terça-feira, 28 de junho de 2011

Síndrome do cagassus virtualis

Afinal, qual é a pronúncia: ráquers ou rêiquers? Dúvida atroz, essa. Ouvi as duas versões, na mesma emissora, em dois noticiários diferentes. Arrá, diria nosso nobre deputado Carry On, cheio de ufanismo gaudério. Hackers, isso é lá com os imperialistas. Troquemos por invasores ou algo do tipo. À parte o detalhe do como se fala – e esquecendo os preciosistas, que fazem malabarismo facial para pronunciar comme Il faut –, o fato é que, sim, não existe limite para quem sabe mexer com “essas coisas” de internet. E não, ninguém, nem Serpro, nem CIA, nem a mãe do badanha pode garantir que qualquer página, qualquer e-mail, qualquer coisa lançada no tal de ciberespaço (sáiberespaço, cyberspace etc ) está imune ao conhecimento de um guri espinhento trancado no quarto da casa da mamãe. É só saber. E é só querer.
Tenho manifestado minha revolta com os chatos da rede, que entram nos perfis do facebook (feicebúque?) só pra acrescentar mais um “miguxo’ na rede. E, em especial, odeio, detesto, tenho ojeriza pelos que mandam perguntinhas calhordas que exigem, mais do que se baixar um programa invasivo, que a gente assine recibo de burro.
Mesmo assim, não vivo sem internet. Não imagino a vida sem ela. E aqueles planos de ir pra Serra da Estrela, em Portugal, praquela casinha de pedra ao lado de um riacho, sem telefone ou qualquer antena que permita se plugar em qualquer coisa, estes projetos vão ser, eternamente, coisas idealizadas para inglês ver. Tô fora. Quero mais é ligar meu computador todas as manhãs, espiar a caixa de entrada do mail e entrar, sofregamente, como se disso dependesse minha sobrevivência, no feice e, hoje com menos vontade, no tuíter.
Dito isso tudo, a maneira de entróito, foco na invasão dos háquers nos sites do governo brasileiro e, sinceramente, não sei se é pra rir ou pra chorar com as justificativas, tipo penico furado, das nossas otoridádi em cibernética. É patético ver o que dizem de bobagem, prontos pra nos enfiar na cara o nariz de palhaço que há tempos estão distribuindo nestes brasis.
O ruim de tudo é esta sensação de que pode tudo. Tenho um grande e amado amigo, do teatro, que já me mandou calar a boca várias vezes quando me atrevo a mostrar opiniões não pedidas, em especial de política, com argumentos que fazem qualquer um de bom senso puxar o freio. Diz ele que “os caras” têm a faca e o queijo na mão, que é só querer, puxam meus dados no computador e enfiam informações que podem ralar com minha vida até as próximas 15 encarnações. Exagero dele? Já tô achando que não.
Lembro de um filme com a Sandra Bullock em que ela é funcionária de alguma coisa no governo e descobre uma falcatrua qualquer e é descoberta porque descobriu, entendem? E, aos poucos, além de querer matar a moça fisicamente, vão matando a dita cuja aos poucos, eliminando suas informações, seus números de carteira de identidade, seu registro de nascimento, por aí vai. Ficção, claro.
O bom de tudo isso é que nem o pai, nem a mãe, nem o filho do Badanha podem sair ilesos de suas safadezas quando alguém quiser torná-las públicas. Basta um provedor, um computador e um cara esperto e destemido. Eu, aqui, fico dedilhando estas linhas e pensando que alguém, em algum lugar, por algum motivo, as está acessando neste exato momento. Então, fica o recado. Se, de repente, eu sumir, ou, pior, alguém começar a escrever aqui falando tudo ao contrário do que sempre falei, já sabem, Ou fui abduzida ou simplesmente sumida por alguém ráquer (háquer? Heiquer? Rêiquer?) a mando de sabe-se lá quem. Durmam tranquilos. Se puderem.(Maristela Barrios)