domingo, 12 de setembro de 2010

OS ABOBADOS DA ENCHENTE!( by Afif Simões Neto)


Li ontem em Zero Hora esta crônica e procurei seu autor no Google.Eis que ele pertencia ao Face e logo neste mundinho virtual consegui localizá-lo.Eis  o texto que achei irônico e certeiro a todos "abobados da enchente", mesmo aos que não se consideram.



Ouvi o dito popular há muitos anos atrás, mas nunca tinha me interessado na averiguação da sua origem. Agora descobri, lendo as reminiscências do Dr. Sérgio da Costa Franco. Nas "Memórias de Um Escritor de Província", aquele notável historiador, ao comentar a grande enchente de outono de 1941, em Porto Alegre, fala do desamparo das vítimas da calamidade, gerando nelas tamanho assombro que fez nascer na cidade a expressão o abobado da enchente.
As pessoas ficavam dias e dias fora de casa, com a perda de quase todos os pertences. Dos lugares mais altos, livres da inundação, olhavam sem esperança as águas subirem cada vez mais, num estado de estupefação que se confundia com a debilidade mental. Explica o escritor que, por muito tempo, qualquer palermice que se cometesse era explicada com crueldade: "Coitado, ele é abobado da enchente!Pois o movimento de subida da maré daquele outono antigo apateta gente até hoje, deixando-as ao desabrigo da bestialidade:

Abobado da enchente é quem passa pela vida preocupado unicamente em acumular dinheiro, como se, ao morrer, pudesse levar nos beirais da mortalha o que guardou na caderneta de poupança.

Abobado da enchente é quem larga mulher e filhos para se juntar com uma guria bem novinha, que quando diz "eu te amo tanto, meu velho" não olha para os olhos, mas para o extrato bancário do trouxa.

Abobado da enchente é quem entra na política pensando em se acomodar no dinheiro público. Quem saqueia o povo faz para si um mal tão grande que nem o próprio povo deseja.

Abobado da enchente é todo aquele que, ao invés de consultar um médico para saber o que pode ser aquela dor aguda, vai atrás do afamado curandeiro recém chegado na cidade.

Abobados da enchente são todos os que futilizam a vida, como se ela fosse um liquidificador a produzir o mesmo caldo insosso na próxima manhã amarelada.

Abobado da enchente é aquele que não acredita no sonho da transformação. Aquele que já não guarda mais nem uma parte de si mesmo para renovar-se na utopia.

O abobado da enchente é quem acha que são os outros os únicos culpados pela sua permanente infelicidade. Se pesquisar junto ao espelho, encontrará fácil o exclusivo responsável.

Abobados da enchente são todas aquelas pessoas que jogam a saúde pela janela, em busca de patrimônio, e depois vendem tudo na tentativa de vencer a doença nascida daquela procura.

Abobado da enchente é quem se considera uma irremediável vítima da sociedade.

Abobado da enchente é principalmente aquele que acha que a viagem pelo mundo desconhecido não vale o cansaço.

O abobado da enchente tem a certeza de que vai durar perto de cem anos, e que, por isso, tem tempo de sobra para se incomodar com bobagem.

E o maior dos abobados fui eu, quando deixei de acreditar em Deus!

RESPOSTA AO MEU BLOG- NEI DUCLÓS

Prezado Nei.

"Estupefada" seria a palavra certa quando li tua critica ao filme  CLOSER que precisei ver várias vezes para encaixar as peças para entendê-lo.O aquário...quanta coisa a nos dizer e não me apercebi!
Nesta parte se resume tudo:
Mas eles cercam a verdade sem importância, como saber se foram traídos ou não, enquanto esquecem o principal: qual o verdadeiro nome da pessoa que é amada, por exemplo. O nome conta, pois significa a identidade perdida, a casca abandonada junto com o sofrimento.

Eis a critica, sem retoques, que agora colocou um ponto final nas minhas indagações.
Obrigado Nei!



O conteúdo de um aquário está exposto (aberto) e ao mesmo tempo fechado no seu próprio mundo. É a metáfora perfeita usada pelo filme Closer, de Mike Nichols (2004). Relacionamento amoroso é uma antiga especialidade do diretor, como podemos ver desde Carnal Knowledge (1971). Se no seu filme antigo (e tão terrivelmente moderno na época), o tédio e o vazio eram os motores da trama da troca de casais, neste é o desespero gerado pela situação limite: tudo está próximo demais, transparente, e ao mesmo tempo fechado, inacessível – fazendo jus assim ao título em inglês, que tem esse duplo sentido (closer é o que está perto e é aquele que fecha).
É por isso que o aquário, que tem exatamente essas características, é a metáfora maior do filme: tema do romance de Dan (Jude Law ), local de encontro entre Anna (Julia Roberts) e Larry (Clive Owen), o amor no aquário expõe a stripper Alice ( Natalie Portman), monitorada o tempo todo no clube onde trabalha. Não se pode tocá-la. A única ponte é o olhar e a fala, o roteiro de Patrick Marber, baseado em sua peça teatral
CARGA – Os diálogos assim formam uma criatura à parte, que usam os protagonistas para manter o ritmo da agonia de vidas que se aproximam e se afastam, se expondo o tempo todo. A saída para o impasse, pensam eles, é arrancar a verdade dos que amam ou pensam amar. Saber de tudo é uma espécie de compensação pela impossibilidade da convivência verdadeira. Mas eles cercam a verdade sem importância, como saber se foram traídos ou não, enquanto esquecem o principal: qual o verdadeiro nome da pessoa que é amada, por exemplo. O nome conta, pois significa a identidade perdida, a casca abandonada junto com o sofrimento.
Saber o nome verdadeiro significa carregar o ethos perdido, mas qual relacionamento hoje resistiria a essa carga. O ideal é escolher uma nova denominação, para que haja uma chance. O nome adotado é escolhido a esmo, no local onde se revela o amor, mas ele traz um estigma: o passado, que assombra o mundo prisioneiro no eterno presente.

VIDRO – O sinal está fechado para que as pessoas cumpram seus rituais viciados e burocrátioas, de indivíduos anulados no ritmo da massa. Romper o sinal, cruzar a rua sem rede de segurança, é confiar que alguém virá em seu socorro, ao seu encontro. Só assim, arriscando, é possível cruzar a parede do aquário e tocar na pessoa amada. É o que faz Jane/Alice: segue em frente, mesmo que haja impedimento para a busca de um novo amor. Ela sabe que não poderá encontrar nada se obedecer ao que está disposto num mundo oco, fundado na mentira.
Alice, que usa a representação até o fundo, pois se expõe no clube para sobreviver, atravessa a avenida no momento em que os carros se soltam e as pessoas estão paralisadas, para encontrar a sua verdade, usando o verdadeiro nome. Então quebra o vidro do aquário com seu passo decidido, que implica risco de vida.
CLASSES – O conflito do filme não releva as diferenças de classe social. O jornalista frustrado que tenta ser escritor vê na fotógrafa bem sucedida a porta de entrada de um mundo fora da escassez e dos limites da pouca remuneração. A fotógrafa pergunta para Alice se seu trabalho de garçonete é temporário, ou seja, se é alguém de uma classe social superior que está fazendo apenas um bico ou passando por uma experiência.
No fundo, a fotógrafa concorre com Alice numa disputa de poder baseada no privilégio. Enquanto seu trabalho é desmascarado por Alice na vernissage, ela cede à tentação de voltar para Dan: eis o momento em que a riqueza se curva diante dos menos favorecidos para tirar deles seu último bastião, a alma capaz de amar.

A IMPERMANENCIA!




A hora do encontro é também despedida a plataforma desta estação, é a vida.(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Em cada despedida existe a imagem da morte.(George Eliot)


Recebi hoje este email lindo!

Oi Martha


Os filmes que amas são os que tenho há muito no meu acervo.Temos o mesmo gosto.Amor nos tempos...uma maravilha.Gosto muito do teu jeito de ser/viver.As músicas de Ellis..."perdoem a falta de tempo...os dias andam assim." Não faço parte de nada,não quero...twitter,facebook...etceteras...Mas leio todos os dias o que tem de novo no teu blog .A mulher que escreve fascina porque é louca como necessariamente deve ser uma mulher fascinante. É facil apaixonar-se por uma das Marthas...Acho que deves te permitir um grande "acontecimento"...de preferência que envolva ruptura e abandono.Com escândalo seria perfeito. Tu és uma artista...talvez não saibas..."uma trágica"...Pola Negri...Garbo...Maísa...Clarice...Cecilia e por aí vai"... Faça sempre uso desta "qualidade", use como ferramenta na escrita, despudoradamente. Tambem pertenço a esta categoria, mas tenho pudores, medos mal resolvidos; por isso nunca "explodi"no meu trabalho. Eu não quero que me conheçam, estranho não???...Algo diz que devo ser sempre expectador...
Gosto muiiiiito de ti apesar do pouco contato, e quero muito que sejas feliz.Bjsss Luiz


Este e-mail, esta pilula anti oxidante da alma, pilula que não se compra em farmácia de nenhum país e nem se adquire com receitas de manipulação, porque palavras de carinho nunca serão compradas e tampouco manipuladas se o material em que se origina não puder ser adquirido do fundo da alma de quem o faz.

Gostaria de compartilhar com voces, não como um elogio que me promova, mas para aconselhar ou relembrar que hoje estamos aqui amanhã quem sabe...e que palavras simples e desprentesiosas como estas, num simples e-mail, que me deixaram emocionada e feliz deveriam ser ditas por nós mais amiúde a quem amamos ou queremos bem, enfim torná-las parte da nossa rotina.
Tenho uma amiga que perdeu sua única filha e no velório, ali onde a morte mostra que não escolhe quem levanta o dedo e quer ir deste mundo mas quem muitas vezes está feliz sem pensar nela, dizia entre lágrimas: nós havíamos discutido pouco antes desta tragédia!
Adiantava agora o lamento? a culpa pungente?
Então, longe de textos de auto ajuda, vamos nos despedir sempre com um beijo, um abraço apertado, com uma palavra de carinho, um afago, uma gargalhada gostosa, pois jamais saberemos se aquela não será a última vez que teremos oportunidade de olhar nos olhos daquele ser querido, nos estreitar nos seus braços, ouvir ou dizer algo que ilumine nosso dia ou o dia dela(e).

 Junto um texto sobre a nossa impermanencia.

A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo... ela não dura muito tempo. Só olhar o sol, sentir o perfume das flores ou respirar o ar puro já é uma alegria. Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango...que desperdício! Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros. Pense em tudo que se perdeu.
Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz? É verdade que não podemos, de fato, agarrar ou nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara. Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos.
Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas a nossa volta. Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais estaremos com a nossa tia-avó. Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?
Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser.
Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais. Não precisamos sair de casa nem dormir em uma cama de pedras. A prática espiritual não requer condições austeras.... apenas um bom coração e a maturidade de compreender a impermanência. Isso nos fará progredir.

Obrigado Luiz por tuas palavras que me fizeram tão bem.