quarta-feira, 25 de agosto de 2010

EU ME RENDO- POR DANUZA LEÃO


Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.
Uma das mentiras: é a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante.
É muito simples: não podemos.
Não podemos; quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante.
Aliás, nem a de companheira; quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?
Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.
Ah, quanta mentira!
Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não a que faz de conta que trabalha, mas a que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.
Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.
Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.
Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.
É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.
Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.
Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho; na luta contra o relógio o uniforme termina sendo preto ou bege, para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.
Mas tem as outras, com filhos já crescidos: essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.
E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver . Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.
Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.

Parabéns para quem consegue fingir tudo isso...

Analise, terapia, você já fez alguma vez?


Sou da opinião que para duas pessoas se relacionarem, ambas devem ter alguma experiência do assunto ou, então, é melhor que nenhuma das duas tenha jamais sentado naquela poltrona que parece cômoda a princípio mas que após alguns segundos não se acha nunca a posição mais confortável e a bunda não para de se mexer inquietantemente.
Sofá eu nunca deitei, ao menos para falar de mim. Deitei em um, relaxadamente, mas na casa de amigas ou na minha mesmo para falar de tudo e todos, menos de mim.
Sinceramente, se eu tivesse um cargo de ministra da Saúde- não do governo Lula, por favor- faria um projeto para que todos, sem distinção de cor, credo,partido político, todos os cidadãos brasileiros, tivessem a possibilidade, a chance, de tratarem a “cuca”, o que diminuiria, acredito eu, a incidência de tantos doentes que temos de agüentar...começando pelos do governo.
Se antes de casar, de se relacionar, de se ter filhos, as pessoas se tratassem, estaríamos evitando crianças problemáticas no futuro, pois sabemos que pais doentes vão gerar uma cadeia interminável de seus problemas não resolvidos acrescidos da maneira como a criança vai vivenciar e entender os mesmos.
Por outro lado, fico pensando que se todos tivessem acesso à terapia, o país ia ser invadido por uma onda, quase um arrastão de pessoas que iriam se considerar aptas a entender do assunto e ficar “palpitando” sobre o porquê do fulano ter subido no ônibus com a perna direita e não com a esquerda.
Um parênteses: me lembrei de um papo entre duas pessoas populares dentro de um ônibus quando passava a novela “Viver a Vida” sobre o esquizofrênico que hoje é italiano na novela das 21.00 horas.
Dizia uma:
-eu depois que vi o capitulo de ontem acho que meu filho é psicopata(tinha uma psicopata na novela chamada Ivone)
Ao que a outra respondeu:
- Mas é melhor ser psicopata que aproveita bem a vida e ainda não sente culpa, que um esquizofrênico.Viu como o menino sofre?
-Melhor é a mãe dele que fica fazendo massagem e passando cremes...
E o papo fluía como se as duas fossem catedráticas no assunto, isto com o pouco conhecimento que uma novela traz a população.
Pena que precisei descer antes da conclusão a que ambas chegaram.
Eu já fiz terapia varias vezes, mas análise, nunca.
Dizem que nesta última, primeiro destroem a gente para, após, reconstruir.Começamos lá do alicerce a ser edificadas novamente. Já pensaram?
Como sou prática e odeio processos demorados e na época estava repleta de dúvidas sobre separo ou não separo procurei meu primeiro psiquiatra.
Entrei lá com um problema e saí com uma meia dúzia deles.
O cara era mais doido que eu. Disse que eu não queria assumir ser mãe, encarar o fato, não ter cacife prá maternidade e que estava colocando no casamento a culpa de minha incapacidade.Saí de lá como uma ventania.Em apenas 45 minutos ele conseguiu produzir um tsunami em minha cabeça.Sei que até hoje este cara se trata com outro doido.
Me esqueci o nome dele. Freud explica!
Anos depois com os filhos criados, mas continuando casada (a culpa foi deste sujeito pseudo-entendedor da alma humana que conseguiu em minutos de uma única sessão me transformar de vítima em carrasca) fui tentar a segunda terapia. Agora queria uma mulher.
Era muito agradável, eu gostava dela. Só que eu falava de tudo, gastronomia, empregada, vinhos, menos do que me levara lá.
Coitada, nos 45 minutos do tempo marcado por aquele relógio maldito eu reclamava da empregada, do marido, dos filhos, que tinha engordado,que tinha emagrecido, brigado com a sogra, ido fazer ginástica e, de quebra, falar de algumas mágoas e ressentimentos. Eu não esperava nada daquele tratamento mas colocarr meus problemas para fora já me ajudava, tanto quanto serve a confissão para os católicos praticantes. Tempos depois já levava biscoitos e uma garrafa de chá para o encontro ficar mais agradável, porque no seco ninguém agüenta falar só de problemas.
Não sei como após anos tomando chá um dia criei coragem de me separar. Lembram que era a minha intenção inicial desde o primeiro doido que me caiu nas mãos?
E me separei sem stress, sem culpa, sem idas e vindas, foi um hoje deu. Pega a mala e some.
Me achei o máximo.Cravei a bandeira no pico do Himalaia.Fiz a volta ao mundo num barquinho rodeada de tubarões.Completei o percurso Paris/ Dakar. Ganhei na Sena.
Filhos bem criados, hoje moro só. Faço o que quero, durmo esparramada na cama sem dividir espaço, não escuto ronco de ninguém, apago a televisão quando o filme fica chato, e não escuto futebol aos domingos- parece que hoje tem jogos em outros dias da semana .Pobres mulheres.
Só que agora surgiu um novo problema.
Casa nova começam a assoprar nos meus ouvidos:
-E quando vai me convidar para conhecer a casa nova?
- E quando é que vai me convidar para jantar?
Realmente, isso é o que fazem as pessoas civilizadas: um dia um convida, depois o outro retribui. Foi quando descobri que não sou uma pessoa civilizada e que receber para um jantar, por mais íntimos que sejam os convivas para mim se torna um sacrifício. Fiz comidinha especial para marido e filhos 25 anos da minha vida.
-Só a mãe faz bem, a empregada não faz direito.
E lá ia eu para a cozinha agradar a família.
Depois que me separei só compro pratos congelados e ligo o micro. Coisa bem boa!
Não preciso dizer que após insistentes convites para eu receber e abrir as portas de minha casa fui em busca de um novo psiquiatra. Só para falar sobre isso. Parece banal? Para mim virou tormento.
Ele ouviu todas as minhas razões sem dizer palavra nenhuma: medo da comida não ficar boa pois havia perdido a receita, de fazer muita ou pouca pois havia perdido a idéia de quantidade ou de exagerar e sobrar sobremesa para eu ficar uma semana tentando acabar com ela, fato que iria me deixar uma bola de gorda.
No final, ouvi dele apenas uma frase redentora e tranquilizante:
-Se você não gosta de dar jantares ou almoços, não dê.
Prá que!Foi a minha libertação. Foi como ao subir no ônibus com a perna que eu escolhi, aleatoriamente, não me preocupar se alguém achava que deveria ser com a outra.
A partir desse dia, nunca mais precisei perguntar a ninguém se devo ou não devo fazer alguma coisa. Pergunto a mim mesma e o assunto está resolvido. E estou muito feliz assim – pelo menos por enquanto.