sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Amor nos tempos do Cólera!

Este livro foi dos mais lindos e tristes que já li. É simplesmente uma obra-prima. Quando o filme surgiu com um elenco de primeira categoria incluindo a nossa Fernanda Montenegro estava eu lá para assistí-lo. O filme conseguiu ser fiel ao livro de Garcia Marquez. O que me deixou  triste desde a leitura do livro até mesmo ao assistir ao filme, foi a dificuldade que as pessoas criam para serem felizes.A espera de quase uma vida para a concretização de seus sonhos mais recônditos..."finalmente ele conseguiu, depois de 50 anos"... "uma vida inteira desperdiçada" - eu pensava enquanto a cena se passava na tela quase ao fim do filme! Lembro que senti uma frustração enorme exatamente da mesma forma de quando terminei o livro.

Florentino sofre de amor. O sentimento puro que arranca mais pedaços do que a guerra ou a epidemia de cólera que tanto matavam no mundo real. O tempo passa, as conjunturas se modificam, mas o amor permanece.Mas ele nunca o manifesta! E machuca aquele silencio. O filme “O amor nos tempos do cólera” é a prova de que até a história mais piegas pode ser transformada no sentimento mais tocante nas mãos de um grande escritor ou de um grande diretor. Existe algo mais clichê do que falar de amor?E como dói de ver um amor irrealizado por não expressá-lo, pelo medo da rejeição, do riso, do escárnio.
Eis alguns trechos, inesquecíveis:

"Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia.

Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada."
A SABEDORIA NOS CHEGA QUANDO NÃO SERVE PARA NADA.

"É claro que o incidente lhes deu a oportunidade de evocar outros arrufos minúsculos de outras tantas manhãs perturbadas. Uns ressentimentos mexeram em outros, reabriram cicatrizem antigas, transformaram-na em feridas novas, e ambos se assustaram com a comprovação desoladora de que em tantos anos de luta conjugal não tinham feito mais do que pastorear rancores."
EM  ANOS DE  DE LUTA CONJUGAL  NÃO TINHAM FEITO MAIS QUE PASTOREAR RANCORES!

"Mesmo quando já velhos e apaziguados, evitavam evocá-la, porque as feridas mal cicatrizadas voltavam a sangrar como se fosse de ontem."
AS FERIDAS MAL CICATRIZADAS VOLTAM A SANGRAR COMO SE FOSSE ONTEM!

Uma obra que merece ser lida, vista e apreciada.


Não era amor...






"…Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada. Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência?

Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo.

Não era amor, era melhor!”



Martha Medeiros em Divã