quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Homem gripado.


Você já morou com um homem? E algum dia ele teve uma gripe, com febre de 38º? Se você passou por isso sem perder o juízo, é sinal de uma grande paixão, pois não há nada mais insuportável nesta vida do que um homem doente em casa. Eles ficam na cama, querem atenção o tempo todo e ai de você se não estiver totalmente disponível quando ele chamar. São umas de vezes para dizer que está com frio ou calor, umas 15 para pedir o termômetro, umas 20 para saber se não seria melhor chamar o médico. E tudo isso num único dia.

Qualquer mulher com gripe vai ao cabeleireiro e a festas, mas eles precisam de atenção, proteção, de preferência com você deitada ao lado, pronta para se levantar 37 vezes por hora para cuidar do bem-estar deles. Que querem que você faça as vezes de companheira, escrava, enfermeira e mãe.
Mãe, o mais glorioso papel de uma mulher, sim, mas não mãe de um homem daquele tamanho que você conheceu com um copo de uísque na mão querendo te seduzir. Toda a solidariedade aos que amamos, mas um homem doente é extremamente espaçoso e, quanto menos grave a doença, pior.
Quando você sai do quarto, ele pergunta: “Aonde você vai?” Ora, uma mulher só sai do quarto para ir: sala, ao banheiro ou: cozinha, mas qualquer febrinha afeta o cérebro masculino, e na hora em que você atravessa a porta eles se sentem abandonados para sempre.
Homens doentes têm o costume de gemer: quando se viram na cama, quando se levantam para entrar naquele banho que você preparou com tanto carinho e até quando respiram. E, se depois de três dias ele se levantar para ir: sala, vai precisar de sua ajuda para atravessar o corredor (gemendo, claro), como se tivesse quebrado as duas pernas. Ah, esses homens.
Enquanto ele estiver doente, não se atreva a sair de casa nem para ir: banca de jornal nem para ir: padaria, dar uma volta e arejar a cabeça, nem para uma simples aula de ginástica. Com homem doente em casa, mulher tem que estar: disposição full time, dia e noite, e sem parar para piscar.
Quer ter um pouco de paz ? Fique de olhos fixos no relógio e de dez em de minutos – não, de oito em oito – pergunte como ele está se sentindo. Ponha a mão na testa para verificar a febre e afofe os travesseiros, que devem ser pelo menos quatro: os dois dele e os dois seus. E você vai dormir sem nenhum? Mas é claro. (Danuza Leão)

Melhor ser gordo do que magro!


Melhor ser gordo do que magro, disso não tenho dúvidas.

Veja o caso do Osmar, correspondente de Haroldo, que não responde nem corresponde. Sempre foi gordo e aos sessenta e cinco, possui uma gloriosa e feliz vida de gordo.
Jamais alguém chegou para ele e disse:
– Poxa, Osmar, como você engordou!
Nunca!
Porque os gordos já são gordos, portanto não engordam. Sua aparência é a mesma, não surpreende, não gera sobressaltos, não muda.
Já Haroldo é um caso diferente. Magro histórico, mal aprontou uma barriguinha, por volta dos quarenta, e começaram os comentários:
– Você viu o barrigão do Haroldo?
– O que há com esse rapaz que não se cuida?
– Cruzes, o Haroldo parece uma melancia!
Triste sina, a dos magros: eles engordam.
Não há magro que, por volta dos quarenta, não comece a engordar.
Até então ele comia de tudo, nunca se preocupou com regime, nunca se privou de bebidas, churrascos, massas, não precisava correr, caminhar, fazer exercícios torturantes, as palavras caloria e academia não têm significado algum, para o magro. Seu exercício físico era um futebolzinho leve, com amigos, nos sábados.
Subtamente ele faz quarenta e, como se tivesse sido vítima de um terrível sortilégio, uma maldição sobre ele lançada pela irmã malvada da mãe dele, uma bruxa na opinião do pai dele e, casualmente, sua madrinha, surge-lhe a barriga, arredondada, protuberante, a apertar-lhe as calças e abrir-lhe botões da camisa.
Ele não fez nada diferente, mas a barriga surge.
E, com ela, os comentários.
Magro que tem convicção e força de vontade, se preocupa.
E graças a essa preocupação, busca providências que, ao meu honesto sentir, serão causa determinante do aumento de sua gordura.
Vai ao nutricionista que, após a pesagem, medição e outras mumunhas, sentencia:
– Você, meu querido magro, para continuar magro tem que mudar seus hábitos.
Dita assim, com tal singeleza, o magro não se assusta. Afinal, mudar os hábitos não deve ser coisa muito difícil, dependendo dos hábitos.
Ele imagina que vai mudar a hora do banho, que terá de dormir só com um travesseiro ou, no máximo, parar de ler o jornal no banheiro. Fácil, fácil.
Porém, a nutricionista continua, com aterrorizante candura:
– A primeira coisa a fazer são os exercícios físicos. No mínimo uma hora de caminhada, três vezes por semana. Você pode caminhar no parque tal, na praça qual, você pode entrar numa academia e caminhar na esteira. Isso vai acelerar o teu metabolismo, magro, que diminui a partir dos quarenta.
Como assim, caminhar três vezes por semana? Pensa o magro, uma vestígio de pânico mudando o ritmo de sua respiração. Ela está querendo que eu enfie calção e tênis e saia à caminhar pela cidade? Ela deve estar louca, a que horas vou fazer uma coisa dessas, principalmente eu, que odeio caminhar?
– A melhor hora para a caminhada é bem cedinho, de manhã. Magro, o ideal é você iniciar a caminhada às sete. Pelas oito você está em casa, toma um banho e vai para o café da manhã, cujos ingredientes vou escrever aqui, nesta receita.
Sete da manhã? Ela quer que eu, às sete da manhã, esteja caminhando, de calção e tênis? A última vez que eu vi o dia, às sete da manhã, foi na volta da balada. Não, às sete da manhã nem pensar, às sete da manhã estou no melhor sono.
– Você pode, também, caminhar no fim da tarde, magro. Sai do trabalho e vai caminhar na praça. É uma delícia, principalmente no verão. Você vai adorar.
Decididamente, essa mulher não regula. Ela quer que eu vá caminhar de sapatos, terno e gravata? Ou ela pensa que eu vou em casa trocar de roupa? Com o trânsito desse jeito, até eu fazer isso já é noite fechada. Vai ver, ela quer que eu encerre o expediente às quatro da tarde. E aí, será que ela vai pagar as contas lá de casa?
– Não, magro, você pode trocar de roupa lá no seu trabalho.
Sei, sei. Trabalho num edifício onde trabalham quinhentas outras pessoas. Aí eu tenho que andar com uma sacola para lá e para cá. Termina o expediente, vou a banheiro, tiro a roupa que, do jeito que der, enfio na sacola, visto meus calções e tênis e assim trajado, entro no elevador lotado, percorro os caminhos do prédio, alvo dos olhares maliciosos das mulheres e de alguns rapazes...
– Agora, magro, vamos à alimentação. No café da manhã, meia xícara de chá sem açúcar e sem adoçante. Uma fatia, bem fininha, de ricota. Pode ser duas. Um lanche às dez, pode ser uma fruta, por exemplo, duas uvas, meia ameixa, maçã jamais! Pêra também não. No almoço, bastante salada, verdura à vontade, não coma verduras cozidas, meia colher de sopa de arroz ou de massa, e uma fatia de carne magra, bem fina. Não beba nada durante o almoço, no máximo água, sem gás. Como sobremesa você pode comer gelatina dietética, uma colher de sopa no máximo. E nada de cafezinho. O lanche da tarde pode ser um iogurte diet., tem vários sabores, é muito gostoso. No jantar, que não pode ser depois das sete, meio prato de salada verde, duas fatias de ricota e grãos, sabe grãos, magro? Soja essas coisas. Se estiver acordado às dez, faça um lanche, sugiro um rabanete sem sal. Pode variar, numa noite um rabanete, na outra uma fatia transparente de melão. Se você gostar, pode ser gelatina também, dietética, é claro. E mais uma coisa: o sal está abolido da sua vida e bebida alcoólica é uma sentença de morte.
O magro está paralisado. Todos os seus músculos contraídos, o coração parece o estouro da boiada e só consegue pensar numa coisa: meu mundo caiu!
A nutricionista, com sua perversa benevolência, conclui a consulta:
– Olha, magro, não precisa emagrecer com sofrimento. É só uma questão de disciplina. Por isso recomendo aos meus cliente que, num dia da semana, à escolha deles, comam uma bola de sorvete de abacaxi dietético, muito saboroso e, ainda por cima, faz bem aos intestinos.
Haroldo sai de lá com um aperto dramático no coração. A vida, tal como era neste planeta, nunca mais será a mesma.
Antes de entrar no carro, toma a decisão de seguir rigorosamente as instruções da nutricionista. E começa.
Dia seguinte, fim de expediente, entra no banheiro do escritório e farda-se com seus calões largos, camiseta e tênis. Calças, casaco, camisa, meia, cuecas, sapatos e gravata estão acondicionados, de jeito que deu, na sacola.
Sai para o corredor, olhando para os lados, um rubor furiosos nas faces. A primeira pessoa que encontra é Clarinha, a morena da expedição com quem, há algum tempo, tenta iniciar uma paquera.
Clarinha olha Haroldo, pernas finas, barriga redonda marcada pela camiseta e não se contêm:
– Nossa, doutor. Haroldo, o senhor deu uma boa engordada, hein?
Nos primeiros três dias ele cumpre religiosamente o tratamento e, a partir do quarto, ingressa definitivamente na estrada sem retorno do engorde.
Abandona o regime e as caminhadas e finge que nada está acontecendo.
Os anos mostrarão que, sejam quais forem as tentativas futuras, ele nunca mais terá o mesmo peso e o mesmo corpo que tinha antes dos quarenta.
Haroldo, o magro, vai compreender o significado ilimitado da expressão ‘passar privações’.
Os gordos não. (Paulo Wainberg)