quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nossos apegos dispensáveis(by June)



Meu rapazinho tem um ursinho de pelúcia e, desde que nasceu, o adotou como seu companheiro noturno. Sempre dormiu com o bichinho. Seu amigão!

O que era um mimo virou um problema com o passar dos anos. Ele não conseguia deixar de dormir com seu Teddy (nome do ursinho).
Eu achava um absurdo um menino de oito anos ainda precisar de ursinho de pelúcia para fazer-lhe companhia. A “D. Culpa” me acusava de ter tropeçado em alguma etapa (ou, mais alguma) que fez com que meu rapazinho não vencesse seus medos noturnos.
Toda noite eu perguntava a ele:
-Filho, você não acha que já tem idade para dormir sem seu Teddy?
- Sem ele eu não durmo!!
 Certo dia, ele me pediu para comprar vinte pacotinhos de figurinhas, e eu pensei: é agora! Negociei com ele a troca do urso pelas figurinhas. No primeiro momento, ele disse que não trocaria, e eu sugeri que ele pensasse no assunto.
Naquela manhã ele foi guardar sua “muleta noturna” com uma carinha de pesar, como se estivesse se desculpando com o bichinho. À noite ele pediu para deixar o Teddy onde poderia vê-lo e, se sentisse necessidade, o pegaria para dormir.
Acordou na manhã seguinte muito confiante, pois havia conseguido dormir sozinho. Propus mais um dia de teste para ele ter certeza de que não se arrependeria.
Ele conseguiu! E agora planeja ir a banca de revistas, comprar suas vinte embalagens de figurinhas.
Mas vocês devem estar se perguntando: qual a importância desse fato tão bobo?
Ele me leva a pensar em muitas coisas, como insegurança, coragem, escolha, vitória, mas foi o rompimento que mais chamou minha atenção.
Desde bem pequenos temos que lidar com rompimentos. Começamos pelo cordão umbilical e terminamos com a nossa morte. E, com exceção desse último, esses rompimentos são necessários e saudáveis embora, em alguns momentos, dolorosos também.
Por mais despreendidos que possamos ser, quando recebemos um “xeque mate”, engolimos seco e pensamos em recuar. Romper assusta. Em contrapartida, romper engrandece.
Aquela criança não sabia que não precisava mais daquele “amuleto”, por isso não queria deixá-lo. Ela criou uma falsa dependência que a impedia de libertar-se.
E nós também agimos assim. Ficamos presos a situações e a pessoas, que muitas vezes poderiam facilmente ser deixados, mas estamos tão viciados a elas, que parece que realmente são essenciais.
Quando vemos que é possível sobreviver, sair ileso e, na pior das hipóteses, um pouco feridos, lamentamos não ter tido coragem anteriormente.
É preciso coragem sim. Rompimentos não acontecem de um dia para o outro. A idéia vai sendo nutrida e as forças vão sendo armazenadas para o grande momento.
Eu venho ensaiando a autonomia dos meus filhos há algum tempo. Sei que eles são capazes, estão preparados para essa independência (coerente com a idade deles), mas sou eu que preciso deixar meu “ursinho de pelúcia”. Alguém tem figurinhas para me dar?(June)