terça-feira, 24 de agosto de 2010

MULHER SEPARADA!

Uma mulher tem muitas vidas e alguns maridos. A primeira separação é sempre muito triste; aliás, todas são. Costumam ser de três tipos: ou porque não deu – e se sofre muito; ou porque ele a largou por outra – e se sofre muito; ou porque você o largou por outro – e aí também se sofre muito.

A lição que recebi na vida foi: seja independente para nunca precisar financeiramente de marido – nem de ninguém – e para poder dizer não a hora que quiser, a quem quiser. Grande lição, e cumprida à risca.
E você? Passou uns dois anos sem saber se devia ou não se separar. Afinal, não tinha razão grave para tomar essa decisão, mas, de uns tempos para cá, o casamento andava sem graça e estava claro que não era feliz. Sabia que tinha que enfrentar a família, os filhos e o próprio, que ia levar o maior susto. Tinha chegado a hora, e no dia em que ele saiu de casa pensou: “Ufa!” A primeira providência que tomou foi mudar o segredo da fechadura: ex-maridos saem de casa, mas voltam e enfiam a chave na porta (para ver as crianças). Agora é uma mulher livre. Ainda vai enfrentar chantagens e baixarias quando chegar o capítulo separação dos bens, que inclui da tesourinha ao DVD, da cartela de Lexotan aos discos, essas coisas. Ele é capaz de querer dividir até o faqueiro e a louça – afinal, vai ter que montar casa e foi você quem quis se separar. Deixe. Deixe levar o que bem entender para evitar a discussão que ele tanto quer. Deixe pensando na delícia que vai ser morar sem nada e comprar tudo novo aos pouquinhos.
A próxima providência é trocar a cama. A nova deve ser menor, mas não tão pequena que não caibam dois, você e o futuro namorado. Quando o amor é novo, a gente gosta de dormir juntinho. Por isso, 1,20 metro de largura é suficiente. Encoste a nova cama na parede, como se fosse um sofá. Quando seu ex vier buscar as crianças para o fim de semana e subir – eles sobem sempre –, vai achar que uma cama menor significa que você encerrou sua vida sexual; mal sabe ele. Eles saem, e você se vê, depois de anos, inteiramente só. E, por mais que ame os filhos, nada melhor do que às vezes passar um fim de semana sem eles.
O que faz uma mulher nessa hora? Uma vodca, claro. Espichada no sofá da sala, você se lembra de tudo pelo que passou para esse momento chegar e poder tomar quantas vodcas quiser, de calcinha e sutiã, ouvindo um CD. Com ele não podia fazer isso, claro. (Danuza Leão)

Carta à gordura localizada!


Enfim, consegui localizar você – pensou que ia escapar de mim? Você se esconde atrás dessa fofura inocente, mas notei que alguém andava distorcendo minha imagem pelas costas e resolvi ficar de olho. Todo mundo que vê você em algum lugar, ou é apresentado a você de alguma maneira, acaba com uma opinião ruim a meu respeito. Coisa feia, Gordurinha.

Para começar, se não fosse eu, você nem existiria. Eu a alimento, levo-a para viajar, cubro você com as melhores roupas. Pago uma massagista especialmente para você duas vezes por semana. Compro cremes para você no exterior.
Quer chamar a atenção? Quer aparecer sozinha? Então, por gentileza, suma da minha presença. Chega de me encher com o seu exagerado exibicionismo. Você cansa a minha beleza.
Saiba que eu sou muito maior que você e já venci detratores imensamente piores. Parto para a faca se for necessário. Isso é uma ameaça? Sim, é. Você está na minha lista negra a partir de hoje. E, se insistir em me atrapalhar, eu simplesmente contrato alguém para acabar com você.
Lembra daquele seu amiguinho francês, o Culote? Sabe por que ele de repente desapareceu de circulação? Pergunte a ele o que significa ter uma pessoa como eu como inimiga.
Ou você toma jeito e descobre o próprio espaço, deixando de interferir na minha vida, ou vai lamentar o dia em que se meteu comigo. Sei tudo sobre você, esqueceu? Que você veio do interior no lombo de um boi e acabou atração de churrascaria. Que freqüentou os piores lugares antes de começar a ser vista comigo. Que esteve envolvida no Escândalo dos Pneuzinhos, escapando por pouco da “limpa” que se seguiu.
Vou queimar você de todas as maneiras, pode se preparar. Conheço bem a sua região e vou atrás das suas verdadeiras origens, onde elas estiverem. Quero ver você suando na frente do espelho.
Sempre desconfiei de você, sabia? Uma coisa de pele. Mas eu era muito jovem para entender os perigos de sua companhia. Essa sua mania de grudar nas pessoas e ficar em volta delas sugando as suas energias. Esse seu jeitinho meigo, de quem não quer incomodar, mas não tem onde ficar – bem coisa de mulherzinha.
Amigas minhas já haviam passado por problemas com você, tendo que eliminá-la. Contaram-me do caso de uma mulher que conhecia você das festinhas de aniversário das crianças e depois pegou você e o marido se esfregando na cama. Eu demorei para perceber a sua face ingrata.
Gordurinha, é o seguinte: quero que você vá embora daí, desse lugar, o mais rápido possível. Ele é meu, herdado da minha família, e não vou deixá-lo à mercê de seus maus-tratos e excessos. Dou um mês para você providenciar a mudança, porque sei que tenho um pouco de culpa de você ter se alojado aí tão folgadamente. Mas agora acabou a boa vida.
Sinceramente,

Fernanda Young

Caro pênis...




Tenho notado você olhando torto para mim. Às vezes, basta eu chegar e você se levanta. Por acaso, você tem algum problema pendente comigo?O fato de nós estarmos em lados opostos não nos faz inimigos. Ao contrário, guardo um espaço especial para você, dentro de mim, e seria ótimo se pudéssemos nos unir em prol de algumas novas conquistas. Os atritos, como em qualquer relação, são normais e bem-vindos.Você me acusa de ser difícil, mas não conheço personalidade mais instável que a sua. Quando eu quero conversar, você se recolhe. Quando canso de tentar, você se anima. Quando finalmente penso entender aonde você quer chegar, você se coloca numa posição diferente.Sei que a vida talvez lhe pareça mais dura, já que é de você que são cobrados rendimento e desempenho. Mas o mundo não gira em torno da sua existência como você pensa. Diria até que, nas horas mais tensas, você sempre dá um jeito de ficar de fora. Até no momento em que sua participação se faz mais necessária, a continuidade da espécie, você se limita a entrar com metade da matéria-prima e deixa o resto para lá.Dizem que eu tenho inveja de você - mas inveja de quê, afinal? Você, desculpe, está longe de ser bonito. Trabalha num ramo de atividade sem o mínimo charme: a remoção de detritos. Mora num lugar abafado, onde o sol nunca bate. Freqüenta locais escusos, de reputação duvidosa, em busca de um tipo de divertimento que já se encontra à mão, em sua própria casa. E aquele seu melhor amigo, convenhamos, é um saco.Mesmo assim, quero frisar, tenho por você imensa consideração e simpatia. Mais que isso - sempre busquei a sua aprovação de alguma forma, atrás de sinais de que estaria lhe agradando. Você, por sua vez, nem sequer disfarça seu completo egocentrismo. Fazendo-se de sonso e sumindo após satisfazer as suas necessidades.Você se diz sensível, porém jamais se preocupa com o que o outro está sentindo. Quer apenas ocupar o seu espaço e atingir as suas mesmas velhas metas de crescimento. Deveria tentar aumentar suas expectativas, ampliar seus horizontes, investir na sua cultura. Qual foi a última vez que você viu um filme decente?Sei que dificilmente vou conseguir abalar sua enorme auto-estima, mas, sob o meu ponto de vista, você não passa de um solitário, perdido em sonhos impossíveis e cercado por uma situação bastante enrolada. Acha-se o máximo, superextrovertido e revela-se um bobo alegre com pinta de seboso. Um cabisbaixo baixinho carente, o tempo todo em busca de qualquer carinho.Disponho-me a ajudá-lo, colega, caso você reconheça seus defeitos e fraquezas. Posso até te indicar um bom analista. Somente recuso-me a continuar a ser cúmplice na perpetuação de um equívoco.Você não é melhor que ninguém, temos o mesmo tamanho nesta história - de fato, se você cabe em mim, sou necessariamente maior do que você.
(Fernanda Young é escritora, roteirista e apresentadora de TV.)