sexta-feira, 22 de abril de 2011

Non sense...ou melhor..sem noção!!!



Li no jornal: O Deputado Federal Aldo Rabello, líder do novíssimo Partido Comunista, está fazendo um projeto de lei para proibir o uso, por escrito, de palavras estrangeiras no Brasil.


Idéia magistral, como é que não pensei nisso antes? Como é que outros deputados e senadores não pensaram nisso antes, neste país? Há quinhentos e onze anos o Brasil vem incorporando essas horrorosas palavras em inglês, francês, alemão, japonês, italiano, causando gravíssimos danos à função social da língua portuguesa e ninguém fez nada!
Como se sabe, a língua pátria é condição necessária para a formação de uma nação. Entretanto, ao longo dos séculos, invasores de língua querem retirar nossa identidade, introduzindo solertemente suas estrangeiras palavras em nossos textos, abalando de forma radical o nosso nacionalismo que, finalmente, graças aos ideais comunistas do ínclito deputado, será doravante salvo.
Imaginem a alegria que sentiremos nós, brasileiros, quando formos proibidos de escrever Internet, substituindo o terrível termo pelo brasileiríssimo Entre a Rede.
O Twitter será eliminado, pois não há palavra para ele, em português.
E-mail? Minha querida, recebeste a correspondência eletrônica que te enviei ontem?
Você nunca mais manejará um mouse e terá, para todo o sempre, um camundongo em sua mão.
O locutor não gritará o horrendo gol, que será substituído por... por ‘a esfera ingressou na área posterior às traves e o travessão’.
Sua casa não terá mais ladrilhos e sim pequenos pedacinhos de pedra colorida.
E isto que estou simplificando, há situações muito mais complexas que o nacionalismo deve proteger à todo o custo, quando se trata de defender a língua mãe.
Ai de quem se atrever a digitar marqueting no trabalho de conclusão de concurso. Um bom e verdadeiro brasileiro substituirá a palavra alienígena por algo bem mais simples, como ‘a estrutura de divulgação, interação, empatia e divulgação das atividades mercadológicas visando dar conhecimento de produtos e atividades específicas ou gerais’.
Se um escritor como eu descrever a despedida de seu personagem francês com um ‘au revoir’, será imediatamente preso!
E não tomarei mais seu tempo com exemplos. Passo a identificar a motivação que levou o parlamentar à conceber um absurdo tamanho.
A primeira coisa que me ocorre é que ele não tem mais nada para pensar. Absolutamente nada. E solidário com seus pares parlamentares, que também não pensam em nada além de negócios rendosos, resolveu ocupar-lhes a mente.
Imagino nossas Casas Legislativas lotadas, em sessões solenes e intermináveis, onde nossas excelências debaterão a matéria à exaustão, estudando, vernáculo a vernáculo, o que pode e o que não pode ser escrito neste país.
Pense nos puristas parlamentares, exultantes com o debate, revelando seu extraordinário pensamento, as linhas de raciocínio, os apartes pro bono (acabo de me arriscar, escrevendo em latim), os a favor, os contra, um espetáculo brasileiro de democracia, não importa que a corrupção corra solta e que mais de sete mil pessoas trabalhem para oitenta senadores, ganhando o salário pagos por nós, que odiamos palavras estrangeiras escritas por incultos professores, artistas, jornalistas, poetas, escritores, filósofos e outros entreguistas que assolam a Nação.
Perceba a grandeza do projeto!
Outro motivo que pode ter levado o velho Aldo à conceber a coisa pode ser a arteriosclerose, palavra que nem sei se brasileira é.
Imaginando-se, por confusão mental, estar sob a influência (ou domínio) do Império Romano e percebendo que o Latim virou latim vulgar, aquele falado nos países conquistados, misturados com as línguas pátrias, entrou em crise de nervos.
Esquecendo-se de que o Português deriva do latim vulgar, quer o nobre que preservemos, como se fôssemos uma raça, a pureza absoluta, abolindo da nossa escrita tudo aquilo que não for contemplado na língua de Virgilio.
“Mensalão”, por exemplo, é permitido?
Você, garota, jamais seja fashion. Arrisca-se aos piores rigores da lei.
Enfim!
Um país como o nosso, sem problemas, onde as instituições funcionam como um relógio suíço, a honestidade é absoluta, escândalos não existem, crimes não são cometidos, a segurança é perfeita, as estradas são ótimas, a educação é a melhor do mundo, a Saúde Pública é maravilhosa, o sistema político é exemplar, o problema social não existe e a riqueza é distribuída com absoluta justiça, tem mesmo é que se preocupar com palavras estrangeiras.
Eu, olhando aqui debaixo, já estou me preparando para nunca mais escrever non sense. Corro o risco de ser condenado a não sei quantos anos de prisão.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Falando de sofá e não do divã



Quarta-feira, dia oficial do sofá! Alguém lembra?Pergunte a um rapaz ou uma moça de 20 anos por que quarta-feira é o dia chamado “dia do sofá”. Agora pergunte a um homem ou uma mulher de 40 anos. Os últimos, sorrindo, responderão pelo que lhes parece óbvio: “é..., bem... era o dia oficial do namoro, do pegar na mão, abraços e carícias permitidas no sofá da sala, enquanto os pais fingiam ir dormir mais cedo”. Mas já os rapazes de hoje dirão: “Dãaaa, (significando óbvio), é dia de assistir ao futebol e torcer pro time do coração, é sofá ou estádio”. Junta-se a galera, sai um churrasquinho, cervejinha. Namoro, namorada/o? Hã? Que isso? A única idéia de abraçar alguém é quando sai gol e não importa sexo, mentiras nem “Rock´n Roll” e sim se a pessoa ao lado está torcendo pro mesmo time.

O que aconteceu com a quarta-feira, com o dia da semana tão esperado  do “sofá”?
Vamos nos reportar a comédia romântica chamada “Scream & Yell” ou em português “Amor em Jogo”, baseado no livro Fever Pitch (Febre de Bola), que mostra bem essa produção cultural narcísica da nossa sociedade que coloca o futebol e seus jogadores como ídolos representantes da maior prova de afeto dirigida ao outro.
Ganhando milhões ou apenas uns 200 mil por mês, estão lá, “nossos” heróis dando a cara e o resto do corpo pra entreter a massa e ocupar o lugar deixado vazio por nossos amantes. Afinal, o que atraí mais? Uma relação de paixão com o time-herói, que na ordem de nossa identificação nos faz sentir vitoriosos, sem demandar “trabalho” nenhum para agradar o outro? Ou uma relação aonde as duas pessoas implicadas vem com suas diferenças cujo encontro nem sempre garante um prazer absoluto tal qual o conforto do sofá em frente a mega TV digital regada a uma ou duas, ou três, ou mais anestésicas cervejinhas para o caso do timão ter que ser perdoado?
Saudades das quartas-feiras...

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Choro pelas crianças interrompidas...



Choro pelos pais. Choro pelas crianças que mal começavam e foram interrompidas. Choro pelos parentes, irmãos, amigos. Choro pela desgraça e pela tragédia da escola, no Rio de Janeiro. Choro sem lágrimas, um choro interno, um choro da alma que, já empedernida, recusa-se a suar, não são as lágrimas o suor da alma?

Choro forte desta vez, pois o choro diário, quando morrem em acidentes de trânsito, em atentados terroristas, em tsunamis e terremotos, assaltos ou devido às drogas, é um choro amortecido pela constância e pelo medo de que a tragédia aconteça comigo ou próximo a mim.
Entender o ser humano sempre foi um esforço, uma busca que não terá fim. Porém ouso considerar que as doenças mentais podem ser divididas em patologias apenas psíquicas e patologias psíquicas racionais.
O assassino do Rio de Janeiro não tinha alternativa e faria o que fez de qualquer modo. Sua loucura é incontrolável, ele não possuía nenhum domínio sobre ela e assim submetido, seguiu em frente, dando vazão ao impulso doentio. Esquizofrenia talvez seja a denominação adequada à sua doença.Outras do mesmo gênero são a cleptomania, a pedofilia, a paranóia, a bipolaridade, doenças que dominam e controlam o sujeito que sobre elas não possuem qualquer controle, qualquer domínio.
Para os atos que esses doentes praticam, não há perdão, mas também não há condenação. Devem estar sob constante vigilância e tratamento que reduzam os impulsos e impeçam as tragédias.
Nem sempre é possível.
As doenças psíquicas racionais são aquelas em que o indivíduo opta pela ação que vai praticar, embora possua arcabouço mental para escolher o oposto, isto é, não fazer o que o impulso determina.
O fanatismo é uma doença mental racional, o sujeito escolhe submeter-se à sua obsessão e agir de acordo com ela.
Terroristas, racistas, homofóbicos, intolerantes de todo o gênero são doentes mentais racionais porque, ao invés de utilizar a razão para o benefício da humanidade, raciocinam em favor do próprio fanatismo.
O homem-bomba que explode um supermercado, um aeroporto ou um avião, age em nome de uma causa que ele, fanaticamente, segue. Não admite, racionalmente, rever suas idéias, encarar distorções evidentes, modificar seus conceitos. Assim, age em plena posse de suas faculdades mentais.
E todos aqueles que apóiam o procedimento são, igualmente, doentes mentais racionais, que minimizam a morte, a destruição e o desespero alheio, em nome do valor mais elevado: a causa que defendem.
Todo ditador, não importa a ideologia, é um doente mental racional.
Quando um esquizofrênico atira e mata indiscriminadamente, está respondendo aos impulsos da própria mente adoecida, ao comando de vozes inexistentes, mas que para ele, existem. É tão intensa a doença que, quase sempre, são suicidas, como se um pequeno espaço saudável de sua mente exigisse a auto punição imediata.
Quando um terrorista ou um ditador mata indiscriminadamente, está obedecendo a um raciocínio lógico que sua mente adoecida constrói, mas sobre o qual possui amplo domínio e plena capacidade para elaborar o raciocínio inverso. Trata-se, neste caso, de uma escolha consciente pela destruição.
Os doentes mentais racionais não merecem perdão, merecem o pior castigo possível, merecem a extirpação e a execração. Os outros, os verdadeiros doentes mentais, merecem a nossa piedade e compreensão.
O assassino do Rio de Janeiro fez justiça com as próprias mãos ao disparar a arma contra a própria cabeça.
Encerro chorando sem lágrimas, mas com a alma dorida e triste por saber que somos todos seres humanos, quando podíamos ser apenas humanos.
E sigo a vida como ela pode ser seguida, sem esperanças e com medo.(paulo wainberg)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Devaneios etcétera e tal...: Amar-verbo intransitivo

Devaneios etcétera e tal...: Amar-verbo intransitivo: "Procure me amar quando eu menos merecer, porque é quando eu mais preciso!(Ana Jácomo) Falamos à beça de amor. Apesar das nossas singular..."

Amar-verbo intransitivo


Procure me amar quando eu menos merecer, porque é quando eu mais preciso!(Ana Jácomo)



Falamos à beça de amor. Apesar das nossas singularidades, temos pelo menos esse desejo em comum: queremos amar e ser amados. Amados, de preferência, com o requinte da incondicionalidade. Na celebração das nossas conquistas e na constatação dos nossos fracassos. No apogeu do nosso vigor e no tempo do nosso abatimento. No momento da nossa alegria e no alvorecer da nossa dor. Na prática das nossas virtudes e no embaraço das nossas falhas. Mas não é preciso viver muito para percebermos nos nossos gestos e nos alheios que não é assim que costuma acontecer.

Temos facilidade para amar o outro nos seus tempos de harmonia. Quando realiza. Quando progride. Quando sua vida está organizada e seu coração está contente. Quando não há inabilidade alguma na nossa relação. Quando ele não nos desconcerta. Quando não denuncia a nossa própria limitação. A nossa própria confusão. A nossa própria dor. Fácil amar o outro aparentemente pronto. Aparentemente inteiro. Aparentemente estável. Que quando sofre não faz ruído algum.

Fácil amar aqueles que parecem ter criado, ao longo da vida, um tipo de máscara que lhes permite ter a mesma cara quando o time ganha e quando o cachorro morre. Fácil amar quem não demonstra experimentar aqueles sentimentos que parecem politicamente incorretos nos outros, embora costumem ser justificáveis em nós. Fácil amar quando somos ouvidos mais do que nos permitimos ouvir. Fácil amar aqueles que vivem noites terríveis, mas na manhã seguinte se apresentam sem olheiras, a maquiagem perfeita, a barba atualizada.

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. Nos cafés, após o cinema, quando se pode filosofar sobre o enredo e as personagens com fluência, um bom cappuccino e pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, quando se divide os novos sonhos de consumo, imediato ou futuro. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos encontros erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.

Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando até a própria alma parece haver se retirado.

Difícil é amar quando já não encontramos motivos que justifiquem o nosso amor, acostumados que estamos a achar que o amor precisa estar sempre acompanhado de explicação. Difícil amar quando parece existir somente apesar de. Quando a dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que fazer para ajudar. Quando a sombra se revela e a noite se apresenta muito longa. Quando o frio é tão medonho que nem os prazeres mais legítimos oferecem algum calor. Quando ele parece ter desistido principalmente dele próprio.

Difícil é amar quando o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes alimentamos de não demonstrar fragilidade. Quando a exibição das suas dores expõe, de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.

Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, afasta as pessoas que acreditam nele. Quando parece que nós também estamos incluídos nesse grupo.

Difícil é amar quem não está se amando. Mas esse talvez seja o tempo em que o outro mais precise se sentir amado. Para entender, basta abrirmos os olhos para dentro e lembrar das fases em que, por mais que quiséssemos, também não conseguíamos nos amar.
 A empatia pode ser uma grande aliada do amor.