quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ainda virgem?Vamos para 2011..

"Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. "Paulo Wainberg


Li que na França, um Juiz de Direito anulou um casamento porque a noiva não era virgem!

Imagino a cena: suíte de luxo no hotel cinco estrelas, champanhe gelada, sorrisos, a noiva retorna do banheiro com seus negligées sedutores e estende-se ao leito, pronta para a ação.
O noivinho, ansioso, promete carinhos e cuidados, jura que não vai doer, que ela, a sua amada, vai gostar e, enquanto fala, vai enfiando a mão á valer. Ela, louca para receber seu amado, entrega-se à paixão.
Tudo pronto, as preliminares concluídas, todas as palavras ditas e lá vai o rapaz, com delicadeza e cuidado, invadir o tão cobiçado território, sabendo que terá ainda um último obstáculo a superar: o hímen da mulher amada.
E manda ver.
É quando explode o escândalo!
Você decide: ele armou o escândalo quando percebeu que o virginal obstáculo já fora removido por outro desbravador? Ou concluiu o serviço e só então foi se queixar ao Bispo, ao Mulá ou, no caso, ao Juiz?
Quando comecei minha recente carreira de advogado, no ano de 1968, a noiva não ser virgem era motivo para anular o casamento, sim senhora. E o marido traído podia matar a esposa infiel porque seria absolvido pela legítima defesa da sua honra maculada.
Virgindade e fidelidade, qualidades femininas divinizadas por séculos, ainda são atributos celebrados pelas religiões e, ainda que num caso circunstancial, pela Justiça francesa.
Fantástico.
Com a imparcialidade que me é peculiar, ouso dizer que, do ponto de vista das religiões, a verdadeira divindade é o hímen feminino que, inadequadamente rompido, condena os participantes, circunstantes e observadores incautos às mais dolorosas penas celestiais.
Nada é mais sagrado do que um hímen, tão sagrado que o repuseram em Maria, mãe de Jesus, transformando José, seu marido de tantos anos em, no mínimo, um pobre eunuco, incapaz de deflorar a esposa, que teve de conceber com o hímen intacto.
Tão importante e fundamental a Sacra Membrana que a ordem divina de crescermos e multiplicarmo-nos foi adequadamente adaptada pela exigência do matrimônio sem o qual podemos apenas crescer, mas, multiplicar, jamais.
O Serviço de Proteção ao Hímen percorreu séculos de História, gerando verdadeiros exércitos de abstinentes, poluindo cortes judiciais de civilizações antigas, pré-antigas, meio-idosas, modernas e contemporâneas, exercitando-se em templos e catedrais à base de ameaças furibundas de castigos terríveis e sofrimentos atrozes.
Mulher sem hímen era impura por definição, sabendo-se que impuro é tudo aquilo que contraria as ordens religiosas.
Casar com mulher virgem era imposição cultural, social, religiosa e – por que não? – econômica, vistas as finalidades materiais de um casamento bem fornido.
E a jovem nubente que ousasse desfazer-se, ainda solteira, da Santa Membrana era, entre outras coisas, expulsa de casa, desterrada, morta na fogueira, execrada em público e, conforme antigos costumes, apedrejada em praça pública, exercício que algumas mentes mais, digamos assim, conservadoras, ainda acham exemplares.
O homem-bomba, por exemplo, se explode num shopping porque, fazendo isso, terá à sua disposição incontáveis jovens mulheres virgens, pelo resto da eternidade. É importante ressaltar essa condição de “jovens” porque ninguém vai se explodir se a recompensa eterna lhe reservar “velhas” virgens.
Eu não me explodiria.
Interessante que a concepção de pureza da mulher concentra-se na pele pré-vaginal. Pode rolar de tudo, dedos no clitóris, pau nas coxinhas, sexo oral, sexo anal, lambidas e mordidas, desde que se preserve a pelanca, reservada para os trabalhos da noite de núpcias, com manchas de sangue no lençol para não haver dúvidas.
A noiva assim casada, mesmo que se tenha esvaído em orgasmos mis, pré-nupciais e com diversos namorados é pura para as finalidades do credo e, portanto, apta a preservar o matrimônio, desde que não incorra no pecado do adultério que, mais do que pecado, ofende de morte a honra do marido.
“Ó tempora, ó mores”, afirmo eu como Cícero afirmou, há mais de vinte séculos, no Senado Romano.
Quem te viu, quem te vê, já comentou Chico Buarque de Holanda quando você era a mais bonita das cabrochas desta ala.
Não fossem as mulheres feias terem deflagrado o Movimento Feminista e estaríamos ainda hoje subjugados pelo Sagrado Hímen, pela Pelanca Fundamental a impedir homens e mulheres de acessarem-se mutuamente, em atos de amor, de paixão, de tesão ou de pura e explícita sacanagem o que – me contaram – parece ser muito bom.
E ainda estaríamos à mercê de Cortes Judiciais nutridas de preconceitos a sancionar a insensatez e o obscurantismo da intolerância religiosa, seus tabus, sofismas e dogmas absurdos da qual esse Juiz francês é um anacrônico modelo.
Menos mal que o Governo e a sociedade franceses repudiaram a sentença, escandalizaram-se com ela, afinal de contas o que é isso, meu? Onde é que estamos? Com quem o senhor pensa que está falando? Anular um casamento porque a noiva já tinha dado? Porque a virgindade era cláusula do contrato? Afirmo, do alto de minha cadeira de advogado que essa cláusula, se existiu, é nula de pleno direito, ferindo os mais comezinhos princípios do Direito e da Moral, inclusive sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, a definir-se, no caso concreto, quem era o consumidor.
Aliás, qual é a função biológica do hímen? Alguém sabe? Sua existência não será um defeito na evolução, um pelego desnecessário que, uma vez rompido, não deixa rastro, pegada nem impressões digitais?
Protegê-lo com tanta fúria como alguns fazem é o mesmo que negar as funções biológicas, entre elas comer, beber e, com perdão da má palavra, fazer cocô. Mulher pura faz essas coisas? Ó meus sais, quanta decepção…
Ironias à parte se eu fosse imperador da Áustria no Século XVIII, teria encomendado de Mozart uma Missa Solene chamada A Sagração do Hímen, que seria tocada obrigatoriamente em todas as cerimônias de casamento da Europa. Beethoven poderia ter composto a Décima Sinfonia, A Himenêutica e James Joyce, em vez de escrever o nunca lido e sempre citado Ulisses teria escrito a monumental obra O Hímen Caído, isto depois de percorrer todos os cabarés e casas de meretrício de Dublin num único dia.
Neste assunto sou radical e definitivo.
Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. Mulheres produzem sucos gástricos e espinhas no rosto, assim como os homens, e olha que não estou falando de outras nojeiras.
Às que já se desfizeram da Santa Membrana minha recomendação é: aproveitem que a vida é curta e é só uma.
E vocês, homens, francamente, me fazem vergonha. Virgindade é lá coisa que se exija de uma noiva contemporânea?
Nem minha sogra acredita mais nisso.
Se você pegar uma virgem, desvirgine, mas nem por isso sinta-se dono da garota. Acredite em mim: é muito melhor ser amigo do dono da piscina do que ter piscina em sua casa. Você passa o domingo tomando banho na piscina dele e vai embora sem se preocupar em saber se ele tem cloro em casa para purificar a água.
Recomendo que as Altas Instâncias da Justiça Francesa exonerem o tal Juiz, coloquem-no nas galés e o desterrem para a Ilha de Alba ou de Santa Helena onde ele poderá proferir suas sentenças sem incomodar ninguém nem me obrigar a escrever esta crônica.
Nem você a lê-la.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Férias.O que seria sem elas.

Não é fácil ser um gaúcho típico, classe média.
Mal acaba de desembrulhar os presentes de Natal e já está carregando o carro, colchão enrolado em cima, o aparelho de TV acomodado entre a imensa bagagem, crianças, o cachorro, câmara de ar que será bóia, tudo socado, rumo à estrada que a praia está chamando.
Fila na rodovia, calor danado, capaz de chover, pára de berrar, menino!, engarrafamento inevitável em Canoas, quatro horas de viagem para um trecho tão curto, o chevetão só ferveu uma vez, enfim o mar.
E então é aquilo de sempre, todos numa casa de dois quartos, a mulher trabalha feito uma moura, ele paga todas as despesas - o cunhado que sempre aparece nunca se coça..
 - cadê o menino, pelo amor de Deus, eu disse para ficar olhando, picolé, areia na sunga, queimadura de sol, ui como arde, bota vinagre, o banheiro sempre ocupado, o cunhado é desregulado.
Dormir amontoado não é mole, o cunhado é flatulento, pudera, come feito um cavalo, ainda se colaborasse, mosquitos, pagode no vizinho até de madrugada, mania de soltar foguetes.
 Quando acaba o feriadão repete-se a viagem, agora em sentido contrário: fila de novo, só deu um dia de sol, diabo de chuva, congestionamento irritante em Canoas, o carro ferve, enfim o lar.
Descarrega-se toda a tralha, cuidado com a TV, será que esquecemos alguma coisa?
- O menino! Cadê o Wanderson Kleyton?
A mulher desmaia, a sogra abre falação, o cachorro mijou dentro do carro, calma, liga pro vizinho na praia, pra polícia, eu volto para buscar, alguém me empresta um carro que o chevetão está no bagaço. Leva um ano para curar o estresse das férias. (desconheço o autor)

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?: "Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular? Deve..."

Que presente te dar?


Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular?
Deveria desatar inúmeros presentes ao pé da árvore,entreabrindo jóias, tecidos, requintados e pessoais objetos, ou deveria dar-te o que não posso buscar lá fora, mas o que em mim está fechado e mal sei desembrulhar?
Gostaria de dar-te coisas naturais, feitas com a mão, como fazem os camponeses, os artesãos, como faz a mulher que ama e prepara o Natal com seus dedos e receitas, adornos e atenção.
Te dar, talvez, um pedaço de praia primitiva, como aquelas do Nordeste, ou de antigamente - Búzios e Cabo Frio; um pedaço de mar das Ilhas do Caribe, onde a água e o amor são transparentes e onde a areia é fina e brilhante e, sozinhos, habitam a eternidade, os amantes.
Te dar aquele verso de canção um dia ouvida não sei mais aonde, se numa tarde de chuva, se entre os lençóis cansados; um verso, uma canção ou talvez o puro som de um saxofone ao fim do dia, som que tem qualquer coisa de promessa e melancolia.
Fugir uma tarde contigo para os motéis, quando todos os homens se perdem nos papéis e escritórios, números e tensões: fugir contigo para uma tarde assim,um espaço de amor entreaberto na peça que nos prega a burocracia dos gestos.
Gravar numa fita as canções que me fazem lembrar de ti e ouví-las, ou tocar de algum modo, em algum cassete as frases que disseste, que em mim gravaste: frases líricas, precisas, que quando estou cinza, relembro e me iluminam.
Te enviar todos os cartões que colecionas, de todos os lugares que conheço ou que tu nem imaginas, ir a essas paisagens e ilhas e habitá-las com os selos e palavras de interminente paixão.
Dar-te aquela casa de campo entre montanhas, aquele amor entre a neblina, aquele espaço fora do mundo, fora de outros espaços, sem telefone, sem estranhas ligações, para ali nos ligarmos um no outro em una e dupla solidão.
Se queres jóias, te darei. Aqueles corais que vendem na Ponte Vecchia, em Florença; o âmbar ou as pérolas que expõem nas lojas do Havaí; aquelas pedras de vidro para iridescentes colares, que vendem em Atenas, ao pé da Plaka, ao pé da Acrópole, que amorosa nos contempla.
Te dar numa viagem os castelos do Loire, e sair comendo e rindo juntos no roteiro gastronômico franco-italiano; ali comendo e aqueles vinhos bebendo, de tudo nos esquecendo, sobretudo dos remorsos tropicais de quem tem sempre ao lado um faminto desamparado, de culpa nos ferindo.
Te darei flores. Sempre planejei fazer isto. Tão simples: de manhã acordar displicente e começar a colher flores sob a cama. Ir tirando buquês de rosas, margaridas, vasos de íris, orquídeas que estão desabrochando e, uma a uma, de flores ir te cumulando. E amanhecendo dirás: o amado hoje está mel puro, seu amor aflorou e está me perfumando.
Escrever bilhetes pela casa inteira, metê-los entre as roupas, armários, prateleiras, pra que na minha ausência comeces a desdobrar recados daquele que nunca se ausentou, embora esse ar de quem vive partindo, mas, se alguma vez partiu partido foi para reunido regressar.
Te dar um gesto simples. Passar a mão de repente sobre tua mão, como se apalpa a vida ou fruto que pede para ser colhido.
Te dar um olhar, não aquele olhar distraído, alienado de quem está nas coisas prosaícas perdido, mas um olhar de quem chegou inteiro e que se entrega enternecido e desamparado dizendo: olha, sou teu, agora veja lá o que vai fazer comigo.( Affonso Romano de Sant'Anna)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um vislumbre do fim.

Este trecho de Clarice Lispector traduz (infelizmente) meu estado de alma neste final de ano.
Que 2011 me revigore em esperanças.Amém




Uma vez eu irei.
 Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações.
 Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria.
 Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou!
Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo.
Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.: "Prezada Consultora Sentimental ! Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério. Eu tenh..."

DILEMA SENTIMENTAL.






Prezada Consultora Sentimental !
Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério.
Eu tenho uma namorada que eu amo intensamente e quero casar com ela. O meu problema e' que tenho receio que a minha gata não se identifique com a minha família, e isso venha a gerar conflitos no nosso relacionamento.
Papai é chefe do tráfico e tem atuação muito forte aqui no Rio. Ele conheceu a minha mãe numa casa de tolerância e conseguiu tirá-la dessa vida. Hoje ela tem sua própria zona com mais de duzentas mulheres e homens, e não precisa mais exercer esse trabalho pessoalmente; só de vez em quando, pra se manter por dentro das tendências do mercado.
Tenho três irmãos e duas irmãs que eu conheço pessoalmente. O mais velho é deputado federal. O segundo tinha problemas, mas mudou muito de vida depois que cumpriu a pena por sequestro e estupro e hoje é bispo da Igreja Universal da Glória de Jesus, já ressuscitou mais de catorze mortos e curou mais de 3.000 aidéticos e vive bem com a graça de Deus com suas quatro esposas em Jurerê Internacional. Meu terceiro irmão abandonou a milícia que ele comandava no Complexo do Alemão, se arrependeu dos presuntos que ele tem no currículo, saiu do armário faz uns oito meses e hoje é travesti e trabalha na rua do Jóquei em São Paulo, mas ele faz só ativo. Apesar de ter virado a casaca e largado o Mengão pra virar curintiano por causa do Ronaldo, ele é um menino bom e não causa preocupação na família. A gente vê que ele tá bem encaminhado.
A minha irmã mais velha casou com o avô da ex-namorada lesbica dela, que está em estado vegetativo por causa de um derrame que ele teve quando o bicho pegou na época do mensalão. Ela abriu sua própria empresa em parceria com um sindicato, um despachante e um cartório, e hoje vende autopeças procedentes de veículos "sumidos" de outros Estados.
Quanto a minha irmã caçulinha de dezoito anos, trabalha de dia como atriz nas Brasileirinhas e de noite ajuda a mamãe, só que ainda na fase do atendimento direto ao cliente, pra poder pegar o know-how do negócio a partir da base.
Bom, Marcella, a minha pergunta é a seguinte: você acha que eu devo revelar de uma vez ou ir revelando pouco a pouco pra minha namorada que eu tenho um irmão deputado?



"Anônimo da Barra-RJ."

sábado, 18 de dezembro de 2010

O que as mulheres procuram...

Primeiramente, nós mulheres somos por demais heterogêneas, portanto, a verdade para mim pode ser mentira para outro ser semelhante.

Adoro homem que me faz rir mas aquele humor refinado e não  com piadas antigas ou grosseiras.
Homem que dança (e sabe conduzir)e até aquele que fecha os olhos e deixa o ritmo lhe guiar a música nas veias.
Adoro homem inteligente e  sensível  que realmente me escute, e não apenas finja que me escuta enquanto observa o meu decote... Os introvertidos me fascinam, me provocam com seu silêncio perturbador e aquele ar de quem tudo vê e nada revela... Mas que não seja introvertido em excesso, saia do seu mundo de vez em quando, venha explorar o meu...
Amo homem que compreende o que lê, homem curioso, jamais satisfeito com aquilo que sabe, sempre querendo mais.
Gosto de homens romanticos, não os que fingem sê-lo só para terminar na cama, porque afinal de contas, em pleno século vinte e um, só homem burro mente que quer compromisso se o que ele quer é uma noite... Homens, acordem! Mulher procurando prazer tem por aí aos montes, deixem as românticas e conservadoras (que também existem) no cantinho cor-de-rosa delas...
Dispenso os materialistas, os esnobes, presunçosos, engomadinhos... fujo dos preconceituosos e abomino os machistas. Não me misturo com os ratos de academia nem com os ratos de biblioteca. Os primeiros esqueceram de exercitar o cérebro; os segundos, de viver, tomar sol, relacionar-se...
Playboys, sedutores baratos e narcisistas: não, obrigada. Estão em falta homens com personalidade (mulheres, também)... com auto-estima sólida, mas maleabilidade suficiente para admitir erros, para cultuar a humildade, a simplicidade, a verdade.
Enfim, não existe um manual que contenha o que "as mulheres" gostam; a verdade é bem mais complexa: cada mulher é um universo único, com seus próprios valores e preferências... a cada homem cabe descobrir, com a habilidade que lhe for peculiar, do que gosta esta mulher que agora está na sua mira. Boa sorte...

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Amanhã fica pra amanhã.


Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, "Fidelidades", onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio do Mario Quintana: 'Para estar ao lado sem pesar com a presença'.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura. Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa.
Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados. Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone. Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho. Pessoas estão jantando. Pessoas estão preocupadas. Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo. Pessoas estão chorando. Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando. Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los sabendo que nada interromperei do lado de lá. Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade. Dizemos pelo computador coisas que face a face seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo? Nem se discute que o encontro é sagrado. Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios. Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela. Quando mando flores, vou junto com o cartão. Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço."
Amanhã fica pra amanhã!
Amigos meteorologistas, segunda-feira poderemos vivenciar um dramático temporal ou um sol rachando, mas sinto muito, me desliguei de previsões, não estou interessada no que o céu despencará sobre mim amanhã quando eu acordar. Recém é hoje.
A cotação que o dólar terá quando o mercado reabrir continuará não fazendo a menor diferença pra mim, já que não trabalho com exportação nem importação. Nada me importa além desse minuto.
Já tomei banho e tudo o que minha pele e meus cabelos assimilarem durante minha passagem por esse dia ficará como marca registrada das ruas por onde andei e das intempéries que enfrentei, só no próximo banho é que eliminarei as partículas deste domingo.
Se você quiser me dizer alguma coisa, diga já, amanhã posso estar surda, com febre, ausente, desconectada, com TPM, de férias, e você terá desperdiçado a oportunidade de ser ouvido nesse instante.
As pesquisas de opinião são muito afoitas, ligeiras, ansiosas, que me interessa a eleição do ano que vem se nem o amanhã me é seguro, hoje eu tenho os representantes que tenho, até que eu me corrija no próximo voto.
Esse bombom em minhas mãos, quantas calorias terá, que estrago fará em minha região abdominal, que consequências deixará visíveis na beira da praia? Nhac. Veremos.
Não tenho caderneta de poupança nem me preocupo com fundos de investimento, e gastei três dígitos num vestido que me ofereceu cor, leveza e jovialidade para daqui a algumas horas, e daqui a algumas horas eu ainda terei a aparência que tenho, não garanto depois.
Comecei a ler um livro que tem frequentado a lista dos dez mais e nas primeiras dez páginas peguei no sono. Deixei o livro de lado: perder tempo é um insulto à vida. No mesmo instante comecei outra leitura e essa, sim, me devora.
No almoço de amanhã teremos à mesa o que eu me sentir impulsionada a comprar no supermercado amanhã, hoje eu me contento com o que há na geladeira e que alimenta o meu agora.
Olimpíadas de 2016, que viagem no tempo, mal sei se atravessarei os obstáculos anotados em minha agenda neste 3 de janeiro de 2010 e se quebrarei algum recorde de alegria ou tristeza antes que o telefone toque.
Hoje ainda estou dentro da lei, ainda tenho todos os amigos por perto, ainda me reconheço no espelho, ainda não enjoei da música que estou ouvindo, ainda estou em paz, ainda acredito que o dia terminará bem.
"Amanhã fica pra amanhã" é um aforismo que li no livro de Pedro Maciel chamado Como Deixei de Ser Deus. Admitir que não temos controle sobre o futuro é um bom começo. Deus é uma projeção, e hoje, aqui em casa, as projeções estão em falta, amém.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra)

Devaneios etcétera e tal...: UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra): "Vi o que vi debaixo do sinal vermelho de uma esquina da José de Alencar, perto do Olímpico. Aconteceu dias atrás, num desses dias azuis e ..."

UMA LÁGRIMA NO SINAL VERMELHO (David Coimbra)



Vi o que vi debaixo do sinal vermelho de uma esquina da José de Alencar, perto do Olímpico. Aconteceu dias atrás, num desses dias azuis e amarelos de quase verão. Fazia uma tarde amena de sol, por isso estava com os vidros abertos, o que é raro. O sinal demorava a trocar. Lancei um olhar distraído por cima do ombro direito. O olhar espreguiçou-se para o mundo exterior e esbarrou no carro ao lado.
Então a vi.
Ela também mantinha os vidros abaixados. Havia apoiado o cotovelo na janela e a concha da mão cobria a orelha. Dentro da mão, um celular. Ela não falava; ouvia. E chorava.
A face esquerda do rosto reluzia das lágrimas que lhe caíam do canto do olho.
Fiquei chocado. Porque não havia lógica na cena. Não era uma jovem que chorava, mas uma senhora em idade madura, 60 anos, talvez. Fosse uma garota, seria mais verossímil. Uma garota chora se é rejeitada pelo namorado, ou se briga com o pai, ou se discute com uma amiga.
Uma mulher feita, em geral, já chorou o pranto que lhe cabia. Ela fica triste, ela fica amargurada ou fica até depressiva, mas é incomum que chore em campo aberto, acessível aos olhares que partem dos carros ao lado.
Só que ela chorava ali, sob o sinal.
Observei-a sem pudor, certo de que não havia reparado em mim. Desliguei o rádio do carro e apurei o ouvido. Por algum motivo, precisava de uma pista sobre com quem ela falava. O sinal ficou verde. Ela se aprumou no banco e engatou a primeira marcha. Ia-se embora, mas, antes de arrancar, balbuciou uma frase, a única que consegui captar:
– Está bem, meu filho...
E se foi, ziguezagueando pela floresta de lata do trânsito.
“Está bem, meu filho.” O filho a magoara, a ponto de ela chorar na rua. Lembrei de Maomé, o Profeta, que ensinou: “O paraíso está ao pé da mãe”. Lembrei de Freud, que disse não existir nenhum sentimento tão poderoso, tão incondicional, tão desprovido de agressividade como o da mãe pelo filho homem. E o filho homem reconhece esse sentimento, e esse sentimento se transforma na sua referência emocional sobre a Terra. Não é por acaso que os soldados feridos de morte, desamparados no campo de batalha, gritam pela mãe. Homens adultos clamando pela mãe feito meninos no escuro do quarto.
Também não foi por acaso que, dias atrás, um filho pediu que a mãe o ajudasse a ocultar o cadáver de uma moça que ele havia assassinado, e a mãe o atendeu.
Constatei eu mesmo a força desse sentimento nas vezes em que fui fazer palestras na Fase. Os meninos delinquentes lá recolhidos, meninos bandidos, muitos deles perigosos, eles, quando tentam se tornar pessoas melhores, o fazem pensando na mãe. A mãe faz com que se importem consigo mesmos. Porque é assim: você só quer ser melhor do que é por causa do amor dos outros.
Aquela mãe que chorava sob o semáforo, ela parecia ser esse tipo de mãe amorosa, que é capaz de morrer pelo filho. Por que, então, ele a fizera chorar? Poucas coisas são mais tristes para um filho do que causar desgosto a sua mãe.
Fiquei triste por aquela mulher que chorava e pelo filho que motivara o choro. No futuro, tenho certeza, ele vai lamentar aquele diálogo via celular. Gostaria de poder fazer algo a respeito. Bem... fiz. Liguei para a minha mãe.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: Tudo que desejo neste Natal!

Devaneios etcétera e tal...: Tudo que desejo neste Natal!: "Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entend..."

Tudo que desejo neste Natal!


Que nossa vida, meus filhos, tecida de encontros e desencontros, como a de todo mundo, tenha por baixo um rio de águas generosas, um entendimento acima das palavras e um afeto além dos gestos – algo que só pode nascer entre nós. Que quando eu me aproxime, meu filho, você não se encolha nem um milímetro com medo de voltar a ser menino, você que já é um homem. Que quando eu a olhe, minha filha, você não se sinta criticada ou avaliada, mas simplesmente adorada, como desde o primeiro instante. Que, quando se lembrarem de sua infância, não recordem os dias difíceis (vocês nem sabiam), o trabalho cansativo, a saúde não tão boa, o casamento numa pequena ou grande crise, os nervos à flor da pele – aqueles dias em que, até hoje arrependida, dei um tapa que ainda agora dói em mim, ou disse uma palavra injusta. Lembrem-se dos deliciosos momentos em família, das risadas, das histórias na hora de dormir, do bolo que embatumou, mas que vocês, pequenos, comeram dizendo que estava maravilhoso. Que pensando em sua adolescência não recordem minhas distrações, minhas imperfeições e impropriedades, mas as caminhadas pela praia, o sorvete na esquina, a lição de casa na mesa de jantar, a sensação de aconchego, sentados na sala cada um com sua ocupação. Que quando precisarem de mim, meus filhos, vocês nunca hesitem em chamar: mãe! Seja para prender um botão de camisa, ficar com uma criança, segurar a mão, tentar fazer baixar a febre, socorrer com qualquer tipo de recurso, ou apenas escutar alguma queixa ou preocupação. Não é preciso constrangerem-se de ser filhos querendo mãe, só porque vocês também já estão grisalhos, ou com filhos crescidos, com suas alegrias e dores, como eu tenho e tive as minhas. Que, independendo da hora e do lugar, a gente se sinta bem pensando no outro. Que essa consciência faça expandir-se a vida e o coração, na certeza de que aquela pessoa, seja onde for, vai saber entender; o que não entender vai absorver; e o que não absorver vai enfeitar e tornar bom. Que quando nos afastarmos isso seja sem dilaceramento, ainda que com passageira tristeza, porque todos devem seguir seu caminho, mesmo que isso signifique alguma distância: e que todo reencontro seja de grandes abraços e boas risadas. Esse é um tipo de amor que independe de presença e tempo. Que quando estivermos juntos vocês encarem com algum bom humor e muita naturalidade se houver raízes grisalhas no meu cabelo, se eu começar a repetir histórias, e se tantas vezes só de olhar para vocês meus olhos se encherem de lágrimas: serão apenas de alegria porque vocês estão aí. Que quando pareço mais cansada vocês não tenham receio de que eu precise de mais ajuda do que vocês podem me dar: provavelmente não precisarei de mais apoio do que do seu carinho, da sua atenção natural e jamais forçada. E, se precisar de mais que isso, não se culpem se por vezes for difícil, ou trabalhoso ou tedioso, se lhes causar susto ou dor: as coisas são assim. Que, se um dia eu começar a me confundir, esse eventual efeito de um longo tempo de vida não os assuste: tentem entrar no meu novo mundo, sem drama nem culpa, mesmo quando se impacientarem. Toda a transformação do nascimento à morte é um dom da natureza, e uma forma de crescimento. Que em qualquer momento, meus filhos, sendo eu qualquer mãe, de qualquer raça, credo, idade ou instrução, vocês possam perceber em mim, ainda que numa cintilação breve, a inapagável sensação de quando vocês foram colocados pela primeira vez nos meus braços: misto de susto, plenitude e ternura, maior e mais importante do que todas as glórias da arte e da ciência, mais sério do que as tentativas dos filósofos de explicar os enigmas da existência. A sensação que vinha do seu cheiro, da sua pele, de seu rostinho, e da consciência de que ali havia, a partir de mim e desse amor, uma nova pessoa, com seu destino e sua vida, nesta bela e complicada terra. E assim sendo, meus filhos, vocês terão sempre me dado muito mais do que esperei ou mereci ou imaginei ter !

da mãe




Fonte Revista VEJA 12 de maio de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VIVER DÓI.






Detesto quando escuto aquela conversa: "Ah,terminei o namoro..."
"Nossa,quanto tempo?"
"Cinco anos...Mas não deu certo...acabou"
É, não deu...'
Claro que deu! Deu certo durante cinco anos, só que acabou.
E o bom da vida, é que você pode ter vários amores.

Hoje , no alto dos meus 63 anos e maduro, não acredito muito que os "opostos se atraem".
Porque sempre uma parte vai ceder muito e se adaptar demais. E sempre esta é a parte mais insatisfeita.
Acredito mais em quem tem intereses em comum. Se você adora dançar, melhor namorar quem também gosta, se você gosta de cultura italiana, melhor alguém que também goste.
Frequentar lugares que você gosta ajuda a encontrar pessoas com interesses parecidos com os teus.
A extrovertida e o caretão anti social é complicado e depois, entra naquela questão de" um querer mudar o outro, ui..". Pessoas mudam quando querem. E porque querem. E pronto. E demora!

Cama é essencial!
Aliás pele é fundamental. E tem gente que é mais sexual, outras que são mais tranquilas. O garanhão insaciável e donzela sensível, acho meio estranho. Isto causa muitas frustrações! E dá-lhe livros de auto ajuda sobre sexo. Assim como outras coisas, cada um tem um perfil sexual. Cheiro , fantasias, beijo, manias, quanto mais sintonia, melhor.

Não acredito em pessoas que se complementam.
Acredito em pessoas que se somam.
Às vezes você não consegue nem dar cem por cento de você para você mesmo, como cobrar cem por cento do outro?
E não temos esta coisa completa.
Às vezes ele é fiel, mas não é bom de cama.
Às vezes ela é carinhosa , mas não é fiel.
Às vezes ele é atencioso , mas não é trabalhador.
Às vezes ela é malhada, mas não é sensível.
Tudo nós não temos. Perceba qual o aspecto que é mais importante e invista nele.

Pele é um bicho traiçoeiro.
Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E as vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...
Acho que o beijo é importante...
e se o beijo bate, se joga...senão bate...mais um Martini, por favor...e vá dar uma volta!

Se ele ou ela não te quer mais, não forçe a barra.
O outro tem o direito de não te querer.Não lute, não ligue, não dê pití.
Se a pessoa tá com dúvida, problema dela, cabe a você esperar ou não.Existe gente que precisa da ausência para querer a presença.O ser humano não é absoluto.Ele titubeia, tem dúvidas e medos.
Mas se a pessoa REALMENTE gostar, ela volta.
Nada de drama. Que graça tem alguém do seu lado sob chantagem , gravidez, dinheiro, pressão de família?O legal é alguém que está com você por você. E vice versa.
Não fique com alguém por dó também. Ou por medo da solidão. Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado.E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento.Tem gente que pula de um romance para o outro.
Que medo é este de se ver só, na sua própria companhia?

Gostar dói.
Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração.
Faz parte.
Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo.E nem sempre as coisas saem como você quer...A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Se alguém vier com este papo, corra, afinal, você não é terapeuta. Se não quer se envolver, namore uma planta. É mais previsível.
Na vida e no amor, não temos garantias.E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar.Ou se culpar.

Enfim...quem disse que ser adulto é fácil? (desconheço a autoria)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Quando eu me aposentar....

O cara se aposentou e foi mesmo morar na praia.
Mês a mês manda notícias contando sua nova vida para o filho.·
Janeiro: Estimado filho, tenho a lhe comunicar boas novas: me aposentei e agora vamos morar na praia. Vendemos nossa casa. Em março estaremos de mudança para o litoral. Lembra quando eu falava prá tua mãe? Quando me aposentar vou morar na praia! Ela duvidava. Beijo da mãe, benção do pai.
Fevereiro :Estimado, fechei negócio: terceiro andar, quatro por andar, nosso apartamento é de frente para o mar. São duas suites e mais um quarto, área de serviço, dependência de empregada. Uma sala em L e, o melhor de tudo, uma deslumbrante sacada com churrasqueira. A vista praquele marzão é pornográfica. Sua mãe achou a sala acanhada para os padrões dela. Mas apartamento de praia é assim mesmo e a manutenção fica mais barata. Beijo da mãe, benção do pai
Março :Estimado, já estamos morando na praia! O clima é um paraíso aqui na terra. Espetáculo. Não chove, faz um calorzinho do bom. Mesmo assim, providenciei o que faltava: o ar condicionado da nossa suite. Só não instalei porque procuro alguém para fazer o serviço mais em conta. Aqui tudo custa o olho da cara. De resto, tudo nos conformes. Até fizemos uma agenda para nossas atividades diárias. 8h00: despertar.8h30: lauto café da manhã. 9h30: caminhada de uma hora na praia para respirar o ar puro e aproveitar o sol da manhã.10h30: super mercado e tarefas externas. 11h30: sua mãe vai para a cozinha. 13h:00: o delicioso almoço da mamma. 14h30: soneca. 16h00: café da tarde. 17h00: leitura do jornal e revistas. 18h00: caminhada na orla para apreciar o por do sol.20h30: lanche e telejornal. 21h00: novela. 22h00: jogo de cartas. 23h00: prá caminha, que ninguém é de ferro. Que Tal, filhão? Beijo da mãe, benção do pai.
Abril: Estimado, já travamos amizade com os vizinhos do prédio. Temos gaúchos, paulistas, catarinas, paraguaios e argentinos. Só gente boa. Novidades: já estou até tomando chimarrão e fui convidado para participar do aperitivo diário no barzinho dos aposentados. Mudamos um pouquinho a rotina. Das 11h30 às 12h30 faço aperitivo. Tua mãe não gostou muito, mas ela precisa entender que precisamos ter uma vida social. Outra coisa: sabe a deslumbrante sacada? Mandamos envidraçar. A ventania é tanta que ela já estava inútil. Tua mãe não se agradou, acha que é mais vidro prá lavar. Beijo da mãe, benção do Pai.
Maio :Estimado, tua mãe está bem nervosa, acha que precisamos arrumar alguma Coisa prá fazer. De minha parte estou de agenda cheia. No meio da tarde jogo bocha com a turma do barzinho dos aposentados e depois fico para a happy hour. Tua mãe também não gostou muito. Beijo da mãe, benção do pai.
Junho: Acabo de comprar um pequeno barco inflável pra pescar. Só me falta companheiro de pescaria. Tua mãe não ficou muito satisfeita e agora inventou de colorir estátuas de gesso. Ela pintou algumas estátuas de Santa Edwiges e está vendendo bem, na feirinha. Um dos quartos virou oficina e o cheiro de tinta está insuportável. De resto, mudamos um pouco a rotina: estamos passando as tardes nas casas de bingo. Beijo da mãe, benção do pai.
Julho :Estimado, o vento Sul aqui é de lascar e ainda não consegui botar o barco na água. Desde o início de junho não estamos mais caminhando na praia. Parece que a maresia enferruja os ossos, de tanto frio. Só saio de casa para o aperitivo do almoço e pra happy hour no barzinho dos aposentados. O médico mandou parar com os aperitivos. Tua mãe também acha que estou muito barrigudo. Beijo da mãe, benção do pai.
Agosto : Estimado filho, orgulha-te: eu fui eleito síndico do prédio! Por unanimidade! Tua mãe acha que o mês não foi propício para aceitar a incumbência. Ela diz que agosto atrai coisa ruim. Amanhã temos uma reunião de condomínio pra decidir a nova pintura da fachada do edifício, manutenção De dois elevadores, reforço nas fundações e reforma de todo o sistema hidráulico e elétrico. Beijo da mãe, benção do pai.
Setembro :Estimado, o feriadão da Semana da Pátria foi um inferno. Invadiram nossa praia. Bem na frente do prédio, toneladas de som e cerveja. Só conseguimos dormir depois das duas da manhã. A vizinhança diz que isso foi coisa pouca, na temporada todos dormem quando o dia amanhece. Tua mãe está nervosa e eu não estou com bons pressentimentos. Beijo da mãe, benção do pai.
 Outubro: Estimado, o tempo está esquentando: nos fins de semana já não dormimos em paz, o movimento no balneário começou a subir e os preços também. Sábado faltou luz, domingo faltou água. Amanhã tem reunião de condomínio para comprar um gerador e furar um poço artesiano. Sobrou prá mim. Vendi o barco inflável que nunca usei. Tua mãe não se conforma com a minha barriga e agora não sai mais de casa, nem para vender as estátuas de Santa Edwiges. Beijo da mãe, benção do pai Novembro: Estimado, eu não sei o que está acontecendo. Os vizinhos gaúchos, paulistas e catarinas já botaram os apartamentos pra alugar e vão voltar pra suas origens, em dezembro. Os argentinos e paraguaios vão ficar. Mas os portenhos não tem onde cair mortos e os paraguaios, correm boatos, são uma gente exilada por corrupção ou coisa que o valha. Tua mãe continua inconformada com a minha barriga e jogou pela janela todo o estoque de estátuas de gesso. Beijo da mãe, benção do pai.
 Dezembro: Estimado filho, aqui me tens de regresso. Tua mãe venceu. Beijo da mãe, benção do pai.


(Texto de Dante Mendonça, do Jornal Estado do Paraná, edição de 30/01/2004)