos, de tanto frio. Só saio de casa para o aperitivo do almoço e pra happy hour no barzinho dos aposentados. O médico mandou parar com os aperitivos. Tua mãe também acha que estou muito barrigudo. Beijo da mãe, benção do pai.
Agosto : Estimado filho, orgulha-te: eu fui eleito síndico do prédio! Por unanimidade! Tua mãe acha que o mês não foi propício para aceitar a incumbência. Ela diz que agosto atrai coisa ruim. Amanhã temos uma reunião de condomínio pra decidir a nova pintura da fachada do edifício, manutenção De dois elevadores, reforço nas fundações e reforma de todo o sistema hidráulico e elétrico. Beijo da mãe, benção do pai.
Setembro :Estimado, o feriadão da Semana da Pátria foi um inferno. Invadiram nossa praia. Bem na frente do prédio, toneladas de som e cerveja. Só conseguimos dormir depois das duas da manhã. A vizinhança diz que isso foi coisa pouca, na temporada todos dormem quando o dia amanhece. Tua mãe está nervosa e eu não estou com bons pressentimentos. Beijo da mãe, benção do pai.
 Outubro: Estimado, o tempo está esquentando: nos fins de semana já não dormimos em paz, o movimento no balneário começou a subir e os preços também. Sábado faltou luz, domingo faltou água. Amanhã tem reunião de condomínio para comprar um gerador e furar um poço artesiano. Sobrou prá mim. Vendi o barco inflável que nunca usei. Tua mãe não se conforma com a minha barriga e agora não sai mais de casa, nem para vender as estátuas de Santa Edwiges. Beijo da mãe, benção do pai Novembro: Estimado, eu não sei o que está acontecendo. Os vizinhos gaúchos, paulistas e catarinas já botaram os apartamentos pra alugar e vão voltar pra suas origens, em dezembro. Os argentinos e paraguaios vão ficar. Mas os portenhos não tem onde cair mortos e os paraguaios, correm boatos, são uma gente exilada por corrupção ou coisa que o valha. Tua mãe continua inconformada com a minha barriga e jogou pela janela todo o estoque de estátuas de gesso. Beijo da mãe, benção do pai.
 Dezembro: Estimado filho, aqui me tens de regresso. Tua mãe venceu. Beijo da mãe, benção do pai.


(Texto de Dante Mendonça, do Jornal Estado do Paraná, edição de 30/01/2004)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

VIVER DESPENTEADA...




Hoje aprendi que é preciso deixar que a vida te despenteie,por isso decidi aproveitar a vida com mais intensidade. ..
O mundo é louco, definitivamente louco...
O que é gostoso, engorda. O que é lindo, custa caro.
O sol que ilumina o teu rosto enruga.
E o que é realmente bom dessa vida, despenteia.. .
- Fazer amor, despenteia.
- Rir às gargalhadas, despenteia.
- Viajar, voar, correr, entrar no mar, despenteia.
- Tirar a roupa, despenteia.
- Beijar à pessoa amada, despenteia.
- Brincar, despenteia.
- Cantar até ficar sem ar, despenteia.
- Dançar até duvidar se foi boa idéia colocar aqueles saltos gigantes essa noite, deixa seu cabelo irreconhecível. ..
Então, como sempre, cada vez que nos vejamos eu vou estar com o cabelo bagunçado..mas pode ter certeza que estarei passando pelo momento mais feliz da minha vida.
É a lei da vida: sempre vai estar mais despenteada a mulher que decide ir no primeiro carrinho da montanha russa, que aquela que decide não subir.
Pode ser que me sinta tentada a ser uma mulher impecável,toda arrumada por dentro e por fora.
O aviso de páginas amarelas deste mundo exige boa presença:
Arrume o cabelo, coloque, tire, compre, corra, emagreça,coma coisas saudáveis, caminhe direito, fique séria...e talvez deveria seguir as instruções, mas quando vão me dar a ordem de ser feliz?
Por acaso não se dão conta que para ficar bonita eu tenha que me sentir bonita...A pessoa mais bonita que posso ser!
O único, o que realmente importa é que ao me olhar no espelho, veja a mulher que devo ser.
Por isso, minha recomendação a todas as mulheres:
Entregue-se, coma coisas gostosas, beije, abrace,dance, apaixone-se, relaxe, viaje, pule, durma tarde, acorde cedo, corra, voe, cante, arrume-se para ficar linda, arrume-se para ficar confortável!
Admire a paisagem, aproveite,e acima de tudo, deixa a vida te despentear!
O pior que pode acontecer é que, rindo frente ao espelho, você precise se pentear de novo...

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nossos filhos não são nossos filhos...



"A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver " (Saramago)


Devemos criar os filhos para o mundo. Torná-los autônomos, libertos, até de nossas ordens. A partir de certa idade, só valem conselhos.
Especialistas ensinaram-nos a acreditar que só esta postura torna adulto aquele bebê que um dia levamos na barriga. E a maioria de nós pais acredita e tenta fazer isso. O que não nos impede de sofrer quando fazem escolhas diferentes daquelas que gostaríamos ou quando eles próprios sofrem pelas escolhas que recomendamos.
Então, filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado.
Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo! Então, de quem são nossos filhos? Eu acredito que são de Deus, mas com respeito aos ateus digamos que são deles próprios, donos de suas vidas, porém, um tempo precisaram ser dependentes dos pais para crescerem, biológica, sociológica, psicológica e emocionalmente.
E o meu sentimento, a minha dedicação, o meu investimento? Não deveriam retornar em sorrisos, orgulho, netos e amparo na velhice? Pensar assim é entender os filhos como nossos e eles, não se esqueçam, são do mundo!
Volto para casa ao fim do dia, início de férias, mais tempo para os fllhos, olho meus pequenos pimpolhos e penso como seria bom se não fossem apenas empréstimo! Mas é. Eles são do mundo. O problema é que meu coração já é deles.
Santo anjo do Senhor!
É a mais concreta realidade. Só resta a nós, mães e pais, rezar e aproveitar todos os momentos possíveis ao lado das nossas 'crias', que mesmo sendo 'emprestadas' são a maior parte de nós !!!

domingo, 21 de novembro de 2010

Dando outro final a chatice das histórias infantis.


Toda história de contos de fadas sempre acaba com aquele final previsível de “E Eles Viveram Felizes para Sempre”. Enfadados dessa rotina sem graça os protagonistas das histórias resolveram se rebelar e mudar essa situação dando um pouquinho mais de emoção em suas vidas.

Chapeuzinho vermelho, olhando melhor para o lobo, achou sua beleza exótica. Ambos deram cabo da vovozinha, passaram a mão na aposentadoria dela e foram passar umas longas férias no Caribe.
Cinderela, por conta de uma crise de joanete, não conseguiu experimentar o sapatinho de cristal. O príncipe, sem saber o que fazer, ficou ali, olhando para o sapatinho. Achou o modelito interessante. Pediu o outro pé para a Cinderela e foi trabalhar como transformista em uma boate gay.
Pinóquio percebeu a grande utilidade que tinha aquele seu nariz. Arrumou um emprego em um clube de mulheres e passava todas as noites dizendo para as  feias, gordas e cheias de celulite que elas eram umas princesas. E elas se deliciavam com aquele seu nariz.
Branca de Neve enjoou daquela corzinha pálida. Fez um bronzeamento artificial, tornou-se madrinha de bateria da escola de samba que formou junto com os sete anões e deixou que o príncipe se contentasse em comer só a maçã.
Os três porquinhos, de tanto construir novas casas perceberam que adquiriram um certo know-how!Formaram-se em engenharia e arquitetura, abriram uma construtora e contrataram o lobo para trabalhar no setor de demolição.
Rapunzel se deu conta o valor que tinham aqueles seus longos cabelos. Cortou suas tranças, vendeu para um instituto de mega hair e deixou que o pobre coitado do príncipe subisse até a torre pelas escadas.
Bela Adormecida, sentindo um bafo de onça ao ser beijada pelo príncipe, preferiu continuar dormindo e mandou o príncipe beijar o sapo.
João e Maria criaram uma dupla sertaneja e, juntamente com a Formiga e a Cigarra que também formara uma dupla, saíram em turnê pelo mundo com o show “Amigos”.
O outro João, aquele do pé de feijão, abriu sociedade com o gigante em uma barraca no CEASA para vender as sementes daqueles feijões mágicos e ficaram milionários.
Bem, não sei se eles foram “Felizes Para Sempre”, mas que a vida deles ficou bem mais interessante, ah, isso ficou!(Ma Antunes)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A pior prisão...

"O casamento pode ser uma prisão.E a maternidade, a pena máxima.
Um emprego que rende um gordo salário trancafia você, o impede de chutar o balde e arriscar novos vôos. O mesmo se pode dizer de um cargo de chefia.Tudo que lhe dá segurança ao mesmo tempo lhe escraviza.Viver sem laços igualmente pode nos reter.
Uma vida mundana, sem dependentes para sustentar, o céu como limite: prisão também.
Você se condena a passar o resto da vida sem experimentar a delícia de uma vida amorosa estável, o conforto de um endereço certo e a imortalidade alcançada através de um filho.
Se nem a estabilidade e a instabilidade nos tornam livres, aceitemos que poder escolher a própria prisão já é, em si, uma vitória.
Nós é que decidimos quando seremos capturados e para onde seremos levados.
É uma opção consciente"M.Medeiros



A partir do texto lindo da Martha Medeiros eu acredito que  pior prisão humana é aquela que está condicionada a mente. Vivemos cercados por conceitos e preconceitos, valores e regras, como se rotular fosse idéia original à disposição dos costumes e julgamentos. Libertar-se desse “vício” torna-se difícil tal como se conformar com uma velha roupa que não nos serve mais. O tempo passa e crescemos, mudamos ou simplesmente engordamos e, aquela roupa que outrora nos servia com perfeição, fica apertada, pequena e fora de moda. Esvaziar esse guarda-roupa e colocar de lado tudo o que não nos cabe mais, requer trabalho e desprendimento. Não reciclamos nossos hábitos se não pudermos inovar os pensamentos. Ficamos presos em paradigmas e somos levados aos veredictos como juízes soberanos da certeza absoluta.


A vida é mutável ou, senão, adaptável. Ela se renova a todo o instante e quanto mais ampliamos nossa visão, melhor enxergamos a necessidade das reformas. Despir-se do velho e aceitar o novo, rever velhos conceitos e ampliar os horizontes. Exercer a capacidade própria de avaliação, sem estar preso aos enfadados rótulos criados para avaliação e julgamentos.

O mundo não é feito exclusivamente para nossa comodidade. Ao contrário! Nós nos inserimos nele e toda e qualquer dificuldade que enfrentamos, boa parte, somos nós os grandes responsáveis. As pessoas não mudam porque assim desejamos! Elas também renovam o seu guarda-roupa. Assim como na moda, cada um adota o seu estilo e ele é próprio, personalizado. O que não podemos é ditar regras e combinações. Deixemos que cada um procure o seu “look” e aprendemos, desta forma, a conviver com a “roupagem” de cada pessoa. Cresçamos e deixamos o figurino antigo de lado.

A nossa mente escraviza quando ficamos ligados aos ideais preconcebidos. Esse labirinto que é a mente, muitas vezes nos aprisiona e, quanto mais buscamos saídas, mais nos perdemos. Se trilharmos os caminhos sempre percorridos, podemos estar nos aprisionando cada vez mais, portanto, busque alternativas, descubra novas formas de alcançar a sua saída. E essa saída está em olhar tudo de novo, de maneira nova, despretensiosa e mais flexível.

Mudar o mundo, não podemos! O que podemos é mudar a nossa forma de vê-lo e tentar melhorar a cada dia essa percepção das coisas mutáveis. Ficar despido diante disso tudo não é estar frágil e nem vulnerável. É estar ciente da humildade necessária para receber o novo. Não ficamos despidos por muito tempo, pois logo uma nova roupa nos veste e aí, o que temos que fazer, de tempo em tempo, é apenas renovar o guarda-roupa!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Homem gripado.


Você já morou com um homem? E algum dia ele teve uma gripe, com febre de 38º? Se você passou por isso sem perder o juízo, é sinal de uma grande paixão, pois não há nada mais insuportável nesta vida do que um homem doente em casa. Eles ficam na cama, querem atenção o tempo todo e ai de você se não estiver totalmente disponível quando ele chamar. São umas de vezes para dizer que está com frio ou calor, umas 15 para pedir o termômetro, umas 20 para saber se não seria melhor chamar o médico. E tudo isso num único dia.

Qualquer mulher com gripe vai ao cabeleireiro e a festas, mas eles precisam de atenção, proteção, de preferência com você deitada ao lado, pronta para se levantar 37 vezes por hora para cuidar do bem-estar deles. Que querem que você faça as vezes de companheira, escrava, enfermeira e mãe.
Mãe, o mais glorioso papel de uma mulher, sim, mas não mãe de um homem daquele tamanho que você conheceu com um copo de uísque na mão querendo te seduzir. Toda a solidariedade aos que amamos, mas um homem doente é extremamente espaçoso e, quanto menos grave a doença, pior.
Quando você sai do quarto, ele pergunta: “Aonde você vai?” Ora, uma mulher só sai do quarto para ir: sala, ao banheiro ou: cozinha, mas qualquer febrinha afeta o cérebro masculino, e na hora em que você atravessa a porta eles se sentem abandonados para sempre.
Homens doentes têm o costume de gemer: quando se viram na cama, quando se levantam para entrar naquele banho que você preparou com tanto carinho e até quando respiram. E, se depois de três dias ele se levantar para ir: sala, vai precisar de sua ajuda para atravessar o corredor (gemendo, claro), como se tivesse quebrado as duas pernas. Ah, esses homens.
Enquanto ele estiver doente, não se atreva a sair de casa nem para ir: banca de jornal nem para ir: padaria, dar uma volta e arejar a cabeça, nem para uma simples aula de ginástica. Com homem doente em casa, mulher tem que estar: disposição full time, dia e noite, e sem parar para piscar.
Quer ter um pouco de paz ? Fique de olhos fixos no relógio e de dez em de minutos – não, de oito em oito – pergunte como ele está se sentindo. Ponha a mão na testa para verificar a febre e afofe os travesseiros, que devem ser pelo menos quatro: os dois dele e os dois seus. E você vai dormir sem nenhum? Mas é claro. (Danuza Leão)

Melhor ser gordo do que magro!


Melhor ser gordo do que magro, disso não tenho dúvidas.

Veja o caso do Osmar, correspondente de Haroldo, que não responde nem corresponde. Sempre foi gordo e aos sessenta e cinco, possui uma gloriosa e feliz vida de gordo.
Jamais alguém chegou para ele e disse:
– Poxa, Osmar, como você engordou!
Nunca!
Porque os gordos já são gordos, portanto não engordam. Sua aparência é a mesma, não surpreende, não gera sobressaltos, não muda.
Já Haroldo é um caso diferente. Magro histórico, mal aprontou uma barriguinha, por volta dos quarenta, e começaram os comentários:
– Você viu o barrigão do Haroldo?
– O que há com esse rapaz que não se cuida?
– Cruzes, o Haroldo parece uma melancia!
Triste sina, a dos magros: eles engordam.
Não há magro que, por volta dos quarenta, não comece a engordar.
Até então ele comia de tudo, nunca se preocupou com regime, nunca se privou de bebidas, churrascos, massas, não precisava correr, caminhar, fazer exercícios torturantes, as palavras caloria e academia não têm significado algum, para o magro. Seu exercício físico era um futebolzinho leve, com amigos, nos sábados.
Subtamente ele faz quarenta e, como se tivesse sido vítima de um terrível sortilégio, uma maldição sobre ele lançada pela irmã malvada da mãe dele, uma bruxa na opinião do pai dele e, casualmente, sua madrinha, surge-lhe a barriga, arredondada, protuberante, a apertar-lhe as calças e abrir-lhe botões da camisa.
Ele não fez nada diferente, mas a barriga surge.
E, com ela, os comentários.
Magro que tem convicção e força de vontade, se preocupa.
E graças a essa preocupação, busca providências que, ao meu honesto sentir, serão causa determinante do aumento de sua gordura.
Vai ao nutricionista que, após a pesagem, medição e outras mumunhas, sentencia:
– Você, meu querido magro, para continuar magro tem que mudar seus hábitos.
Dita assim, com tal singeleza, o magro não se assusta. Afinal, mudar os hábitos não deve ser coisa muito difícil, dependendo dos hábitos.
Ele imagina que vai mudar a hora do banho, que terá de dormir só com um travesseiro ou, no máximo, parar de ler o jornal no banheiro. Fácil, fácil.
Porém, a nutricionista continua, com aterrorizante candura:
– A primeira coisa a fazer são os exercícios físicos. No mínimo uma hora de caminhada, três vezes por semana. Você pode caminhar no parque tal, na praça qual, você pode entrar numa academia e caminhar na esteira. Isso vai acelerar o teu metabolismo, magro, que diminui a partir dos quarenta.
Como assim, caminhar três vezes por semana? Pensa o magro, uma vestígio de pânico mudando o ritmo de sua respiração. Ela está querendo que eu enfie calção e tênis e saia à caminhar pela cidade? Ela deve estar louca, a que horas vou fazer uma coisa dessas, principalmente eu, que odeio caminhar?
– A melhor hora para a caminhada é bem cedinho, de manhã. Magro, o ideal é você iniciar a caminhada às sete. Pelas oito você está em casa, toma um banho e vai para o café da manhã, cujos ingredientes vou escrever aqui, nesta receita.
Sete da manhã? Ela quer que eu, às sete da manhã, esteja caminhando, de calção e tênis? A última vez que eu vi o dia, às sete da manhã, foi na volta da balada. Não, às sete da manhã nem pensar, às sete da manhã estou no melhor sono.
– Você pode, também, caminhar no fim da tarde, magro. Sai do trabalho e vai caminhar na praça. É uma delícia, principalmente no verão. Você vai adorar.
Decididamente, essa mulher não regula. Ela quer que eu vá caminhar de sapatos, terno e gravata? Ou ela pensa que eu vou em casa trocar de roupa? Com o trânsito desse jeito, até eu fazer isso já é noite fechada. Vai ver, ela quer que eu encerre o expediente às quatro da tarde. E aí, será que ela vai pagar as contas lá de casa?
– Não, magro, você pode trocar de roupa lá no seu trabalho.
Sei, sei. Trabalho num edifício onde trabalham quinhentas outras pessoas. Aí eu tenho que andar com uma sacola para lá e para cá. Termina o expediente, vou a banheiro, tiro a roupa que, do jeito que der, enfio na sacola, visto meus calções e tênis e assim trajado, entro no elevador lotado, percorro os caminhos do prédio, alvo dos olhares maliciosos das mulheres e de alguns rapazes...
– Agora, magro, vamos à alimentação. No café da manhã, meia xícara de chá sem açúcar e sem adoçante. Uma fatia, bem fininha, de ricota. Pode ser duas. Um lanche às dez, pode ser uma fruta, por exemplo, duas uvas, meia ameixa, maçã jamais! Pêra também não. No almoço, bastante salada, verdura à vontade, não coma verduras cozidas, meia colher de sopa de arroz ou de massa, e uma fatia de carne magra, bem fina. Não beba nada durante o almoço, no máximo água, sem gás. Como sobremesa você pode comer gelatina dietética, uma colher de sopa no máximo. E nada de cafezinho. O lanche da tarde pode ser um iogurte diet., tem vários sabores, é muito gostoso. No jantar, que não pode ser depois das sete, meio prato de salada verde, duas fatias de ricota e grãos, sabe grãos, magro? Soja essas coisas. Se estiver acordado às dez, faça um lanche, sugiro um rabanete sem sal. Pode variar, numa noite um rabanete, na outra uma fatia transparente de melão. Se você gostar, pode ser gelatina também, dietética, é claro. E mais uma coisa: o sal está abolido da sua vida e bebida alcoólica é uma sentença de morte.
O magro está paralisado. Todos os seus músculos contraídos, o coração parece o estouro da boiada e só consegue pensar numa coisa: meu mundo caiu!
A nutricionista, com sua perversa benevolência, conclui a consulta:
– Olha, magro, não precisa emagrecer com sofrimento. É só uma questão de disciplina. Por isso recomendo aos meus cliente que, num dia da semana, à escolha deles, comam uma bola de sorvete de abacaxi dietético, muito saboroso e, ainda por cima, faz bem aos intestinos.
Haroldo sai de lá com um aperto dramático no coração. A vida, tal como era neste planeta, nunca mais será a mesma.
Antes de entrar no carro, toma a decisão de seguir rigorosamente as instruções da nutricionista. E começa.
Dia seguinte, fim de expediente, entra no banheiro do escritório e farda-se com seus calões largos, camiseta e tênis. Calças, casaco, camisa, meia, cuecas, sapatos e gravata estão acondicionados, de jeito que deu, na sacola.
Sai para o corredor, olhando para os lados, um rubor furiosos nas faces. A primeira pessoa que encontra é Clarinha, a morena da expedição com quem, há algum tempo, tenta iniciar uma paquera.
Clarinha olha Haroldo, pernas finas, barriga redonda marcada pela camiseta e não se contêm:
– Nossa, doutor. Haroldo, o senhor deu uma boa engordada, hein?
Nos primeiros três dias ele cumpre religiosamente o tratamento e, a partir do quarto, ingressa definitivamente na estrada sem retorno do engorde.
Abandona o regime e as caminhadas e finge que nada está acontecendo.
Os anos mostrarão que, sejam quais forem as tentativas futuras, ele nunca mais terá o mesmo peso e o mesmo corpo que tinha antes dos quarenta.
Haroldo, o magro, vai compreender o significado ilimitado da expressão ‘passar privações’.
Os gordos não. (Paulo Wainberg)

sábado, 13 de novembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: O amor (Gabriel Garcia Márquez)

Devaneios etcétera e tal...: O amor (Gabriel Garcia Márquez): "O amor são negócios. São ações, investimentos, onipresença desejadamas impossível. O amor é gripe. Conhecemo-lo por inteiro, sabemos de s..."

O amor (Gabriel Garcia Márquez)




O amor são negócios. São ações, investimentos, onipresença desejadamas impossível. O amor é gripe. Conhecemo-lo por inteiro, sabemos de seus caminhos, mas sempre adoecemos. O amor é ainda pior que a gripe, porque nele nós insistimos. Seria talvez mais sensato ter gripe que amar. O amor é curto e bruto. Soca tudo para dentro de seu tamanho, e lá dentro é tão pequeno. Como não sair machucado de limites tão estreitos? O amor tem cheiro, ninguém ama o que fede. O amor é cheio de frescuras. Quer flores e quer ser entendido. Há gente que acha que amor são dois cubos lado a lado. Há quem ache que são engrenagens justapostas. Há quem não saiba o que fazerdo próprio amor,e há os que não o conheceme nem por isso morrem. Somos todos tão esquisitos. Amamos e morremos de medo, ou então amamos e temos mil coragens,ou então estamos sempre a um pezinho só do amor e olhamos para os lados, perguntando: "Ninguém vai fazer nada? Ninguém vai me dar uma mão com isto aqui?" O amor vive dizendo: "se vira". O amor nem sempre pára na rua pra nos cumprimentar. Às vezes chegamos esbaforidos num lugar, e ele acabou de sair. O lugar onde se sentou ainda está quente, a marca de sua bunda, em forma de coração, ainda é visível, mas estamos atrasados. Noutras vezes, chegamos cedo demais, e nos enchemos e vamos embora antes que ele apareça - se é que aparece. Às vezes nos apaixonamos pela idéia que fazemos do outro. E o amor reconhece sua firma, e diz que é legítimo e autenticado - penas talvez seja breve. Às vezes o amor é tão curto que dá a aparência de engano. Culpamos o amor por tudo. Às vezes o amor vem vestido de fome, de falta; às vezes nem dá nome na porta, entra quieto, tira os sapatos, olha pros lados,e voilá! estamos ferrados. E às vezes o amor vem todo pintado, fazendo escândalo e bebendo muito, subindo nas mesas, dançando, piscando para tudo e para todos, soltando baforadas safadas, borrando o batom. Às vezes vem como chuva, penetra nossa pinturae nos molha os olhos ou enche nossa barriga de formigas. O amor nos deixa ansiosos, dependentes do relógio, donos dos meses sem fim entre desgostos mais ou menos óbvios. Nunca acordei amando, mas já fui dormir assim muitas vezes. Nunca perdi a fome, mas já cansei de perder o sono. Nunca recuperei nada. Já olhei muitas manhãs com cara de última, já desci muitas ruas que tinham ar de fim da linha, já me senti vezes sem conta irmão das poças. Já bebi muitas auroras em companhias mortas. Já fui expert em cinzas. E o amor vive comigo. Tenho dois corações: um é meu, com licença, que alguém tem que ser constante a meu lado; o outro tem donos variados. O amor o aluga a gente esquisita, a uns fodidos, mal-amados; mas também o loca a gente maldita, que é bela, bonita e boa, que me faz rir e achar bom não ser mais dono do que penso - essa gente que me mata em cada ponto final que resolve inventar.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Como se fosse o último-Ana Jácomo



Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. O último para dizer “obrigada”. O último para dizer “me desculpa”. O último para dizer “eu te amo”. O último para abraçar cada pessoa amada com aquele abraço bom que faz um coração cantar para o outro. O último para apreciar a vida com o entusiasmo que não guarda nenhuma delícia nem ternura pra depois. O último para fazer as pazes. Para desfazer enganos. Para saborear com calma, como se me servissem um banquete, a preciosidade genuína que cada único respiro humano representa.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. O último pra esquecer tolices. O último para ignorar o que, no fim das contas, não tem a menor importância. O último para rir até o coração dançar. O último para chorar toda dor que não transbordou e virou nódoa no tecido da vida. O último para aprontar todas as artes que a emoção quiser. O último para ser útil em toda circunstância que me for possível. O último para não deixar o tempo escoar inutilmente entre os dedos das horas.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. O último para me maravilhar diante de cada expressão da natureza com o olhar demorado de quem olha pela primeira vez. O último para ouvir aquela música que acende sóis por toda a extensão da minha alma. O último para ler, de novo, o poema que diz tanto de mim que eu me sinto caber nos olhos do poeta que o escreveu. O último para desembaraçar os fios emaranhados dos medos que me acompanham.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. Eu não perderia uma chance para me presentear com os agrados que me nutrem. Eu criaria mais oportunidades para dizer o meu amor. Para expressar a minha admiração. Para destacar para cada pessoa a beleza singular que ela tem. Para compartilhar. Eu não adiaria delicadezas. Não pouparia compreensão. Não desperdiçaria energia com perigos imaginários e com uma série de bobagens que só me afastam da vida.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último, porque pode ser.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

SER CHIQUE SEMPRE




Nunca o termo "chique" foi tão usado para qualificar pessoas como nos dias de hoje.
A verdade é que ninguém é chique por decreto. E algumas boas coisas da vida, infelizmente, não estão à venda. Elegância é uma delas.
Assim, para ser chique é preciso muito mais que um guarda-roupa ou closet recheado de grifes famosas e importadas. Muito mais que um belo carro Italiano.
O que faz uma pessoa chique, não é o que essa pessoa tem, mas a forma como ela se comporta perante a vida.
Chique mesmo é quem fala baixo.
Quem não procura chamar atenção com suas risadas muito altas,nem por seus imensos decotes e nem precisa contar vantagens,mesmo quando estas são verdadeiras.
Chique é atrair, mesmo sem querer, todos os olhares, porque se tem brilho próprio.
Chique mesmo é ser discreto, não fazer perguntas ou insinuações inoportunas,nem procurar saber o que não é da sua conta.
Chique mesmo é parar na faixa de pedestre.
É evitar se deixar levar pela mania nacional de jogar lixo na rua.
Chique mesmo é dar bom dia ao porteiro do seu prédio e às pessoas que estão no elevador.
É lembrar do aniversário dos amigos.
Chique mesmo é não se exceder jamais!
Nem na bebida, nem na comida, nem na maneira de se vestir.
Chique mesmo é olhar nos olhos do seu interlocutor.
É "desligar o radar" quando estiverem sentados à mesa do restaurante, e prestar verdadeira atenção a sua companhia.
Chique mesmo é honrar a sua palavra, ser grato a quem o ajuda,correto com quem você se relaciona e honesto nos seus negócios..
Chique mesmo é não fazer a menor questão de aparecer, ainda que você seja o homenageado da noite!
Mas para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de o quão breve é a vida e de que, ao final e ao cabo, vamos todos retornar ao mesmo lugar, na mesma forma de energia.
Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não te faça bem.
Lembre-se: o diabo parece chique, mas o inferno não tem qualquer glamour!
Porque, no final das contas, chique mesmo é ser feliz! (Glória Kalil)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: FINADOS.

Devaneios etcétera e tal...: FINADOS.: "Hoje é dia dos mortos e eu penso nos vivos. Naqueles que nunca aparecem para quem os espera. Porque a morte é considerada somente a “fal..."

FINADOS.



Hoje é dia dos mortos e eu penso nos vivos. Naqueles que nunca aparecem para quem os espera.

Porque a morte é considerada somente a “falta dos sinais vitais” se tantas pessoas vivem como se mortas fossem?

Nos asilos, pais esperam incansavelmente pelo retorno dos filhos que lhes colocaram lá e nunca mais voltaram.

Sem falar nas crianças que logo após seu nascimento o pai ou a mãe já se fizeram mortos em suas vidas.

E os animais comprados no Natal para servir de presente de pelúcia às crianças durante o verão e que depois das férias são descartados em uma estrada qualquer até morrerem de sede ou fome?

Ah o deserto da falta. Terra árida.Moradia de gente seca por dentro.

Dedico este dia de finados a estas pessoas mortas de sentimentos, que podendo oferecer algo de si não o fazem, que tendo a chance de amar desconhecem o verbo, que perdem o abraço apertado, o beijo com sabor, e que colocam nesta ausência de gestos a pá de cal que faltava para dizer:aqui jaz!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AS PERDAS NOSSAS DE CADA DIA.


Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido.

Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos.

Começamos a vida em perda e nela continuamos.

Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.

Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar Por quê? Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás. Estamos crescendo.

Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer... Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos, mesmo quando algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres. Receamos dar risadas escandalosamente e evitamos assuntos constrangedores. Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos.

E vamos adolescendo, ganhamos peso, ganhamos altura, ganhamos o mundo. Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos. Ah! os sonhos!!!

Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo. Aí, de repente, caímos na real!

Estamos amadurecendo, todos nos admiram. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo. E continuamos amadurecendo, ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma. E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalços, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar “pum” sem querer. Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de todos.

Ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade. E assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos. De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso e perdemos cabelos. Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir, perdemos a esperança. Estamos envelhecendo. Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo.

Compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede. Que a gente cresça e não envelheça simplesmente.

Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie. Que tenhamos rugas e boas lembranças. Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia. Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos. E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados.

Afinal, o que é o tempo?

Não é nada em relação a nossa grande missão. E que missão! Que missão?

A que você acaba de decidir tomar nas mãos!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

FAMILIA 21

Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

– Moça, vocês tem pen drive?
– Temos, sim.
– O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.
– Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
– Ah, como um disquete...
– Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
– Ah, tá. bom, vou querer.
– Quantos gigas?
– Hein– De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?
– O que é gigas?
– É o tamanho do pen.
– Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem fazer muito volume.
– Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
– Ah, tá. E quantos tamanhos tem?
– Dois, quatro, oito e até dez gigas.
– hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.
– Neste caso, o melhor é levar o maior.
– Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
– Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB?
– Como?
– É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
– USB não é a potência do ar condicionado?
– Não, aquilo é BTU.
– Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.
– USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
– Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né?
– Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
– Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
– Os de hoje nem tem mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.
– Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
– Quem sabe o senhor liga para ele?
– Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.
– Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone, este é bom mesmo, tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.
– Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?
– Não senhor, assim o senhor me faz rir, é que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.
– E Bluetooth?, estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.
– O senhor sabe para que serve?
– É claro que não.
– É para comunicar um celular com outro, sem fio.
– Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
– Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.
– Ah, e antes precisava fio?
– Não, tinha que trocar o chip.
– Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
– Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
– Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
– Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
– E faço o quê, com o chip?
– Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.
– Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
– Nãão, é tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.
Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:
– Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Isso, nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.
– Que idade tem seu filho?
– Vai fazer dez em março.
– Que gracinha...
– É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
– Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.
Máquina infernal, pensa.
Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofistificado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.
O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um roque infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.
Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
– Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.
– Teu celular tem entrada USB?
– É lógico. O teu também tem.
– É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?
– Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
– Sabe que eu tenho Bluetooth?
– Como é que é?
– Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?
– Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.
– Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?
– Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.
– E conexão USB também.
– Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.
– Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
– Ué? Por que?
– Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e, tudo o que sei já está superado.
– Falar nisso temos que trocar nossa televisão.
– Ué? A nossa estragou?
– Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, sloamotion e reset.
– Tudo isso?
– Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.
Quando estava quase pegando no sono, o filho entra no quarto e diz:
– Pai, me compra um Playstation vinte e sete?(Paulo Waiberg)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros

Devaneios etcétera e tal...: SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros: "Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo... Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e..."

SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros

Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo...
Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e namoramos; ele era meu amigo, mas não tinha paixão por mim.
Então percebi que precisava de um homem apaixonado, com vontade de viver, que se emocionasse...
Na faculdade saía com um cara apaixonado, mas era emocional demais.
Tudo era terrível, era o "rei dos problemas", chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se. Descobri então, que precisava de um rapaz estável.
Quando tinha 25 anos encontrei um homem bem estável, sabia o que queria da vida; mas era muito chato: queria sempre as mesmas coisas dormir no mesmo lado da cama, feira no sábado e cinema no domingo. Era totalmente previsível e nunca nada o excitava.
A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de um homem mais excitante.
Aos 30, encontrei um "tudo de bom", brilhante, bonito, falante e excitante, mas não consegui acompanhá-lo.
Ele ia de um lado para o outro, sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas, paquerava qualquer uma e me fez sentir tão miserável, quanto feliz.
No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.
Decidi buscar um homem com alguma ambição para com ele construir uma vida segura.
Procurei bastante, incansavelmente...
Quando cheguei aos 35, encontrei um homem inteligente, ambicioso e com os pés no chão. Apartamento próprio, casa na praia, carro importado... Solteiro e sem rolos!
Pensei logo em casar com ele. Mas era tão ambicioso que me trocou por uma herdeira rica...
Hoje, depois de tudo isso, gosto de homens com pinto duro...
E só! Nada como a simplicidade...

domingo, 24 de outubro de 2010

DESTRALHE-SE




"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente"

-"Bom dia, como tá a alegria"?, diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
-"Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver, oito ajudam a nos manter vivos, 12 fazem a vida prosperar".
Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada".
Já ouviu falar em toxinas da casa?
Pois são objetos e roupas que você não gosta ou não usa, coisas feias ou quebradas, velhas cartas, plantas mortas ou doentes, recibos, jornais e revistas antigos, remédios vencidos, meias e sapatos estragados...
Ufa, que peso!
"O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca.
- "Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa"!, ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa.
O 'destralhamento' é uma das formas mais rápidas de transformar a vida e pode muito bem ajudar outras terapias.
"A saúde melhora, a criatividade cresce e os relacionamentos se aprimoram", também ensina o feng shui, com a delicadeza própria das artes orientais.
Para o feng shui, é comum se sentir cansado, deprimido ou desanimado em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis nos ligando àquilo que possuímos".
Outros possíveis efeitos do acúmulo e da bagunça: sentir-se desorganizado, fracassado e limitado, aumento de peso, apego ao passado...
"No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga; na entrada, restringem o fluxo da vida; empilhadas no chão, nos puxam para baixo; acima, são dores de cabeça; sob a cama, poluem o sono".
Então... Se dona Francisca falou e o feng shui concordou, nada de moleza!
-"Oito horas para trabalhar, oito para descansar, oito para se cuidar!", diz a comadre.
-E nada de limpar só por onde o padre passa...
Perguntinhas úteis na hora de liberar os armários:
Por que estou guardando isso?
Será que tem a ver comigo hoje?
O que vou sentir ao liberar?
E vá fazendo pilhas separadas de doar, vender e jogar fora.
Depois de destralhar, jogue sal grosso nos ralos.
Ponha um prato com carvão no quarto (tira os cheiros e as energias ruins).
Deixe um ramo de boldo em um copo d'água para purificar.
Passou de bom!
Para destralhar mais, livre-se de barulhos e luzes fortes, cores berrantes, odores químicos, revestimentos sintéticos, libere mágoas, pare de fumar, diminua o uso da carne, termine projetos inacabados.
"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará.
Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé.
"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental.
O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.
Dona Francisca me conta que "as frutas nascem azedas e, no pé, vão ficando docinhas com o tempo".
-A gente deveria de ser assim, ela diz.
-"Destralhar ajuda a adocicar." (Claudio Solano)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

FAXINA NOS MITOS! Lya Luft


"Boa parte de nossa infelicidade nasce do fato de vivermos rodeados por mitos.Deixemos que aflorem e construíremos em cima deles a nossa desgraça"

Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos belos, grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos mitinhos bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando precipícios com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou deixamos que aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça.
Por exemplo, o mito da mãe-mártir. Primeiro engano: nem toda mulher nasce para ser mãe, e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes, aliás. Cuidado com a mãe sacrificial, a grande vítima, aquela que desnecessariamente deixa de comer ou come restos dos pratos dos filhos, ou, ainda, que acorda às 2 da manhã para fritar (cheia de rancor) um bife para o filho marmanjo que chega em casa vindo da farra. Cuidado com a mãe atarefada que nunca pára, sempre arrumando, dobrando roupas, escarafunchando armários e bolsos alheios sob o pretexto de limpar, a mãe que controla e persegue como se fosse cuidar, não importa a idade das crias. Essa mãe certamente há de cobrar com gestos, palavras, suspiros ou silêncios cada migalhinha de gentileza. Eu, que me sacrifiquei por você, agora sou abandonada, relegada, esquecida? E por aí vai...
Ou o mito do bom velhinho: nem todo velho é bom só por ser velho. Ao contrário, se não acumularmos bom humor, autocrítica, certa generosidade e cultivo de afetos vários, seremos velhos rabugentos que afastam família e amigos. Nem sempre o velho ou velha estão isolados porque os filhos não prestam ou a vida foi injusta. Muitas vezes se tornam tão ressequidos de alma, tão ralos de emoções, tão pobres de generosidade e alegria que espalham ao seu redor uma atmosfera gélida, a espantar os outros.
E o mito do homem fortão, obrigado a ser poderoso, competente, eterno provedor, quando esconde como todos nós um coração carente, uma solidão fria, a necessidade de companhia, de colo e de abraço – quando é, enfim, apenas um pobre mortal.
Falemos ainda no mito da esposa perfeita, aquela da qual alguns homens, enquanto pulam valentemente a cerca, dizem: "Minha mulher é uma santa". Sinto muito, mas nem todas são. Eu até diria que, mais vezes do que sonhamos, somos umas chatas. Sempre reclamando, cobrando, controlando, não querendo intimidades, ocupadas em limpar, cozinhar, comandar, irritar, na crença vã de que boa mulher é a que mantém a casa limpa e a roupa passada. Seria bem mais humano ter braços abertos, coração cálido, compreensão, interesse e ternura.
O mito de que a juventude é a glória demora a ruir, mas deveria. Pois jovem se deprime, se mata, adoece, sofre de perdas, angustia-se com o mercado de trabalho, as exigências familiares, a pressão social, as incertezas da própria idade. A juventude – esquecemos isso tantas vezes – é transformação por vezes difícil, com horizontes nublados e paulatina queda de ilusões. É fragilidade diante de modelos impossíveis que nos são apresentados clara ou subliminarmente o tempo todo.
Enfim, a lista seria longa, mas, se a gente começar a desmitificar algumas dessas imagens internalizadas, começaremos a ser mais sensatamente felizes. Ou, dizendo melhor: capazes de alegria com aquilo que temos e com o que podemos fazer numa vida produtiva, porque real.