domingo, 18 de julho de 2010

Um pouco sobre mim.

Se algo é capaz de me descrever, ei-lo: eu sou um ser de momentos. De uma alegria sincera a uma dor inquietante. Essa é a parte mais sincera de mim e talvez a menos óbvia. Eu acredito no que digo e vivo pelo que acredito. Essa sou eu: uma tormenta de raios em um dia de primavera. Quanto aqueles que amo, me atrai a idéia de ser, para eles, como o sol que ilumina, conforta e guia. Porque mesmo o sol não é infalível, ás vezes ele desaparece, atrás de uma nuvem ou outra ou nos dias de chuva, quando se ausenta por longos períodos. E aqueles que por ventura tem a sorte e o azar de compartilharem seus dias comigo costumam me descrever como sendo dotada de um linguajar obsceno que esconde uma alma sensível e inflamada, de uma intensa capacidade de fazer rir aqueles com quem compartilha momentos de intimidade. Capaz de discutir com o mesmo fervor com que chora as dores que não lhe pertencem. Entre meus talentos, alguns citariam culinária, outros oratória. Alguns diriam ainda que é inteligência, mas há controvérsia...
Ser feliz!
Geralmente, quando uma pessoa exclama:- Estou tão feliz!
É porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingir metas. Muito melhor é ser feliz por nada.Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.Feliz por nada, nada mesmo?Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. “Faça isso, faça aquilo”. A trôco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.Benditos os que conseguem se deixar em paz.Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Textos que me tocam

Ana Jácomo
Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem a sensação de que sempre esteve aqui, quando eu sei que não estava. Conta por que nada do que diz sobre você me parece novidade, como se eu estivesse lá, nos lugares que relembra, quando eu sei que não estive. Conta onde nasce essa familiaridade toda com os seus olhos. Onde nasce a facilidade para ouvir a música de cada um dos seus sorrisos. Onde nasce essa compreensão das coisas que revela quando cala. Conta de onde vem a intuição da sua existência tanto tempo antes de nos encontrarmos.Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem o sentimento de que a sua história, absolutamente nova, é como um livro que releio aos poucos e, ao longo das páginas, apenas recordo trechos que esqueci. Conta de onde vem a sensação de que nos conhecemos muito mais do que imaginamos. De que ouvimos muito além do que dizemos. De que as palavras, às vezes, são até desnecessárias. Conta de onde vem essa vontade que parece tão antiga de que os pássaros cantem perto da sua janela quando cada manhã acorda. De onde vem essa prece que repito a cada noite, como se a fizesse desde sempre, para que todo dia seu possa dormir em paz.Conta pra mim de onde a gente se conhece. De onde vem essa repentina admiração tão perene. De onde vem o sentimento de que nossas almas dialogavam muito antes dos nossos olhos se tocarem. Conta por que tudo o que é precioso no seu mundo me parece que já era também no meu. De onde vem esse bem-querer assim tão fácil, assim tão fluido, assim tão puro. Conta de onde vem essa certeza de que, de alguma maneira, a minha vida e a sua seguirão próximas, como eu sinto que nunca deixaram de estar.Conta pra mim por que, por mais que a gente viva, o amor nos surpreende tanto toda vez que vem à tona.