sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AS PERDAS NOSSAS DE CADA DIA.


Há horas em nossa vida que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido.

Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos.

Começamos a vida em perda e nela continuamos.

Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói. E continuamos a perder e seguimos a ganhar.

Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas porque alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar Por quê? Perguntamos a todos e de tudo. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás. Estamos crescendo.

Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer, morrer... Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Perdemos o direito de poder chorar bem alto, aos gritos, mesmo quando algo nos é tomado contra a vontade. Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça sem medo de causar melindres. Receamos dar risadas escandalosamente e evitamos assuntos constrangedores. Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros. E aprendemos.

E vamos adolescendo, ganhamos peso, ganhamos altura, ganhamos o mundo. Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo todo nos parece inadequado aos nossos sonhos. Ah! os sonhos!!!

Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo. Aí, de repente, caímos na real!

Estamos amadurecendo, todos nos admiram. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo. E continuamos amadurecendo, ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma. E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar, de andar descalços, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar “pum” sem querer. Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e tascamos-lhe aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de todos.

Ganhamos novos amigos, ganhamos um bom salário, ganhamos reconhecimento, honrarias, títulos honorários e a chave da cidade. E assim, vamos ganhando tempo, enquanto envelhecemos. De repente percebemos que ganhamos algumas rugas, algumas dores nas costas (ou nas pernas), ganhamos celulite, estrias, ganhamos peso e perdemos cabelos. Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar, esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir, perdemos a esperança. Estamos envelhecendo. Não podemos deixar pra fazer algo quando estivermos morrendo.

Compreender que as perdas fazem parte, mas que apesar delas, o sol continua brilhando e felizmente chove de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno, que necessita do outono que o antecede. Que a gente cresça e não envelheça simplesmente.

Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie. Que tenhamos rugas e boas lembranças. Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia. Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos. E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que saibam-se amados.

Afinal, o que é o tempo?

Não é nada em relação a nossa grande missão. E que missão! Que missão?

A que você acaba de decidir tomar nas mãos!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

FAMILIA 21

Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

– Moça, vocês tem pen drive?
– Temos, sim.
– O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.
– Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
– Ah, como um disquete...
– Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
– Ah, tá. bom, vou querer.
– Quantos gigas?
– Hein– De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?
– O que é gigas?
– É o tamanho do pen.
– Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem fazer muito volume.
– Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
– Ah, tá. E quantos tamanhos tem?
– Dois, quatro, oito e até dez gigas.
– hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.
– Neste caso, o melhor é levar o maior.
– Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
– Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB?
– Como?
– É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
– USB não é a potência do ar condicionado?
– Não, aquilo é BTU.
– Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.
– USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
– Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né?
– Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
– Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
– Os de hoje nem tem mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.
– Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
– Quem sabe o senhor liga para ele?
– Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.
– Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone, este é bom mesmo, tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.
– Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?
– Não senhor, assim o senhor me faz rir, é que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.
– E Bluetooth?, estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.
– O senhor sabe para que serve?
– É claro que não.
– É para comunicar um celular com outro, sem fio.
– Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
– Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.
– Ah, e antes precisava fio?
– Não, tinha que trocar o chip.
– Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
– Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
– Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
– Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
– E faço o quê, com o chip?
– Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.
– Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
– Nãão, é tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.
Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:
– Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Isso, nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.
– Que idade tem seu filho?
– Vai fazer dez em março.
– Que gracinha...
– É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
– Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.
Máquina infernal, pensa.
Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofistificado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.
O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um roque infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.
Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
– Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.
– Teu celular tem entrada USB?
– É lógico. O teu também tem.
– É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?
– Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
– Sabe que eu tenho Bluetooth?
– Como é que é?
– Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?
– Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.
– Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?
– Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.
– E conexão USB também.
– Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.
– Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
– Ué? Por que?
– Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e, tudo o que sei já está superado.
– Falar nisso temos que trocar nossa televisão.
– Ué? A nossa estragou?
– Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, sloamotion e reset.
– Tudo isso?
– Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.
Quando estava quase pegando no sono, o filho entra no quarto e diz:
– Pai, me compra um Playstation vinte e sete?(Paulo Waiberg)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros

Devaneios etcétera e tal...: SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros: "Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo... Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e..."

SIMPLICIDADE DE UMA MULHER MADURA-Martha Medeiros

Quando tinha 15 anos, esperava um dia ter um namorado... seria bom se fosse alegre e amigo...
Quando tinha 18 anos, encontrei esse garoto e namoramos; ele era meu amigo, mas não tinha paixão por mim.
Então percebi que precisava de um homem apaixonado, com vontade de viver, que se emocionasse...
Na faculdade saía com um cara apaixonado, mas era emocional demais.
Tudo era terrível, era o "rei dos problemas", chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se. Descobri então, que precisava de um rapaz estável.
Quando tinha 25 anos encontrei um homem bem estável, sabia o que queria da vida; mas era muito chato: queria sempre as mesmas coisas dormir no mesmo lado da cama, feira no sábado e cinema no domingo. Era totalmente previsível e nunca nada o excitava.
A vida tornou-se tão monótona que decidi que precisava de um homem mais excitante.
Aos 30, encontrei um "tudo de bom", brilhante, bonito, falante e excitante, mas não consegui acompanhá-lo.
Ele ia de um lado para o outro, sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas, paquerava qualquer uma e me fez sentir tão miserável, quanto feliz.
No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro.
Decidi buscar um homem com alguma ambição para com ele construir uma vida segura.
Procurei bastante, incansavelmente...
Quando cheguei aos 35, encontrei um homem inteligente, ambicioso e com os pés no chão. Apartamento próprio, casa na praia, carro importado... Solteiro e sem rolos!
Pensei logo em casar com ele. Mas era tão ambicioso que me trocou por uma herdeira rica...
Hoje, depois de tudo isso, gosto de homens com pinto duro...
E só! Nada como a simplicidade...

domingo, 24 de outubro de 2010

DESTRALHE-SE




"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente"

-"Bom dia, como tá a alegria"?, diz dona Francisca, minha faxineira rezadeira, que acaba de chegar.
-"Antes de dar uma benzida na casa, deixa eu te dar um abraço que preste!" e ela me apertou.
Na matemática de dona Francisca, "quatro abraços por dia dão para sobreviver, oito ajudam a nos manter vivos, 12 fazem a vida prosperar".
Falando nisso, "vida nenhuma prospera se estiver pesada e intoxicada".
Já ouviu falar em toxinas da casa?
Pois são objetos e roupas que você não gosta ou não usa, coisas feias ou quebradas, velhas cartas, plantas mortas ou doentes, recibos, jornais e revistas antigos, remédios vencidos, meias e sapatos estragados...
Ufa, que peso!
"O que está fora está dentro e isso afeta a saúde", aprendi com dona Francisca.
- "Saúde é o que interessa. O resto não tem pressa"!, ela diz, enquanto me ajuda a 'destralhar', ou liberar as tralhas da casa.
O 'destralhamento' é uma das formas mais rápidas de transformar a vida e pode muito bem ajudar outras terapias.
"A saúde melhora, a criatividade cresce e os relacionamentos se aprimoram", também ensina o feng shui, com a delicadeza própria das artes orientais.
Para o feng shui, é comum se sentir cansado, deprimido ou desanimado em um ambiente cheio de entulho, pois "existem fios invisíveis nos ligando àquilo que possuímos".
Outros possíveis efeitos do acúmulo e da bagunça: sentir-se desorganizado, fracassado e limitado, aumento de peso, apego ao passado...
"No porão e no sótão, as tralhas viram sobrecarga; na entrada, restringem o fluxo da vida; empilhadas no chão, nos puxam para baixo; acima, são dores de cabeça; sob a cama, poluem o sono".
Então... Se dona Francisca falou e o feng shui concordou, nada de moleza!
-"Oito horas para trabalhar, oito para descansar, oito para se cuidar!", diz a comadre.
-E nada de limpar só por onde o padre passa...
Perguntinhas úteis na hora de liberar os armários:
Por que estou guardando isso?
Será que tem a ver comigo hoje?
O que vou sentir ao liberar?
E vá fazendo pilhas separadas de doar, vender e jogar fora.
Depois de destralhar, jogue sal grosso nos ralos.
Ponha um prato com carvão no quarto (tira os cheiros e as energias ruins).
Deixe um ramo de boldo em um copo d'água para purificar.
Passou de bom!
Para destralhar mais, livre-se de barulhos e luzes fortes, cores berrantes, odores químicos, revestimentos sintéticos, libere mágoas, pare de fumar, diminua o uso da carne, termine projetos inacabados.
"Se deixas sair o que está em ti, o que deixas sair te salvará.
Se não deixas sair o que está em ti, o que não deixas sair te destruirá", arremata o mestre Jesus, no evangelho de Tomé.
"Acumular nos dá a sensação de permanência, apesar de a vida ser impermanente", diz a sabedoria oriental.
O Ocidente resiste a essa idéia e, assim, perde contato com o sagrado instante presente.
Dona Francisca me conta que "as frutas nascem azedas e, no pé, vão ficando docinhas com o tempo".
-A gente deveria de ser assim, ela diz.
-"Destralhar ajuda a adocicar." (Claudio Solano)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

FAXINA NOS MITOS! Lya Luft


"Boa parte de nossa infelicidade nasce do fato de vivermos rodeados por mitos.Deixemos que aflorem e construíremos em cima deles a nossa desgraça"

Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos belos, grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos mitinhos bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando precipícios com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou deixamos que aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça.
Por exemplo, o mito da mãe-mártir. Primeiro engano: nem toda mulher nasce para ser mãe, e nem toda mãe é mártir. Muitas são algozes, aliás. Cuidado com a mãe sacrificial, a grande vítima, aquela que desnecessariamente deixa de comer ou come restos dos pratos dos filhos, ou, ainda, que acorda às 2 da manhã para fritar (cheia de rancor) um bife para o filho marmanjo que chega em casa vindo da farra. Cuidado com a mãe atarefada que nunca pára, sempre arrumando, dobrando roupas, escarafunchando armários e bolsos alheios sob o pretexto de limpar, a mãe que controla e persegue como se fosse cuidar, não importa a idade das crias. Essa mãe certamente há de cobrar com gestos, palavras, suspiros ou silêncios cada migalhinha de gentileza. Eu, que me sacrifiquei por você, agora sou abandonada, relegada, esquecida? E por aí vai...
Ou o mito do bom velhinho: nem todo velho é bom só por ser velho. Ao contrário, se não acumularmos bom humor, autocrítica, certa generosidade e cultivo de afetos vários, seremos velhos rabugentos que afastam família e amigos. Nem sempre o velho ou velha estão isolados porque os filhos não prestam ou a vida foi injusta. Muitas vezes se tornam tão ressequidos de alma, tão ralos de emoções, tão pobres de generosidade e alegria que espalham ao seu redor uma atmosfera gélida, a espantar os outros.
E o mito do homem fortão, obrigado a ser poderoso, competente, eterno provedor, quando esconde como todos nós um coração carente, uma solidão fria, a necessidade de companhia, de colo e de abraço – quando é, enfim, apenas um pobre mortal.
Falemos ainda no mito da esposa perfeita, aquela da qual alguns homens, enquanto pulam valentemente a cerca, dizem: "Minha mulher é uma santa". Sinto muito, mas nem todas são. Eu até diria que, mais vezes do que sonhamos, somos umas chatas. Sempre reclamando, cobrando, controlando, não querendo intimidades, ocupadas em limpar, cozinhar, comandar, irritar, na crença vã de que boa mulher é a que mantém a casa limpa e a roupa passada. Seria bem mais humano ter braços abertos, coração cálido, compreensão, interesse e ternura.
O mito de que a juventude é a glória demora a ruir, mas deveria. Pois jovem se deprime, se mata, adoece, sofre de perdas, angustia-se com o mercado de trabalho, as exigências familiares, a pressão social, as incertezas da própria idade. A juventude – esquecemos isso tantas vezes – é transformação por vezes difícil, com horizontes nublados e paulatina queda de ilusões. É fragilidade diante de modelos impossíveis que nos são apresentados clara ou subliminarmente o tempo todo.
Enfim, a lista seria longa, mas, se a gente começar a desmitificar algumas dessas imagens internalizadas, começaremos a ser mais sensatamente felizes. Ou, dizendo melhor: capazes de alegria com aquilo que temos e com o que podemos fazer numa vida produtiva, porque real.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nossos apegos dispensáveis(by June)



Meu rapazinho tem um ursinho de pelúcia e, desde que nasceu, o adotou como seu companheiro noturno. Sempre dormiu com o bichinho. Seu amigão!

O que era um mimo virou um problema com o passar dos anos. Ele não conseguia deixar de dormir com seu Teddy (nome do ursinho).
Eu achava um absurdo um menino de oito anos ainda precisar de ursinho de pelúcia para fazer-lhe companhia. A “D. Culpa” me acusava de ter tropeçado em alguma etapa (ou, mais alguma) que fez com que meu rapazinho não vencesse seus medos noturnos.
Toda noite eu perguntava a ele:
-Filho, você não acha que já tem idade para dormir sem seu Teddy?
- Sem ele eu não durmo!!
 Certo dia, ele me pediu para comprar vinte pacotinhos de figurinhas, e eu pensei: é agora! Negociei com ele a troca do urso pelas figurinhas. No primeiro momento, ele disse que não trocaria, e eu sugeri que ele pensasse no assunto.
Naquela manhã ele foi guardar sua “muleta noturna” com uma carinha de pesar, como se estivesse se desculpando com o bichinho. À noite ele pediu para deixar o Teddy onde poderia vê-lo e, se sentisse necessidade, o pegaria para dormir.
Acordou na manhã seguinte muito confiante, pois havia conseguido dormir sozinho. Propus mais um dia de teste para ele ter certeza de que não se arrependeria.
Ele conseguiu! E agora planeja ir a banca de revistas, comprar suas vinte embalagens de figurinhas.
Mas vocês devem estar se perguntando: qual a importância desse fato tão bobo?
Ele me leva a pensar em muitas coisas, como insegurança, coragem, escolha, vitória, mas foi o rompimento que mais chamou minha atenção.
Desde bem pequenos temos que lidar com rompimentos. Começamos pelo cordão umbilical e terminamos com a nossa morte. E, com exceção desse último, esses rompimentos são necessários e saudáveis embora, em alguns momentos, dolorosos também.
Por mais despreendidos que possamos ser, quando recebemos um “xeque mate”, engolimos seco e pensamos em recuar. Romper assusta. Em contrapartida, romper engrandece.
Aquela criança não sabia que não precisava mais daquele “amuleto”, por isso não queria deixá-lo. Ela criou uma falsa dependência que a impedia de libertar-se.
E nós também agimos assim. Ficamos presos a situações e a pessoas, que muitas vezes poderiam facilmente ser deixados, mas estamos tão viciados a elas, que parece que realmente são essenciais.
Quando vemos que é possível sobreviver, sair ileso e, na pior das hipóteses, um pouco feridos, lamentamos não ter tido coragem anteriormente.
É preciso coragem sim. Rompimentos não acontecem de um dia para o outro. A idéia vai sendo nutrida e as forças vão sendo armazenadas para o grande momento.
Eu venho ensaiando a autonomia dos meus filhos há algum tempo. Sei que eles são capazes, estão preparados para essa independência (coerente com a idade deles), mas sou eu que preciso deixar meu “ursinho de pelúcia”. Alguém tem figurinhas para me dar?(June)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: AS ALÇAS DA MENTE

Devaneios etcétera e tal...: AS ALÇAS DA MENTE: "O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão. A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao qu..."

AS ALÇAS DA MENTE

O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão.



A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao que permanece, ao que se repete e ao que é sempre igual.
Por isso, a mente adora lembranças e memórias.
Porque o passado já passou e não pode ser mais mudado.
O passado é permanente. A mente acha isso o máximo.
É como administrar uma empresa onde nada pode dar errado.
O medo da mente é justamente este, administrar imprevistos.
Outra coisa que a mente ama de paixão é o padrão, porque como o nome já diz, o padrão não muda.
Um metro, uma hora, o mesmo caminho para o trabalho, voltar ao mesmo restaurante e sentar à mesma mesa, são padrões que toda mente humana gosta de repetir.
Ah, que prazer que a mente sente quando a bunda senta na mesma cadeira que sentou na aula anterior!
A repetição dá segurança, porque cria a falsa ilusão de que nada vai mudar.
E se nada mudar, nada de ruim poderá acontecer.
Tudo será igual, com o mesmo final feliz, como antes.
Crianças adoram ver filmes mil vezes porque se sentem seguras, porque podem antecipar as próximas cenas (se na vida fosse assim...) e porque têm certeza de como a história terminará.
Já as mentes adultas, especialmente as obsessivas em qualquer grau, adoram a matemática.
A matemática é a única ciência exata e imutável.
Enquanto a física e química, a biologia, por exemplo, estão sujeitas a variáveis da vida real, a matemática continua igual.
Daí o fato de que toda mente obsessiva gosta de contar, manipular números.
As contas são sempre exatas, não mudam.
E se você contar todos os passos e chegar direitinho à padaria com seus mil passos, então, podemos concluir que sua mãe não vai morrer e nada vai dar errado no seu dia.
Certo? Errado.
Errado porque a mente vive num mundo irreal.
Mundo da mente é como caspa, só existe na sua cabeça.
Tudo é mera ilusão. E, com perdão do excesso de realidade fisiológica, o mundo está cagando e andando pras suas ilusões mentais.
Como o mundo já provou, uma batida de asas de borboleta na África pode influenciar mais a ocorrência de um tsunami na Ásia do que sua contagem de azulejos no banheiro.
Porque a borboleta é real e seu pensamento, não.
O problema é que a mente não quer nem saber disso e provavelmente muitos já terão abandonado este texto nas primeiras linhas.
Espertos, porque sabem que vou contar um segredo sobre eles: a mente fabrica alças.
Sim, alças, onde ela, a mente, possa se apegar.
Uma alça, como aquele putaqueopariu do carro, onde a gente segura a vida quando o motorista não é de confiança.
Como o santo Antonio dos jipes.
A alça pode ser um nome, um amuleto, uma mania, uma repetição qualquer.
A mente é chata, mas criativa, e assim, inventou a alça-sem-mala.
Nesta alça ela se apega até a morte.
É uma crença, um dogma, uma frase feita, um chavão, um lugar-comum: "Angélica ficou mais bonita depois que teve filho"; "Vaso ruim não quebra"; "Jesus voltará"...
Qualquer alça é boa pra mente: "A cadeia é a universidade do crime", "Direituzumanu só tem bandidu"...
Se a mente se acha fraca, ela inventa uma alça para se sentir forte, tipo: "Sou feia, mas tô na moda".
A mente inventa que se a pessoa perder dez quilos vai ser feliz e tudo vai dar certo na vida. Troca nomenclaturas, pra se sentir por cima.
Porque uma coisa é dizer que você tem TOC e outra coisa é assumir que você é um obsessivo chato, que ninguém agüenta conviver a seu lado e por isso você precisa de tratamento sério com remédio e tudo mais.
A mente inventa alças pra não cair em si.
Mas cair em si é a única forma de tomar consciência - primeiro passo para melhorar.
Portanto, remova todas as alças. Caia. Caia em si.
Tá gordo? Tá gordo, então, vamos emagrecer.
Tá infeliz? Sai dessa, viva a vida, aproveite.
Tá duro? 'Bora ganhar dinheiro'.
Só não fique aí, com essa cara de passageiro do circular da eternidade, vendo a vida passar na fresta da janelinha de um puta ônibus cheio, segurando firme na alça do medo, pois você tem que dar o sinal e descer para a liberdade do imprevisível.(Rosana Hermann)

Matando a saudade em sonho


Como vencer a saudade com algo que seja mais parecido com presença? Através do sonho
A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Por sorte, é relativamente fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos, simplesmente pegando o telefone e ouvindo a voz de quem nos faz falta, ou indo ao encontro dessa pessoa. Ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa. Podemos eliminar muitas saudades, enquanto outras vão surgindo. A saudade do gosto de uma comida, de um cheiro do passado, de um abraço. Há muitas saudades possíveis de se conviver e possíveis de matar. A única saudade que não se mata é a de quem morreu. Morrer. Que verbo macabro para se falar de nostalgia.
Já ouvi vários relatos sobre a saudade que se sente de um pai, de um avô, de um filho, de uma amiga, dos afetos que nos deixaram cedo demais - sempre é cedo para partir, não importa a idade de quem se foi. Ficam as cenas guardadas na lembrança, mas elas se esvanecem, recordações são sempre abstratas. De concreto, palpável, tem-se as fotos e as imagens de gravações caseiras, mas de tanto vê-las, já não vemos. Já a sabemos de cor. Não há o rosto com uma expressão nova, a surpresa de um gesto inusitado.
Como, então, vencer a saudade com algo que seja mais parecido com presença?
Através do sonho.
Uma mãe que perdeu seu filho anos atrás me conta que todos em casa sonham com ele, menos ela. Para sua infelicidade, ela não tem controle sobre isso, simplesmente não recebe essa bênção, e queria tanto. E eu a entendo, porque através do sonho a pessoa que se foi nos faz uma visita. Pode até ser uma visita aflitiva, mas a pessoa está de novo ali, ela está interagindo, ela está sorrindo, ou está calada, ou está dançando, ou escapando de nossas mãos, mas ela está acontecendo em tempo real, que é o período em que estamos dormindo, e que faz parte da vida, e não da morte.
De vez em quando sonho com minha mãe e sempre acordo animada por ela ter encontrado esse meio de me dar um alô, de me fazer recordá-la. Observo seu jeito, ouço sua voz e penso: quem roteirizou esse sonho? De onde vieram suas palavras para mim? A resposta lógica: meu inconsciente falou através dela, só que isso tira todo o encanto da cena. Prefiro acreditar que ela é que esteve no comando da sua aparição, me dizendo o que tinha para dizer, nem que fosse uma frasezinha à toa.
Nesse feriado de Finados, o que se pode desejar para os inúmeros saudosos de mães, de maridos, de netos? Que os sonhos abracem a todos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O súbito encanto de Marina Silva- Arnaldo Jabor



Não, o Palácio de Inverno de São Petersburgo da Rússia em 1917 ainda não será tomado pela onda vermelha.Não. Agora, o PT vai ter de encarar: estamos num país democrático, cultural e empresarialmente complexo, em que os golpes de marketing, os palanques de mentiras, os ataques violentos à imprensa não bastam para vencer eleições... (Por decência, não posso mostrar aqui os emails de xingamentos e ameaças que recebo por criticar o governo). O Lula vai ter de descobrir que até mesmo seu populismo terá de se modernizar. O povo está muito mais informado, mais online, mais além dos pobres homens do Bolsa-Família, e não bastam charminhos e carismas fáceis, nem paz e amor nem punhos indignados para a população votar. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras políticas vigentes, nada vai se resolver. Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas e nenhum carisma esconde isso para sempre. Já sabemos que administração é mais importante que utopias.
A campanha a que assistimos foi uma campanha de bonecos de si mesmos, em que cada gesto, cada palavra era vetada ou liberada pelos donos da "verdade" midiática. Ninguém acreditava nos sentimentos expressos pelos candidatos. Fernando Barros e Silva disse na Folha uma frase boa: "Dilma parece uma personagem de ficção e Serra a ficção de uma personagem." Na mosca.
Serra. Os erros da campanha do Serra foram inúmeros: a adesão falsa ao Lula, que acabou rindo dele: "O Serra finge que me ama"...
Serra errou muito por autossuficiência (seu defeito principal), demorando muito para se declarar candidato, deixando todo mundo carente e zonzo, como num coito interrompido; Serra demorou para escolher um vice-presidente (com a gafe de dizer que vice bom é o que não aporrinha), fez acusações ligando as Farc à Dilma, esculachou o governo da Bolívia ainda no início, avisou que pode mexer no Banco Central e, quando sentiu que não estava agradando, fez anúncios populistas tardios sobre salário mínimo e aposentados. Nunca vi uma campanha tão desagregada, uma campanha antiga, analógica numa época digital, enlouquecendo cabos eleitorais e amigos, todos de bocas abertas, escancaradas, diante do óbvio que Serra ignorou. Serra não mudou um milímetro os erros de sua campanha de 2002. Como os Bourbon, "não esqueceu nada e não aprendeu nada".
A campanha do primeiro turno resumiu-se a dois narcisismos em luta.
Dilma. Enquanto o Serra surfava em sua autoconfiança suicida, a Dilma, fabricada dos pés ao cabelo, desfilava na certeza de sua vitória, abençoada pelo "Padim Ciço" Lula.
Seus erros foram difíceis de catalogar racionalmente, mas os eleitores perceberam sutilezas na má interpretação da personagem, como atrizes ruins em filmes.
O sorriso sem ânimo, riso esforçado, a busca de uma simpatia que escondesse o nítido temperamento autoritário, suas palavras sem a chama da convicção, ocultando uma outra Dilma que não sabemos quem é, sua postura de vencedora, falando em púlpitos para jornalistas, sua arrogância que só o salto alto permite: ser pelo aborto e depois desmentir, sua união de ateia com evangélicos, a voracidade de militante - tarefeira, para quem tudo vale a pena contra os "burgueses de direita" que são os adversários, os esqueletos da Casa Civil, desde os dossiês contra FHC, passando pela Receita Federal (com Lina Vieira e depois com os invasores de sigilos), sua tentativa de ocultar o grande hipopótamo do Planalto que foi seu braço direito e resolveu montar uma quadrilha familiar. Além disso, os jovens contemporâneos, mesmo aqueles cooptados pelo maniqueísmo lulista, não conseguem votar naquela ostentada simpatia, pois veem com clareza uma careta querendo ser cool.
Marina. Os erros dos dois favoritos acabaram sendo o grande impulso para Marina. No meio de uma programação mecânica de marketing, apareceu um ser vivo: Marina. Isso.
Uma das razões para o segundo turno foi a verdade da verde Marina. Sua voz calma, sua expressão sincera, o visível amor que ela tem pelo povo da floresta e da cidade, tudo isso desconstruiu a imagem de uma candidata fabricada e de um candidato aferrado em certezas de um frio marqueteiro.
Marina tem origem semelhante à do Lula, mas não perdeu a doçura e a fé de vencer pelo bem. Isso passa nas imperceptíveis expressões e gestos, que o público capta.
Agora teremos um segundo turno e talvez vejamos um PSDB fortalecido pela súbita e inesperada virada. Desta vez, o partido terá de ser oposição, se defendendo e não desagregado como foi no primeiro turno, onde se esconderam todos os grandes feitos do próprio PSDB, durante o governo de FHC.
Desde 2002, convencionou-se (Quem? Por quê?) que o Lula não podia ser atacado e que o FHC não poderia ser mencionado. Diante dessa atitude, vimos o Lula, sua clone e seus militantes se apropriarem descaradamente de todas as reformas essenciais que o governo anterior fez e que possibilitaram o sucesso econômico do governo Lula, que cantou de galo até no Financial Times, assumindo a estabilização de nossa economia. E os gringos, desinformados, acreditam.
Além disso, com "medinho" de desagradar aos "bolsistas da família", ninguém podia expor mentiras e falsos dados que os petistas exibiam gostosamente, com o descaro de revolucionários "puros". Na minha opinião, só chegamos ao segundo turno por conta dos deuses da Sorte. Isso - foi sorte para o Serra e azar para a Dilma.
Ou melhor, duas sortes:
O grande estrago causado pela súbita riqueza da filharada de Erenice, ali, tudo exibido na cara do povo, e o reconhecimento popular do encanto sincero de Marina.
Isso salvou a campanha errática e autossuficiente do José Serra, que apesar de ser um homem sério, competentíssimo, patriota, que conheço e respeito desde a UNE, mas que é das pessoas mais teimosas do mundo.
Duas mulheres pariram o segundo turno. Se ouvir seus pares e amigos, poderá ser o próximo presidente. Se não...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

CRESCER COMPENSA!

Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor.



Carregamos dentro de nós uma criança que não quer crescer e ela exige de nós, muitos reparos.
Se não soubermos como administrar ou conduzir essa criança, ela pode provocar muitos estragos.
A maior parte dos nossos conflitos estão relacionados a essa criança internalizada .
Quando procurei ajuda de um psicoterapeuta, dei o primeiro e grande passo para a maior conquista da minha vida : o meu crescimento interior. Através da expurgação das dores da alma fui elaborando traumas e conflitos inconscientes. Desta forma consegui resgatar minha auto-estima e o meu amor próprio. O crescimento conquistado através do reconhecimento da minha carência , fez com que eu passasse a entender que a única pessoa responsável para cuidar e atender as necessidades de minha criança interior , era eu mesma - que não ia me levar a lugar nenhum ficar arranjando desculpas nem culpados para ficar mantendo o papel de vítima e coitadinha. Deixar para trás a pena de mim mesma, foi talvez a parte mais complicada do processo . Entender e desenvolver a empatia por meus pais reconhecendo a carência e limitações deles foi talvez a maior conquista deste meu processo . Conquistar esse crescimento minimizando as carências afetivas e a dependência nas relações afetivas foi sair do vicio das lamentações.
Entendi que não existe "cura" mas apenas tomadas de consciência para comportar todos os conflitos da nossa história de vida. Nossas memórias de dor sempre estarão presentes dentro de nós e pode eclodir a qualquer momento. Com o tempo ela vai perdendo a força sobre nós e passamos a ter mais equilíbrio nas nossas emoções.
Essa conquista é adquirida pelo amadurecimento psíquico. Crescer é um trabalho duro e leva toda uma vida. Quem adentra nesse processo vai enfrentar dor e sofrimento, mas vai ser esta capacidade que vai permitir sabermos discernir quando podemos ser infantis e quando devemos agir como gente grande.
É esvaziando a dor que o prazer entra na nossa vida!É sendo adulto que poderemos nos dar ao luxo de brincarmos de infância.
Hoje em dia, a minha criança interior é feliz. Eu consegui fazer um acordo com ela. Na hora em que preciso agir como adulta, ela deve ficar quieta - ela sabe que logo que posso, eu a deixo se expressar. Essa criança é a minha louca espontaneidade, falar alto, dizer o que penso, falar pelos cotovelos, comer guloseimas até dar dor de barriga.
A minha criança sabe que conta com meu apoio, com meu respeito e com toda a minha dedicação. Mas que deve obedecer e respeitar os meus momentos de lucidez e responsabilidade.

domingo, 10 de outubro de 2010

FUCK YOU



Nem o direito a não querer mudar de vida a gente tem. Quantas mulheres já tentaram, persistiram e, quantas, meu Deus, fracassaram? Estas histórias, as revistas não mostram. Ou seja, essas drogas de revistas não servem nem pra nos colocar no nosso lugar. Elas deviam dizer: “Você, querida gorducha, se toca e desiste. Vá se matar de comer doce que ganha mais”. Não, nada disso. Mostram aquelas magras filhas da mãe, que perderam milhões de quilos tomando sopa, mais dezenas de celulites em roupas plásticas e outro monte de gordura na privada, metendo o dedo na goela.
Sempre fiz de tudo para me dar bem acreditando e vendo o que as pessoas são além da aparência. Menosprezo ninguém merece! O desgraçado do meu marido chega toda semana com uma dessas porcarias de revista, repleta de dicas e receitas, para eu emagrecer. Não posso ser assim? Ameaçou até sair de casa e disse que eu preciso me cuidar mais e me valorizar. Será que eu não posso, pura e simplesmente, dar mais importância a meu cérebro do que a essa droga de barriga retíssima?
Agora, vem cá. Como é que eu, com essa idade, vou jogar um casamento de tantos anos fora? Não teve jeito. Faz uma semana que estou correndo lá na quadra do prédio. E, o pior de tudo, meu Deus, são aquelas crianças brincando, correndo atrás de mim, cheias de gracinhas, elas quase me fazem tropeçar. Juro que, se eu cair, derrubo uma delas e ainda rolo por cima. Vai até ficar grudada no chão, a peste. Sem mencionar os cachorros latindo, felizes da vida, como se eu estivesse ali só para brincar com eles. Quero morrer!
Arquitetei um plano para provar àquele traste como essas revistas são mentirosas e manipuladoras. Todos os dias, depois da minha corrida diária, tomo banho calmamente e me sento tranqüila em meu sofá diante da TV. Desenterro todos os meus filmes de romance antigos. Estou aproveitando para rever todos eles. Hoje, pela vigésima vez, assisti “Tarde demais para esquecer”. Isso me dá tanto apetite emocional que devoro todos os doces, chocolates e sorvetes que meu bom salário me permite comprar. Bom salário, aliás, conseguido por conta do meu cérebro, e não da minha bunda!
Já engordei sete quilos em quase um mês.
Vamos ver quem ganha: eu ou a droga da Boa Forma!(Samantha Abreu)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA

Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA: "Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das q..."

A ESCOLHA



Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.
Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das que me fizeram hesitar muito até escolher Serra.
Se, por acaso, parecer uma metralhadora giratória, saiba que não é esta a intenção, muito menos o objetivo.
Não gosto do PT porque não gosto de nada radical. Portanto, não voto nele, embora, se Lula fosse candidato, provavelmente teria meu voto.
Infelizmente, no nosso sistema eleitoral, ao contrário do que parece, votamos primeiro no partido – e nas coligações – e depois no candidato.
Isto explica como, por exemplo, Luciana Genro com mais de cem mil votos no RS, não se elegeu (ainda bem), enquanto outros, com votação bem inferior, conseguiram a vaga.
Explica como Tiririca, em SP, com mais de um milhão de votos, trouxe com ele candidatos com votação mínima, deixando de fora outros com milhares de votos.
O fenômeno já havia acontecido com o famoso Enéas, nas eleições anteriores, sobrou tempo para a lição ser aprendida, mas o Congresso... Bem, já falei o que penso dele.
Isto se chama, no nosso ultrapassado e corrupto sistema político, de coeficiente eleitoral dos partidos e coligações que, em outras palavras, justifica o abuso do poder econômico pelos grandes partidos.
Lula conseguiu, com habilidade e inteligência, afastar ostensivamente do governo os petistas envolvidos com o mensalão, especialmente José Dirceu e José Genuíno.
Acredito que, sobre isto, não há dúvidas.
Dilma terá esse poder? Sinceramente, não creio. Até acho que ela pensa como eles.
Dilma, a quem conheço dos tempos de Universidade – fomos contemporâneos em faculdades diferentes – ingressou de corpo e alma, na luta armada contra a Ditadura.
Respeito isto, e muito. Não condeno a guerrilha, o movimento libertário contra o esbulho militar praticado em 1964.
Na guerrilha luta-se, armado, contra homens armados. Os soldados, treinados para matar, enfrentaram pessoas dispostas a matar por uma causa, e a morrer por ela também.
Porém, Dilma se excedeu. Saiu da heróica luta ideal e ingressou no terreno insuportável do crime comum, de assalto a bancos, sequestros e, a pior de todas as coisas, o terrorismo.
Terrorismo é obsceno! Terrorismo é atacar pessoas que não se sentem ameaçadas. É matar indiscriminadamente, sem possibilitar a defesa. É a bomba que explode na rua, no edifício, na loja.
Não há redenção para este crime, é como eu penso, é como eu sinto.
O terrorista despe-se de humanidade, é um ser brutal, sem o mínimo de empatia, não há causa, não há ideal que justifique o terrorismo. Nem a mais cruel das ditaduras.
Vejo Dilma falar e não consigo imaginar que esta pessoa não é aquela pessoa.
Acho mesmo que se trata da mesma pessoa. Percebo, com clareza, seu viés autoritário, sua arrogante complacência e sua indiferença com o indivíduo.
Nela, ainda fulgura o brilho ideal de sua causa, que legitima sua consciência para fazer qualquer coisa, desde que em nome da causa.
E, o que me dá mais medo, não sei qual é a causa idealizada por Dilma, na atualidade.
Não gosto de mensagens demonizadoras e deleto todas as que recebo, sem ler até o final. Dilma isto, Dilma aquilo, verdades e mentiras se misturam de tal forma que não se distingue umas das outras.
Prefiro ficar com minha percepção, com os fatos que conheço por mim mesmo, para dizer – mesmo que você não tenha me perguntado – que não votarei na Dilma.
Sobrou – para os meus ais – o Serra.
Não que eu tenha algo pessoal contra ele, muito pelo contrário. Mas o Serra, como candidato, possui um quê de fragilidade que dá no que pensar. E, também, nos nervos.
Ele, como a Dilma, engajou-se no movimento contra a ditadura e, como líder estudantil presidente da UNE, arriscou o pescoço a valer.
Entretanto, não perdeu a humanidade, e isto conta muito. Che Guevara não perdeu, como Fidel, a humanidade.
Líderes revolucionários que não perdem a humanidade, são homens a considerar.
Por quê, senhor, Serra precisava usar os elogios de Lula, na sua campanha, assinando um atestado de absurda ingenuidade política?
Serra é um político que, parece, não ultrapassou os limites dos conchavos de Centros Acadêmicos, disposto a ceder, ceder, ceder até o que não pode ser cedido.
Ao contrário do PT, sempre disposto a comprar, dinheiro se arranja, nas malas, nos correios, nas cuecas.
E se, ao contrário do que parece, Serra não for de ceder? E se, na Presidência da República, Serra revele a mesma dureza, frieza e intransigência que percebo no olhar de Dilma?
É improvável, mas temo por isso.
É importante dizer a você que o dilema é meu. E não pretendo transferi-lo a terceiros. Até porque, por incrível que pareça, encontrei uma saída, a revelar que, no final das contas, não se trata de um dilema verdadeiro.
Talvez, e é provável, você não concorde com a minha saída, você não tem nenhum dilema, já sabe o que vai fazer.
Portanto, não se ofenda.
Eu vou votar no Serra, porque a minha opção verdadeira, a Marina, não passou para o segundo turno. E olhe que não sou um ambientalista, eventual ou fanático. Sou perfeitamente capaz de derrubar uma árvore, se ela estiver me atrapalhando.
Entretanto – e talvez isto faça uma diferença – sinto a obrigação de revelar o que mais me incomoda, o que me incomoda acima de tudo e faz com que minha opção seja, no mínimo, coerente.
Quando Dilma ainda era do PDT e se dedicava, com competência, ao assunto das Minas e Energias aqui no RS, vi pela primeira vez Collor de Mello. E lembrei, na hora, de Dilma.
Depois de tantos anos e de tantos acontecimentos, ouço e vejo Dilma falar. E, na minha cabeça, a imagem de Collor toma conta.
É uma imagem que machuca o cérebro, de um homem furioso, dono da verdade e despido de sentimentos de culpa. Um homem que não se arrepende.
Um homem que não se arrepende é capaz de todas a ignomínias.
Por fim, como argumento derradeiro a amparar minha decisão, que não cogita do voto nulo ou branco, jamais votarei, seja quem for o candidato, em alguém que Sarney apoie.
É indispensável, para que sejamos realmente uma democracia, que figuras assim, representantes das nossas piores tradições, sejam extirpadas da cena política, eles que cuidem das suas fazendas, das suas contas bancárias – aqui e no exterior – e nos deixem em paz, a construir um País verdadeiro, com espírito de Nação.
José Serra, em quem vou votar na falta de outra opção, é uma reminiscência da antiga política de bar de Faculdade, longe de ser ideal, mas tolerável.
Dilma? (Paulo  Wainberg- advogado gaúcho)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Doidas e Santas- por Elisa Lucinda




Ontem fui ver Doidas e Santas, peça que reúne textos de Martha Medeiros, estrelada por Giuseppe Oristânio, Josie Antello e Cissa Guimarães, roteirizada por Regiana Antonini.  Pode parecer  triste  o que vou dizer, mas a peça que já ia muito bem ,obrigada a fazer sessões duplas extras , é sucesso retumbante ainda mais depois que perdemos o Rafael, filho da protagonista. O primeiro pensamento pode revelar uma aparente e imediata morbidez da platéia. Estranha curiosidade da humanidade de ver de perto a também grande protagonista da vida real de uma tragédia. Embora no palco o que esteja em foco seja a tragicomédia da humanidade, não é só para curti-la ou bisbilhotá-la que vamos ao teatro agora. Que me perdoem os pessimistas de plantão, mas a solidariedade e a fé na vida são as rainhas desta motivação. Como a Cissa representa para o Brasil alguém gente boa, de pontual sorriso e  da nossa família, primeiro é a consideração  que nos leva a vê-la. Comovidos, nosso ingresso é o nosso abraço, nosso consolo, nossa atenção e nossa cumplicidade à dor de uma mãe que perdeu um filho e em menos de um mês, já está , dignamente, a exercer o seu ofício. E ai é que se concentra o maior motivo e a maior justificativa do aumento da presença do público numa peça, repito, que já estava carimbada pelo sucesso. Não desprezo aqui a verdade cruel que nos mostra a toda hora esta atração que as tragédias exercem sobre a doida humanidade, que corre para ver acidentes, crimes e corpos nas calçadas, e se alimenta da notícia , entre o choque e a fofoca .Não sou ingênua a ponto de não reparar nesta loucura.  Mas  a humanidade que foi ver  a peça após o o atropelamento de Rafael, foi especialmente ao teatro para receber a preciosa lição de superação ao vivo. Pois ,como pode um coração materno esfacelado encontrar mais chão para nos abrigar nele? Onde esta terra emocional, este planeta-gente barbaramente golpeado encontra forças para  nos oferecer seu amor? Com a divina generosidade dos injustiçados, Cissa nos unge com sua coragem. É bom que saibam, os que tais bastidores desconhecem, que nós atores estamos acostumados a esta devoção laboral que nos põe em cena, apesar de uma febre alta, cólicas, cansaços, tristezas e até fraturas internas e externas; Porém, é sabido que a dor da perda de um filho é a maior do mundo. Fere a ordem hierárquica das passagens: Primeiro os mais velhos, e que assim seja! Há aqueles que nunca mais levantam da cama, há os que morrem em seguida de desgosto e profundíssima depressão e há aqueles cuja loucura provocada pela lancinante dor sem remédio , assume a direção da casa e a tudo desmorona: Há os que, porque vitimados pela injustiça ,pela corrupção e impunidade, se convertem numa gosma de ódio e o disparam, entres sorrisos de vingança contra tudo e contra todos. Por fim, há os raros como Christiane Torloni e Lucinha Araujo  que perderam seus filhos, meu pai Lino Gomes que perdeu uma filha e nossa Cissa Guimarães. Isto, só para citar alguns que estão na categoria iluminada; conseguem esticar o fôlego de sua potência amorosa e, no seu processo de auto recomposição nos reconstruir também, vejam  só. Na peça , ela chora várias vezes , ri também e passa do choro pro riso dentro da personagem Beatriz .Cissa, muito bem cuidada pelos seus talentosos colegas de palco, encara os temas amor, filhos, separação, mãe e morte, com a maestria dos sábios e a resistência dos ultrajados. Munida de uma descomunal esperança num mundo melhor, essa moça-jovem-senhora- desdobrável-mulher linda , ainda luta por nós e nossos filhos quando não teme o andamento das investigações e avança com sua verdade e história como instrumentos para punir os culpados e nos garantir um futuro onde a paz seja a notícia. Claro que não há cartilha para se educar um filho direito, mas não precisa mais ninguém morrer para ficar provado que propina, proteção, conivência são os cupins de nossa  sociedade. A despeito de tantos esforços nossos e de muitos outros cidadãos do bem, quadrilha, polícia e família ainda rimam. Pois é, dentro da mesma humanidade que assassina há a que salva. É muito difícil aprender com a dor. Ainda mais uma dor dessa que nem nome tem e transforma os pais em órfãos dos filhos. Mas nós lotamos o teatro para testemunhar que é possível, ainda que sangrando, aprender, crescer e ensinar. Esta cena nos remete aos santos; ao mito do São Sebastião flechado e ainda assim sereno. O teatro recupera quem a ele se entrega. Doida e santa a humanidade assiste ao mistério.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: 'Esta eleição nem Cristo me tira"- por Dilto Nunes...

Devaneios etcétera e tal...: 'Esta eleição nem Cristo me tira"- por Dilto Nunes...: "O comandante do Titanic, em sua viagem inaugural, disse que o navio era tão potente e tão seguro que nem Deus o faria naufragar. E olha no q..."

'Esta eleição nem Cristo me tira"- por Dilto Nunes

O comandante do Titanic, em sua viagem inaugural, disse que o navio era tão potente e tão seguro que nem Deus o faria naufragar. E olha no que deu. Um iceberg se encarregou do trabalho.

Fiquei apavorado com esta declaração de nossa futura Presidente. As eleições estão em andamento e ela desafia Deus. O comandante do Titanic, em sua viagem inaugural, disse que o navio era tão potente e tão seguro que nem Deus o faria naufragar. E olha no que deu. Um iceberg se encarregou do trabalho. Isto não quer dizer que Deus afundou o Titânic, mas o comandante mostrou uma postura tão afrontosa que desafiou os astros. Agora vejo nossa candidata, usando da mesma postura. Acho que Cristo não a vencerá desta vez. E quero entender o por quê. Então volto ao passado e vejo quando Ele foi levado até Pilatos para seu julgamento final. Este não tinha convicção de que Jesus merecia uma pena máxima. Na dúvida, entregou ao povo seu destino, e lavou as mãos. O povo poderia libertar Cristo ou Barrabás, um criminoso de alta periculosidade. O povo libertou Barrabás e mandou Cristo para cruz. Será que agora Ele quer se vingar do povo entregando-o para Dilma? Jesus, pelo amor de Deus, nós não fazíamos parte daquele povo que gritava "crucifica, crucifica". Já faz muito tempo. Deves perdoá-los, pois eram ignorantes e grosseiros e sei que assim o fizeste. Sei, também, que colocaste no Brasil, a melhor terra, o melhor litoral, florestas mil, em detrimento de outras nações, que só têm desertos, tremores de terra, geleiras, enchentes, guerras e tudo que de ruim pode se pensar. O Brasil então ficou dotado das coisas mais lindas e da riqueza que a natureza pode oferecer. Porém, em compensação, que povinho colocaste em cima de todos esses tesouros. Pois é ele que irá conduzir Dilma à Presidência. E aí eu fico pensando. Será Jesus que estás revidando aquilo que fizeram contigo? - Não, não acredito, pois este país é o mais católico do mundo. Então deve haver outro motivo. O povo se ilude com bolsas, com invasões, com regalias de todas as espécies enquanto o processo de corrupção se alastra por todo o território e o endividamento cresce assustadoramente. Ele está sendo conduzido para um abismo tão grande que somente terá como solução uma ditadura, sem outra alternativa. Tomara que tenhas pena dos coitados brasileiros e os salve deste flagelo. Mostra tua força. Amém.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: OUTUBRO ROSA- O SEIO ESQUERDO...

Devaneios etcétera e tal...: OUTUBRO ROSA- O SEIO ESQUERDO...: "Quero fazer neste outubro, que é o mes do cancer de mama, uma homenagem a minha mãe e a todas as mulheres que precisaram extirpar um seio p..."

OUTUBRO ROSA- O SEIO ESQUERDO...

Quero fazer neste outubro, que é o mes do cancer de mama,  uma homenagem a minha mãe e a todas as mulheres que precisaram extirpar um seio para continuar vivendo.Nunca vi um poema( abaixo) retratar a  verdadeira e intensa dor de uma mulher  vivendo dia após dia, desde a noticia fatídica no exame, à cirurgia,  radioterapia, quimio, sempre necessitando se olhar no espelho ao sair do banho, ou no simples ato de  colocar uma blusa, ou mesmo ao fato intuitivo de  olhar outras mulheres que possuem os dois seios intactos e se lembrar do seu que falta, sem  se perguntar: por que eu, meu Deus?
.Foi uma dor nunca revelada para nós filhos, em palavras,  lamurias, em choro ou depressão. Foi uma dor só dela, um luto jamais repartido com ninguém! Mas deve ter sido muito difícil viver com aquele enchimento no lado esquerdo, que só ela sabia que era uma espuma imitando  um seio verdadeiro, seio que já havia sentido o prazer de um beijo, de amamentar os filhos, enfim, se prestado ao papel que ele deve cumpir.
Mentir aos outros , diariamente, que ela era uma mulher inteira, deve ter sido muito difícil!
Por isto à todas as mulheres que como minha mãe souberam aceitar este estigma com dignidade e coragem, meu carinho e solidariedade.


Aconteceu.
Ninguém espera
E, na primavera,
Foi-se o seio esquerdo.
Foi-se o toque,
Ficou a sensação fantasma.
Foi-se o alimento,
Ficou o vazio no peito.
Como ser mulher, sem o seio esquerdo?
Como ser mãe, sem a mama esquerda?
Como ser profissional, sem o outro par?
Como se olhar no espelho, nua?
O seio direito, encabulado,
Só e pendurado,
Emoldurando o luto
Do parceiro canhoto.
Está faltando o outro.
São dois,
Originalmente dois.
Há que ser dois.
Nunca mais seus dedos
Apertando a carne macia e rosada.
Nunca mais sua boca
A brincar de trincar e arrepiar.
Nunca mais a dança sensual
Dos pares no banho
E entre lençõis de cetim.
Há um imenso vazio
Bem maior que a mama!
Que atinge camadas profundas
Da própria natureza fêmea.
Há a ausência constante
Lembrada todo o tempo
Pelo traço da cicatriz
Dessa ferida que não fecha.
Há a dor, os ductos, os lutos
Mágoa infiltrante, ingrata, infeliz.
Dias vividos sem perceber
E para quê viver?
Olhos que nunca repararam
Agora recusam-se a olhar.
Não tem remédio,
Não tem escolha,
Tem alopécia, náusea e dor.
Tem quimioterapia,
Tem agonia
Solidão de espinho e flor.
Tão falso o enchimento
Disfarça a roupa
Como peruca da alma
Que dribla olhares piedosos.
De mulher barbada de circo
Que extirpa seus próprios caroços.
Os dias arrastados, as horas contadas
Quando volta ao normal?
Quando se acorda do pesadelo?
Ou tentar esquecê-lo...
É tão desigual, tão caolha
Fica sem sentido, tão velha
Um robusto, imponente, desejável!
Outro, um traço doente, indelével, lamentável.
Luta diária e desanimada
Para sobreviver — corpo sem jeito
Mulher sem peito, que cala o grito
Tempo finito, seio bonito
Que se foi.
(Lilian Maial )

Abandonos permitidos



Costumamos controlar todas as situações e muitas vezes nos perdemos quando o assunto sugere outra pessoa.

Somos como o cão sedento que olha para o riacho e não consegue saciar sua sede por medo de seu próprio reflexo na água.
Neste ponto ou se afasta e morre de sede ou simplesmente enfrenta-se o medo e alcança-se a solução do que há minutos parecia nos matar.
Pois bem, entrar em um novo relacionamento é tão difícil quanto à situação da fabula, ou ficamos o tempo todo examinando o novo que chegou, refletindo nele o que já vivemos ou nos atiramos de vez e realizamos nosso desejo de correr de novo: riscos, perigos, certezas, dúvidas, choros, sonhos, risos, realidade… pelo menos tentaremos, não nos deixaremos morrer na encruzilhada, sem querer tomar novo rumo.
É claro que a tendência será de sermos mais cautelosos, todavia necessário se faz o apostar de novo, mesmo que lá na frente não tenha sido como o compositor disse: “começar de novo, vai valer a pena…”, mas teremos feridas a cuidar ou flores a colher.
Entre duas opções, uma boa outra ruim, se nos amamos de verdade e nos valorizamos, é claro que acreditaremos no melhor. A fantasia positiva talvez nesta hora possa alimentar um interior sofrido e que merece nova chance. Cuidado apenas para não vestirmos de idealizações um ser humano igual a nós mesmos.
Basta então saber que haverá defeitos e erros, comuns a qualquer humano, e que para nos acompanhar, dar prazer, merecer carinhos e reciprocamente amor, ninguém há que ser maior ou inferior a nós mesmos.
Medirmos a figura que se apresenta nas águas exatamente como nós nos julgamos e nos conhecemos talvez seja o segredo do sucesso de começar de novo .(Dulce de Melo)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: 50/60 A dificuldade da perda do calcio, elastina, ...

Devaneios etcétera e tal...: 50/60 A dificuldade da perda do calcio, elastina, ...: "Todo ano a mesma marcação de hora: ginecologista,exame de mamas, oftalmolo, dentista...prevenção seria a palavra correta. Em março, entret..."

50/60 A dificuldade da perda do calcio, elastina, colágeno,etc...etc...


Todo ano a mesma marcação de hora: ginecologista,exame de mamas,  oftalmolo, dentista...prevenção seria a palavra correta. Em março, entretanto, comecei a sentir a pele criar uns vincos e aquela papadinha de peru a se pronunciar levemente( e olha que não ligo muito prá estas coisas) . Foi algo inusitado.Olhei no espelho e não gostei do que vi. Onde está meu osso marcando meu maxilar?Será que a descalcificação o desintegrou? Fui em outro espelho pois sei que alguns de má qualidade nos desintegram a ponto de termos uma depressão tipo a puerperal.
Aí fiz o pior: resolvi pegar um espelho de aumento:Meu Deus, o que vi ali era inerranável: rugas profundas, pintas vermelhas, pretas, beges, lábios com os cantos  caídos, olhos empapuçados, e depois deste aumento nas proporções dos defeitos ali aparentes nem quis olhar o corpo de perto pois a celulite diria -"oi" ainda não tinha me cumprimentado!
Nem tive coragem também  de ver se alguma daquelas veias  pequenas azuis e vermelhas  já se tornavam presentes nas minhas pernas.Faltou coragem.
Marquei hora na dermato,: -sim a primeira que estiver vaga, disse para a secretária.
Temos uma brecha, me respondeu ela, daqui ha duas horas.Vai esta mesmo.Minha apreensão era tanta que nem pensei que tinha mil coisas a fazer naquela tarde.Mas o plano médico nos dá este beneficio, nem sempre precisamos de dinheiro na hora de tirar a dor no peito.
Quando entrei na sala, fui olhada por um espelho tres vezes maior que o meu sob uma luz  de não sei quantos megas.Ainda colocou uns óculos enormes para me enxergar melhor.Me lembrou a estória da vovó e do lobo mau. Ela( que a todas estas  já estava mais para lobo mau que para dermato) com toda esta parafernália vai ver muito mais do que eu vi ...e certamente vai chamar a funerária.Caso perdido, imaginei.
Depois do exame  começou a escrever e não parava mais num papel branco.Parecia séria. Eu de um lado e ela do outro do bloquinho.O que tanto achou em mim?Foram momentos que não via luz no fim do tunel e me lembrava dos meus trinta anos, com tudo nos trinque, olhos iluminados, pele viçosa, cabelos brilhantes, e uma facilidade de emagrecer imensa.Em dois dias perdia as medidas que queria tirar das nádegas ou do culote.Era só malhar bastante e tirar um pouco da doçura.Mas agora?Estou há 6 mses para perder 3 kilos e parece que cada grama é uma eternidade.Odeio estes hormônios maquiavélicos dos 50/60 anos.Por que nos maltratam tanto?
Quando a dra. começou a enumerar por nomes os tratamentos que eu precisava me submeter, carboxoterapia...tiraria manchas de um sol acumulado há décadas por não ter obedecido os horários estipulados , olheiras que era de cansaço e preocupações, outro, não sei o que "de cristal." - não era anel nem brinco- era ums espécie de peeling , uma coisa ardida que passaria no meu rosto e eu ficaria vermelha por bom tempo me escondendo dos amigos. E assim a lista não acabava mais.Nem quis mostrar ou falar no corpo porque aí teria que vender a casa para me tratar com ela.
Resumo: saí dali e fiquei entre entrar em uma capela e rezar ou tomar um porre e esquecer.Preferi o porre. Entrei num barzinho, sentei numa mesa com toalhinha xadres, já estava vendo pintas malignas nas pessoas que cruzavam por mim , sabe aquelas pretas e sem bordas definidas?
Sentei, chamei o garçon e quando olhei prá cara do sujeito prá pedir uma caipira  notei que as rugas nele eram acentuadíssimas , uns sulcos, umas crateras imensas e ele nem parecia preocupado,olhei para a sra da caixa que tinha verrugas na ponta do nariz e nem por isto se escondia de ninguém e uma sra sentada em uma mesa lateral a minha namorava com olhar de paixão um homem de óculos fundo de garrafa e nariz adunco.
Quer saber de uma coisa?
Ao invés de plástica para repuxar papada, carboxo para tirar olheiras, creme da ROC para acabar com as manchas senis, vou comprar uma passagem de promoção, bem baratinha, e vou para as ilhas Maldivas ou para a Croácia porque com aquela paisagem toda quem vai querer olhar para minha cara?
E fiquei ali curtindo minha caipira de wodka e me achando linda ao me comparar com as presenças que acabara de avistar.
























(Gostaria muito de saber quem é a autora desta pérola!!!!!!!!!)