sábado, 25 de setembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: Profissão sindico.Bah!!!!!!!!!!

Devaneios etcétera e tal...: Profissão sindico.Bah!!!!!!!!!!: "Tudo bem, eu não posso reclamar. Meu prédio é legal e meus vizinhos de porta são ótimos do tipo que dividem bolo de cenoura quando fazem em..."

Profissão sindico.Bah!!!!!!!!!!


Tudo bem, eu não posso reclamar. Meu prédio é legal e meus vizinhos de porta são ótimos do tipo que dividem bolo de cenoura quando fazem em fôrma grande.

Mas tem dias que acho que vou sucumbir.
Bem preciso esclarecer que sou síndica de um prédio de 90 apartamentos, diria 89 pois o meu não conta.
Segunda-feira.
Desço as 7 horas da manhã fazendo sol ou chuva (nunca se sabe a previsão do tempo, pois moro em P.Alegre, RGS).Bem desço a esta hora com minhas duas cadelas que já tem certa idade, rezando para não encontrar nenhuma alma penada no elevador voltando bebunzaço(a) de alguma festa ou saindo contrariado para trabalhar àquela hora.
Ninguém no elevador. Ufa!
-Vamos logo “meninas” antes que o do 1607 reclame que um pêlo de vocês foi parar no terno Armani azul-marinho dele.
O porteiro mal me vê já traz um calhamaço de papel para assinar e peço um tempo para que meus olhos possam abrir melhor.
A esta hora do dia, o primeiro da semana, já tem no livro de reclamações que o fulano desceu com o cachorro, que mais parece um hamster,sem coleira,o que é proibido, isto que o prédio foi feito para ter cachorro a vontade, tanto é verdade que temos um pet na entrada com grama verde e cerca, o que trouxe, enganosamente vários compradores cachorreiros a adquirir apartamento ficando a imaginar o quanto seus bichinhos iam ter uma vidinha feliz! Engano total.Assim como Hitler odiava judeus nosso prédio odeia qualquer raça de quatro patas.
Depois de um café rápido tenho que ver a porta que não funciona, a câmera que está desligada, a faxineira que não veio e as louças quebradas deixadas no salão de festas pois domingo tinha sido final de campeonato e no churrasco devem ter atirado uns pratos no chão para comemorar.
Pelas 10 horas uma briga entre dois moradores porque um com pressa colocou o carro na garagem do outro.
Me esqueci de dizer que no prédio, assim como tem gente que odeia a raça animal tem gente sem noção do que representa “coisa alheia”.Tudo é de todos.Para que serviria o nome “condomínio” se não for para dividir?
Depois do almoço é a hora que dedico a abrir os emails e encontro mais de 100 deles com reclamações referentes ao fim de semana: aquele que não deixou o vizinho de baixo dormir porque a esposa nervosa passou a noite a trotear de salto alto prá lá e prá cá, o outro que ouviu a briga do jovem casal e queria chamar a brigada, e a transa diferenciada, com uivos lancinantes de uma moça lá pelos seus 30 anos que mora só mas como é filha de Deus traz todo sábado um gatinho( este é de duas patas e pode entrar pelo hall social) para acompanhá-la no quarto de paredes de gesso acartonado e de fácil propagação de sons.
Fico pensando em outros tipos de ruídos que as pessoas escutam e me reclamam.Nem vou contar!
Impressionante como se perde a privacidade quando se mora em prédios. O que me leva diretamente ao que aconteceu na terça-feira.
Bem na hora em que estava escovando os meus dentes pela manhã, começo a escutar uma gritaria, com detalhes picantes da vida de um casal. Esses prédios tem umas colunas de circulação de ar que funcionam como verdadeiros telefones sem fio. Por mais que eu tentasse não participar do que rolava eu era obrigada a escutar.Jogavam panelas e copos.Liguei o interfone para o apartamento do casal e logo desliguei sem me identificar, mais para dizer- “ei! não quero participar como ouvinte desta baxaria”. A briga pareceu serenar após meu toque, acho que foram fazer amor, tanto é que soube ontem que dentro de nove meses nascerá uma bela criança.
Quarta feira: Assembléia Extraordinária.
Você odeia essas assembléias de condomínio? Eu adoro e me divirto horrores vendo as pessoas discutirem por tão pouco.Sai até palavrões nas nossas reuniões e ficam dias sem se falarem . É como assistir ao programa Zorra Total ao vivo.
Quinta-feira: Fico pensando em outros tipos de ruídos que eu escuto e que todos devem escutar também com estas modernas paredes utilizadas nas novas construções. Sei, por exemplo, exatamente a hora que meu vizinho puxa a descarga ou acaba de tomar seu banho.Quando a esposa seca o cabelo.O secador dela parece uma aeronave aterrisando no Galeão no momento que o comandante puxa aquela alavanca e todos nós seguramos firme na poltrona do avião.
Resolvo abrir as persianas para ver se os barulhos se dissipam e eis que alguém está batendo seu tapete na janela e vem todo pó para dentro do meu quarto que tinha sido limpo na véspera.
Nesta quinta de manhã me lembro que tenho de chamar a empresa de gás pois se alguém ficar com banho frio neste inverno trágico que se abateu aqui no sul sou capaz de ser enterrada viva no espaço mínimo do pet ou afogada na piscina gelada que no verão fica igual ao piscinão do Ramos. Isto que nem falei no meu interfone que toca de 5 em 5 minutos- faz a proporção aí de 89 apartamentos para um interfone só.
Isto sem salientar os mal-educados, que pegam o elevador três segundos na sua frente e apertam o botão para fechar a porta bem na sua cara.
E as fofocas? Aquele é gay, aquela casou por interesse, o cara do terceiro andar está falido mas comprou o carro do ano.
Sexta-feira- O porteiro sempre tem uma idéia nova a lançar para organizar algum departamento que me pertence, mas o dele não funciona, pois canso de ver entrar pessoas desconhecidas onde pedir a identidade é coisa que não existe no manual de procedimento de segurança.Isto sem falar nas variações de porteiros de segunda a domingo que nunca conhecem os moradores e me telefonam- pelo celular- não querendo saber onde me encontro e que horas são, para saber se eu posso informar de quem se trata.
-Dona, ele diz que é o João, irmão do Francisco casado com a Tereza.
Sábado e domingo são dias de festas, as mais variadas, do rave a clássica, não preciso dizer que ninguém dorme, só assistindo a sessão coruja e olhe lá!

Bem assim passam meus dias, entre fazer orçamentos, chamar empresas especializadas em consertos, o homem do elevador, da porta automática que não funciona, o material de limpeza que não vindo o detergente trocaram por 20 vassouras para contrabalançar o estrago, as luzes que queimam todos os dias numa média de 20 por andar, os condôminos inadimplentes.
Agora chega de me lastimar!
Amanhã tenho um encontro muito cedo com o pessoal do prédio do lado que me quer de síndica.(Martha M.M.)

Devaneios etcétera e tal...: TEM VEZ QUE CANSA-Ana Jácomo

Devaneios etcétera e tal...: TEM VEZ QUE CANSA-Ana Jácomo: "Tem vez que cansa. Cansam portas fechadas, chaves que não abrem as portas fechadas, a angústia por ainda não se saber como abri-las. A von..."

TEM VEZ QUE CANSA-Ana Jácomo


Tem vez que cansa.
Cansam portas fechadas, chaves que não abrem as portas fechadas, a angústia por ainda não se saber como abri-las. A vontade que tece o seu ninho nos galhos mais verdejantes e passa tempos chocando ovos que parecem que não vão mais se romper. A espera pelo voo das borboletas que demoram crisálidas para se desvencilhar dos casulos. O repetido surgimento do não quando a vida da gente prepara incansáveis banquetes de boas-vindas para o sim. O quase que se prolonga tanto que causa a impressão de ser interminável. E, à espreita, sempre acompanhando os movimentos da nossa coragem, à distância, a perigosa perspectiva do nunca, aguardando cada brecha criada pelo cansaço para tentar nos dissuadir dos nossos propósitos.

Tem vez que cansa, sim.
E parece que somos incapazes de mais um único passo fora do território do nosso cansaço. O ânimo desaparece sem deixar vestígios, pegadas na areia que nos levem até onde as suas águas refluem. Sabemos que ele permanece lá, em algum lugar que temporariamente não acessamos, como o sol por trás de nuvens que querem chover mas não conseguem. Sabemos que ele está lá e que precisa apenas de um tempo para se recompor. Para soprar as nuvens e voltar à cena. Para retomar o caminho com a gente. Para nos lembrar outra vez, depois de outras tantas, que, aconteça o que acontecer, sob hipótese alguma queremos desistir do que nos importa.
Tem vez que cansa.
E parece que não há nada que possamos nos dizer que revitalize, de imediato, a crença na nossa capacidade de transformação. Não é raro, sequer conseguimos ouvir a nós mesmos, a comunicação interrompida pelos ruídos momentâneos da negatividade. Aquela conversa fiada mental que não nos leva a nenhum lugar bacana, o olhar estreito que não vê coisa alguma além do nosso próprio desânimo. Esse cansaço às vezes é acompanhado por uma tristeza muito doída, que pede o nosso melhor abraço; outras, por uma raiva que pode se fantasiar com um monte de disfarces. Quando a gente se cansa em demasia, o coração não canta, as cores desbotam, o tempo se arrasta pelos dias como se estivesse preso a imensas bolas de ferro.
Tem vez que a vida da gente cansa.
Pele sem viço, olhos sem lume, pés doloridos, os ombros retesados pelo peso que carregamos. Cansa e precisa sentar um pouco para descansar, respirar grande, recobrar o fôlego. Cansa e procura sombras de árvores, banhos de silêncio, acalantos capazes de fazer os medos dormirem. Cansa e pede alegria, esse hidratante natural maravilhoso, também indicado para as fases de ressecamento da alma. Cansa e quer nossa atenção amorosa, nossa escuta sensível, nosso cuidado macio, a generosidade própria dos amantes, essas dádivas que afrouxam apertos, massageiam a coragem, e fazem toda diferença do mundo, não importa qual seja a textura do sentimento da vez.
Tem vez que a vida da gente cansa e, se for suficientemente amada, depois retoma o caminho ainda mais forte. Ainda mais bela, carregada de brotos das flores que mais dizem nossa alma.
Inteira.