segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Devaneios.

Um vento bate e levanta papeis imóveis na mesa. No mesmo momento o pensamento desarruma as idéias prontas. Divide as partes de uma crença, separa cores primárias de uma pintura. Derruba estrelas do céu na boca. Me faz andar sem querer sair. E vejo aquilo que eu não precisava. E lembro daquilo que eu nem vivi. Uma alegria nova. Essa pessoa antiga. Já vejo mais. E os outros também. Aponto pra cima. Nem imagino, mas tenho sido aquela. Que nem dormia em mim...e agora me devora.




Pinta no céu um sono. E implora sonhos.

Fui buscar no azul um brilho. Viajei nas caldas pela promessa do encontro.
Ouvi desejos do novo dia. Fiz deitar corpos numa longa estrada. A minha alma renovou os votos. Sua mente descansa. Beija a noite numa boa. Eu imagino um pouco de tudo.
E você, fecha os olhos antes que chegue um bicho.


"Nada jamais me será prometido senão eu mesma, e este eu-mesma, não será nada, se eu nada tiver o que fazer de mim"

Simone de Beauvoir

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cisne Negro.Negro?



Darren Aronofsky tem uma carreira impecável :A Fonte da Vida (2006) , Réquiem para Um Sonho (2000) e seu penúltimo filme O Lutador ( 2008).Em Cisne negro, não é diferente dos anteriores.

Natalie Portman faz Nina, uma bailarina obcecada pelo papel duplo no famoso balé O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky. Entretanto, seu jeito de menina casta e superprotegida pela mãe (uma bailarina frustrada) se vê na obrigação de assumir uma personalidade oposta à sua para ser escolhida no espetáculo que exige que ela assuma não apenas o seu lado “cisne branco” que condiz mais com ela com seu aspecto de menina bem comportada, como também o seu antagonista, o tal “cisne negro” do título( sexualizada e má). No entanto, esta pressão faz com que ela libere algo que está acima do seu controle e conheça partes obscuras de seu íntimo  em nome da perfeição artística.
Nina é uma mulher presa a um cotidiano que não permite que ela amadureça impedindo o natural desenvolvimento da sua própria sexualidade, obcecada pela sua carreira de bailarina e enclausurada no universo claustrofóbico que sua mãe criou em torno dela. Seu quarto ainda é o típico quarto de uma menina, com bonecas e bichinhos de pelúcia (interessante a parte do filme em que ela coloca no lixo todos eles).
A sufocante presença da mãe aparece (dentre outras coisas) pela imposição de portas sempre destrancadas do quarto e banheiro da filha impedindo com isto uma real privacidade da menina. E se de um lado sua mãe a mantêm como uma eterna criança, inocente e submissa( sweet), por outro o diretor do balé tenta despertar a mulher presa dentro de Nina apelando para contatos sexuais, ora com o próprio professor, ora com ela mesma.
Desta forma, o cisne branco e o cisne negro do espetáculo talvez sirvam como metáfora da dualidade conflitante da protagonista e de alguns que assistam ao filme.Um conflito que aumenta ao longo do filme, potencializado pela obsessão da personagem pela perfeição.
O que mais nos aflige no filme é a tal dualidade que todo ser humano tem dentro de si e que por educação ou moral exacerbada  uma sempre irá se sobrepor à outra.
O que achei um erro inadmíssivel  no filme de Darren Aronofsky seria o fato do autor confundir “sensualidade extravasada” como o lado mau e perverso de uma personalidade, criando assim um cisne negro, na minha opinião, retocável.