sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA

Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA: "Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das q..."

A ESCOLHA



Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.
Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das que me fizeram hesitar muito até escolher Serra.
Se, por acaso, parecer uma metralhadora giratória, saiba que não é esta a intenção, muito menos o objetivo.
Não gosto do PT porque não gosto de nada radical. Portanto, não voto nele, embora, se Lula fosse candidato, provavelmente teria meu voto.
Infelizmente, no nosso sistema eleitoral, ao contrário do que parece, votamos primeiro no partido – e nas coligações – e depois no candidato.
Isto explica como, por exemplo, Luciana Genro com mais de cem mil votos no RS, não se elegeu (ainda bem), enquanto outros, com votação bem inferior, conseguiram a vaga.
Explica como Tiririca, em SP, com mais de um milhão de votos, trouxe com ele candidatos com votação mínima, deixando de fora outros com milhares de votos.
O fenômeno já havia acontecido com o famoso Enéas, nas eleições anteriores, sobrou tempo para a lição ser aprendida, mas o Congresso... Bem, já falei o que penso dele.
Isto se chama, no nosso ultrapassado e corrupto sistema político, de coeficiente eleitoral dos partidos e coligações que, em outras palavras, justifica o abuso do poder econômico pelos grandes partidos.
Lula conseguiu, com habilidade e inteligência, afastar ostensivamente do governo os petistas envolvidos com o mensalão, especialmente José Dirceu e José Genuíno.
Acredito que, sobre isto, não há dúvidas.
Dilma terá esse poder? Sinceramente, não creio. Até acho que ela pensa como eles.
Dilma, a quem conheço dos tempos de Universidade – fomos contemporâneos em faculdades diferentes – ingressou de corpo e alma, na luta armada contra a Ditadura.
Respeito isto, e muito. Não condeno a guerrilha, o movimento libertário contra o esbulho militar praticado em 1964.
Na guerrilha luta-se, armado, contra homens armados. Os soldados, treinados para matar, enfrentaram pessoas dispostas a matar por uma causa, e a morrer por ela também.
Porém, Dilma se excedeu. Saiu da heróica luta ideal e ingressou no terreno insuportável do crime comum, de assalto a bancos, sequestros e, a pior de todas as coisas, o terrorismo.
Terrorismo é obsceno! Terrorismo é atacar pessoas que não se sentem ameaçadas. É matar indiscriminadamente, sem possibilitar a defesa. É a bomba que explode na rua, no edifício, na loja.
Não há redenção para este crime, é como eu penso, é como eu sinto.
O terrorista despe-se de humanidade, é um ser brutal, sem o mínimo de empatia, não há causa, não há ideal que justifique o terrorismo. Nem a mais cruel das ditaduras.
Vejo Dilma falar e não consigo imaginar que esta pessoa não é aquela pessoa.
Acho mesmo que se trata da mesma pessoa. Percebo, com clareza, seu viés autoritário, sua arrogante complacência e sua indiferença com o indivíduo.
Nela, ainda fulgura o brilho ideal de sua causa, que legitima sua consciência para fazer qualquer coisa, desde que em nome da causa.
E, o que me dá mais medo, não sei qual é a causa idealizada por Dilma, na atualidade.
Não gosto de mensagens demonizadoras e deleto todas as que recebo, sem ler até o final. Dilma isto, Dilma aquilo, verdades e mentiras se misturam de tal forma que não se distingue umas das outras.
Prefiro ficar com minha percepção, com os fatos que conheço por mim mesmo, para dizer – mesmo que você não tenha me perguntado – que não votarei na Dilma.
Sobrou – para os meus ais – o Serra.
Não que eu tenha algo pessoal contra ele, muito pelo contrário. Mas o Serra, como candidato, possui um quê de fragilidade que dá no que pensar. E, também, nos nervos.
Ele, como a Dilma, engajou-se no movimento contra a ditadura e, como líder estudantil presidente da UNE, arriscou o pescoço a valer.
Entretanto, não perdeu a humanidade, e isto conta muito. Che Guevara não perdeu, como Fidel, a humanidade.
Líderes revolucionários que não perdem a humanidade, são homens a considerar.
Por quê, senhor, Serra precisava usar os elogios de Lula, na sua campanha, assinando um atestado de absurda ingenuidade política?
Serra é um político que, parece, não ultrapassou os limites dos conchavos de Centros Acadêmicos, disposto a ceder, ceder, ceder até o que não pode ser cedido.
Ao contrário do PT, sempre disposto a comprar, dinheiro se arranja, nas malas, nos correios, nas cuecas.
E se, ao contrário do que parece, Serra não for de ceder? E se, na Presidência da República, Serra revele a mesma dureza, frieza e intransigência que percebo no olhar de Dilma?
É improvável, mas temo por isso.
É importante dizer a você que o dilema é meu. E não pretendo transferi-lo a terceiros. Até porque, por incrível que pareça, encontrei uma saída, a revelar que, no final das contas, não se trata de um dilema verdadeiro.
Talvez, e é provável, você não concorde com a minha saída, você não tem nenhum dilema, já sabe o que vai fazer.
Portanto, não se ofenda.
Eu vou votar no Serra, porque a minha opção verdadeira, a Marina, não passou para o segundo turno. E olhe que não sou um ambientalista, eventual ou fanático. Sou perfeitamente capaz de derrubar uma árvore, se ela estiver me atrapalhando.
Entretanto – e talvez isto faça uma diferença – sinto a obrigação de revelar o que mais me incomoda, o que me incomoda acima de tudo e faz com que minha opção seja, no mínimo, coerente.
Quando Dilma ainda era do PDT e se dedicava, com competência, ao assunto das Minas e Energias aqui no RS, vi pela primeira vez Collor de Mello. E lembrei, na hora, de Dilma.
Depois de tantos anos e de tantos acontecimentos, ouço e vejo Dilma falar. E, na minha cabeça, a imagem de Collor toma conta.
É uma imagem que machuca o cérebro, de um homem furioso, dono da verdade e despido de sentimentos de culpa. Um homem que não se arrepende.
Um homem que não se arrepende é capaz de todas a ignomínias.
Por fim, como argumento derradeiro a amparar minha decisão, que não cogita do voto nulo ou branco, jamais votarei, seja quem for o candidato, em alguém que Sarney apoie.
É indispensável, para que sejamos realmente uma democracia, que figuras assim, representantes das nossas piores tradições, sejam extirpadas da cena política, eles que cuidem das suas fazendas, das suas contas bancárias – aqui e no exterior – e nos deixem em paz, a construir um País verdadeiro, com espírito de Nação.
José Serra, em quem vou votar na falta de outra opção, é uma reminiscência da antiga política de bar de Faculdade, longe de ser ideal, mas tolerável.
Dilma? (Paulo  Wainberg- advogado gaúcho)