O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão.
A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao que permanece, ao que se repete e ao que é sempre igual.
Por isso, a mente adora lembranças e memórias.
Porque o passado já passou e não pode ser mais mudado.
O passado é permanente. A mente acha isso o máximo.
É como administrar uma empresa onde nada pode dar errado.
O medo da mente é justamente este, administrar imprevistos.
Outra coisa que a mente ama de paixão é o padrão, porque como o nome já diz, o padrão não muda.
Um metro, uma hora, o mesmo caminho para o trabalho, voltar ao mesmo restaurante e sentar à mesma mesa, são padrões que toda mente humana gosta de repetir.
Ah, que prazer que a mente sente quando a bunda senta na mesma cadeira que sentou na aula anterior!
A repetição dá segurança, porque cria a falsa ilusão de que nada vai mudar.
E se nada mudar, nada de ruim poderá acontecer.
Tudo será igual, com o mesmo final feliz, como antes.
Crianças adoram ver filmes mil vezes porque se sentem seguras, porque podem antecipar as próximas cenas (se na vida fosse assim...) e porque têm certeza de como a história terminará.
Já as mentes adultas, especialmente as obsessivas em qualquer grau, adoram a matemática.
A matemática é a única ciência exata e imutável.
Enquanto a física e química, a biologia, por exemplo, estão sujeitas a variáveis da vida real, a matemática continua igual.
Daí o fato de que toda mente obsessiva gosta de contar, manipular números.
As contas são sempre exatas, não mudam.
E se você contar todos os passos e chegar direitinho à padaria com seus mil passos, então, podemos concluir que sua mãe não vai morrer e nada vai dar errado no seu dia.
Certo? Errado.
Errado porque a mente vive num mundo irreal.
Mundo da mente é como caspa, só existe na sua cabeça.
Tudo é mera ilusão. E, com perdão do excesso de realidade fisiológica, o mundo está cagando e andando pras suas ilusões mentais.
Como o mundo já provou, uma batida de asas de borboleta na África pode influenciar mais a ocorrência de um tsunami na Ásia do que sua contagem de azulejos no banheiro.
Porque a borboleta é real e seu pensamento, não.
O problema é que a mente não quer nem saber disso e provavelmente muitos já terão abandonado este texto nas primeiras linhas.
Espertos, porque sabem que vou contar um segredo sobre eles: a mente fabrica alças.
Sim, alças, onde ela, a mente, possa se apegar.
Uma alça, como aquele putaqueopariu do carro, onde a gente segura a vida quando o motorista não é de confiança.
Como o santo Antonio dos jipes.
A alça pode ser um nome, um amuleto, uma mania, uma repetição qualquer.
A mente é chata, mas criativa, e assim, inventou a alça-sem-mala.
Nesta alça ela se apega até a morte.
É uma crença, um dogma, uma frase feita, um chavão, um lugar-comum: "Angélica ficou mais bonita depois que teve filho"; "Vaso ruim não quebra"; "Jesus voltará"...
Qualquer alça é boa pra mente: "A cadeia é a universidade do crime", "Direituzumanu só tem bandidu"...
Se a mente se acha fraca, ela inventa uma alça para se sentir forte, tipo: "Sou feia, mas tô na moda".
A mente inventa que se a pessoa perder dez quilos vai ser feliz e tudo vai dar certo na vida. Troca nomenclaturas, pra se sentir por cima.
Porque uma coisa é dizer que você tem TOC e outra coisa é assumir que você é um obsessivo chato, que ninguém agüenta conviver a seu lado e por isso você precisa de tratamento sério com remédio e tudo mais.
A mente inventa alças pra não cair em si.
Mas cair em si é a única forma de tomar consciência - primeiro passo para melhorar.
Portanto, remova todas as alças. Caia. Caia em si.
Tá gordo? Tá gordo, então, vamos emagrecer.
Tá infeliz? Sai dessa, viva a vida, aproveite.
Tá duro? 'Bora ganhar dinheiro'.
Só não fique aí, com essa cara de passageiro do circular da eternidade, vendo a vida passar na fresta da janelinha de um puta ônibus cheio, segurando firme na alça do medo, pois você tem que dar o sinal e descer para a liberdade do imprevisível.(Rosana Hermann)
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Matando a saudade em sonho
Como vencer a saudade com algo que seja mais parecido com presença? Através do sonho
A saudade não tem nada de trivial. Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno, às vezes não. É um sentimento bem-vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem.
Por sorte, é relativamente fácil exterminar a saudade de quase tudo e de quase todos, simplesmente pegando o telefone e ouvindo a voz de quem nos faz falta, ou indo ao encontro dessa pessoa. Ou daquele lugar que ficou na memória: uma cidade, uma antiga casa. Podemos eliminar muitas saudades, enquanto outras vão surgindo. A saudade do gosto de uma comida, de um cheiro do passado, de um abraço. Há muitas saudades possíveis de se conviver e possíveis de matar. A única saudade que não se mata é a de quem morreu. Morrer. Que verbo macabro para se falar de nostalgia.
Já ouvi vários relatos sobre a saudade que se sente de um pai, de um avô, de um filho, de uma amiga, dos afetos que nos deixaram cedo demais - sempre é cedo para partir, não importa a idade de quem se foi. Ficam as cenas guardadas na lembrança, mas elas se esvanecem, recordações são sempre abstratas. De concreto, palpável, tem-se as fotos e as imagens de gravações caseiras, mas de tanto vê-las, já não vemos. Já a sabemos de cor. Não há o rosto com uma expressão nova, a surpresa de um gesto inusitado.
Como, então, vencer a saudade com algo que seja mais parecido com presença?
Através do sonho.
Uma mãe que perdeu seu filho anos atrás me conta que todos em casa sonham com ele, menos ela. Para sua infelicidade, ela não tem controle sobre isso, simplesmente não recebe essa bênção, e queria tanto. E eu a entendo, porque através do sonho a pessoa que se foi nos faz uma visita. Pode até ser uma visita aflitiva, mas a pessoa está de novo ali, ela está interagindo, ela está sorrindo, ou está calada, ou está dançando, ou escapando de nossas mãos, mas ela está acontecendo em tempo real, que é o período em que estamos dormindo, e que faz parte da vida, e não da morte.
De vez em quando sonho com minha mãe e sempre acordo animada por ela ter encontrado esse meio de me dar um alô, de me fazer recordá-la. Observo seu jeito, ouço sua voz e penso: quem roteirizou esse sonho? De onde vieram suas palavras para mim? A resposta lógica: meu inconsciente falou através dela, só que isso tira todo o encanto da cena. Prefiro acreditar que ela é que esteve no comando da sua aparição, me dizendo o que tinha para dizer, nem que fosse uma frasezinha à toa.
Nesse feriado de Finados, o que se pode desejar para os inúmeros saudosos de mães, de maridos, de netos? Que os sonhos abracem a todos.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
O súbito encanto de Marina Silva- Arnaldo Jabor
Não, o Palácio de Inverno de São Petersburgo da Rússia em 1917 ainda não será tomado pela onda vermelha.Não. Agora, o PT vai ter de encarar: estamos num país democrático, cultural e empresarialmente complexo, em que os golpes de marketing, os palanques de mentiras, os ataques violentos à imprensa não bastam para vencer eleições... (Por decência, não posso mostrar aqui os emails de xingamentos e ameaças que recebo por criticar o governo). O Lula vai ter de descobrir que até mesmo seu populismo terá de se modernizar. O povo está muito mais informado, mais online, mais além dos pobres homens do Bolsa-Família, e não bastam charminhos e carismas fáceis, nem paz e amor nem punhos indignados para a população votar. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras políticas vigentes, nada vai se resolver. Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas e nenhum carisma esconde isso para sempre. Já sabemos que administração é mais importante que utopias.
A campanha a que assistimos foi uma campanha de bonecos de si mesmos, em que cada gesto, cada palavra era vetada ou liberada pelos donos da "verdade" midiática. Ninguém acreditava nos sentimentos expressos pelos candidatos. Fernando Barros e Silva disse na Folha uma frase boa: "Dilma parece uma personagem de ficção e Serra a ficção de uma personagem." Na mosca.
Serra. Os erros da campanha do Serra foram inúmeros: a adesão falsa ao Lula, que acabou rindo dele: "O Serra finge que me ama"...
Serra errou muito por autossuficiência (seu defeito principal), demorando muito para se declarar candidato, deixando todo mundo carente e zonzo, como num coito interrompido; Serra demorou para escolher um vice-presidente (com a gafe de dizer que vice bom é o que não aporrinha), fez acusações ligando as Farc à Dilma, esculachou o governo da Bolívia ainda no início, avisou que pode mexer no Banco Central e, quando sentiu que não estava agradando, fez anúncios populistas tardios sobre salário mínimo e aposentados. Nunca vi uma campanha tão desagregada, uma campanha antiga, analógica numa época digital, enlouquecendo cabos eleitorais e amigos, todos de bocas abertas, escancaradas, diante do óbvio que Serra ignorou. Serra não mudou um milímetro os erros de sua campanha de 2002. Como os Bourbon, "não esqueceu nada e não aprendeu nada".
A campanha do primeiro turno resumiu-se a dois narcisismos em luta.
Dilma. Enquanto o Serra surfava em sua autoconfiança suicida, a Dilma, fabricada dos pés ao cabelo, desfilava na certeza de sua vitória, abençoada pelo "Padim Ciço" Lula.
Seus erros foram difíceis de catalogar racionalmente, mas os eleitores perceberam sutilezas na má interpretação da personagem, como atrizes ruins em filmes.
O sorriso sem ânimo, riso esforçado, a busca de uma simpatia que escondesse o nítido temperamento autoritário, suas palavras sem a chama da convicção, ocultando uma outra Dilma que não sabemos quem é, sua postura de vencedora, falando em púlpitos para jornalistas, sua arrogância que só o salto alto permite: ser pelo aborto e depois desmentir, sua união de ateia com evangélicos, a voracidade de militante - tarefeira, para quem tudo vale a pena contra os "burgueses de direita" que são os adversários, os esqueletos da Casa Civil, desde os dossiês contra FHC, passando pela Receita Federal (com Lina Vieira e depois com os invasores de sigilos), sua tentativa de ocultar o grande hipopótamo do Planalto que foi seu braço direito e resolveu montar uma quadrilha familiar. Além disso, os jovens contemporâneos, mesmo aqueles cooptados pelo maniqueísmo lulista, não conseguem votar naquela ostentada simpatia, pois veem com clareza uma careta querendo ser cool.
Marina. Os erros dos dois favoritos acabaram sendo o grande impulso para Marina. No meio de uma programação mecânica de marketing, apareceu um ser vivo: Marina. Isso.
Uma das razões para o segundo turno foi a verdade da verde Marina. Sua voz calma, sua expressão sincera, o visível amor que ela tem pelo povo da floresta e da cidade, tudo isso desconstruiu a imagem de uma candidata fabricada e de um candidato aferrado em certezas de um frio marqueteiro.
Marina tem origem semelhante à do Lula, mas não perdeu a doçura e a fé de vencer pelo bem. Isso passa nas imperceptíveis expressões e gestos, que o público capta.
Agora teremos um segundo turno e talvez vejamos um PSDB fortalecido pela súbita e inesperada virada. Desta vez, o partido terá de ser oposição, se defendendo e não desagregado como foi no primeiro turno, onde se esconderam todos os grandes feitos do próprio PSDB, durante o governo de FHC.
Desde 2002, convencionou-se (Quem? Por quê?) que o Lula não podia ser atacado e que o FHC não poderia ser mencionado. Diante dessa atitude, vimos o Lula, sua clone e seus militantes se apropriarem descaradamente de todas as reformas essenciais que o governo anterior fez e que possibilitaram o sucesso econômico do governo Lula, que cantou de galo até no Financial Times, assumindo a estabilização de nossa economia. E os gringos, desinformados, acreditam.
Além disso, com "medinho" de desagradar aos "bolsistas da família", ninguém podia expor mentiras e falsos dados que os petistas exibiam gostosamente, com o descaro de revolucionários "puros". Na minha opinião, só chegamos ao segundo turno por conta dos deuses da Sorte. Isso - foi sorte para o Serra e azar para a Dilma.
Ou melhor, duas sortes:
O grande estrago causado pela súbita riqueza da filharada de Erenice, ali, tudo exibido na cara do povo, e o reconhecimento popular do encanto sincero de Marina.
Isso salvou a campanha errática e autossuficiente do José Serra, que apesar de ser um homem sério, competentíssimo, patriota, que conheço e respeito desde a UNE, mas que é das pessoas mais teimosas do mundo.
Duas mulheres pariram o segundo turno. Se ouvir seus pares e amigos, poderá ser o próximo presidente. Se não...
terça-feira, 12 de outubro de 2010
CRESCER COMPENSA!
Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor.
Carregamos dentro de nós uma criança que não quer crescer e ela exige de nós, muitos reparos.
Se não soubermos como administrar ou conduzir essa criança, ela pode provocar muitos estragos.
A maior parte dos nossos conflitos estão relacionados a essa criança internalizada .
Quando procurei ajuda de um psicoterapeuta, dei o primeiro e grande passo para a maior conquista da minha vida : o meu crescimento interior. Através da expurgação das dores da alma fui elaborando traumas e conflitos inconscientes. Desta forma consegui resgatar minha auto-estima e o meu amor próprio. O crescimento conquistado através do reconhecimento da minha carência , fez com que eu passasse a entender que a única pessoa responsável para cuidar e atender as necessidades de minha criança interior , era eu mesma - que não ia me levar a lugar nenhum ficar arranjando desculpas nem culpados para ficar mantendo o papel de vítima e coitadinha. Deixar para trás a pena de mim mesma, foi talvez a parte mais complicada do processo . Entender e desenvolver a empatia por meus pais reconhecendo a carência e limitações deles foi talvez a maior conquista deste meu processo . Conquistar esse crescimento minimizando as carências afetivas e a dependência nas relações afetivas foi sair do vicio das lamentações.
Entendi que não existe "cura" mas apenas tomadas de consciência para comportar todos os conflitos da nossa história de vida. Nossas memórias de dor sempre estarão presentes dentro de nós e pode eclodir a qualquer momento. Com o tempo ela vai perdendo a força sobre nós e passamos a ter mais equilíbrio nas nossas emoções.
Essa conquista é adquirida pelo amadurecimento psíquico. Crescer é um trabalho duro e leva toda uma vida. Quem adentra nesse processo vai enfrentar dor e sofrimento, mas vai ser esta capacidade que vai permitir sabermos discernir quando podemos ser infantis e quando devemos agir como gente grande.
É esvaziando a dor que o prazer entra na nossa vida!É sendo adulto que poderemos nos dar ao luxo de brincarmos de infância.
Hoje em dia, a minha criança interior é feliz. Eu consegui fazer um acordo com ela. Na hora em que preciso agir como adulta, ela deve ficar quieta - ela sabe que logo que posso, eu a deixo se expressar. Essa criança é a minha louca espontaneidade, falar alto, dizer o que penso, falar pelos cotovelos, comer guloseimas até dar dor de barriga.
A minha criança sabe que conta com meu apoio, com meu respeito e com toda a minha dedicação. Mas que deve obedecer e respeitar os meus momentos de lucidez e responsabilidade.
Carregamos dentro de nós uma criança que não quer crescer e ela exige de nós, muitos reparos.
Se não soubermos como administrar ou conduzir essa criança, ela pode provocar muitos estragos.
A maior parte dos nossos conflitos estão relacionados a essa criança internalizada .
Quando procurei ajuda de um psicoterapeuta, dei o primeiro e grande passo para a maior conquista da minha vida : o meu crescimento interior. Através da expurgação das dores da alma fui elaborando traumas e conflitos inconscientes. Desta forma consegui resgatar minha auto-estima e o meu amor próprio. O crescimento conquistado através do reconhecimento da minha carência , fez com que eu passasse a entender que a única pessoa responsável para cuidar e atender as necessidades de minha criança interior , era eu mesma - que não ia me levar a lugar nenhum ficar arranjando desculpas nem culpados para ficar mantendo o papel de vítima e coitadinha. Deixar para trás a pena de mim mesma, foi talvez a parte mais complicada do processo . Entender e desenvolver a empatia por meus pais reconhecendo a carência e limitações deles foi talvez a maior conquista deste meu processo . Conquistar esse crescimento minimizando as carências afetivas e a dependência nas relações afetivas foi sair do vicio das lamentações.
Entendi que não existe "cura" mas apenas tomadas de consciência para comportar todos os conflitos da nossa história de vida. Nossas memórias de dor sempre estarão presentes dentro de nós e pode eclodir a qualquer momento. Com o tempo ela vai perdendo a força sobre nós e passamos a ter mais equilíbrio nas nossas emoções.
Essa conquista é adquirida pelo amadurecimento psíquico. Crescer é um trabalho duro e leva toda uma vida. Quem adentra nesse processo vai enfrentar dor e sofrimento, mas vai ser esta capacidade que vai permitir sabermos discernir quando podemos ser infantis e quando devemos agir como gente grande.
É esvaziando a dor que o prazer entra na nossa vida!É sendo adulto que poderemos nos dar ao luxo de brincarmos de infância.
Hoje em dia, a minha criança interior é feliz. Eu consegui fazer um acordo com ela. Na hora em que preciso agir como adulta, ela deve ficar quieta - ela sabe que logo que posso, eu a deixo se expressar. Essa criança é a minha louca espontaneidade, falar alto, dizer o que penso, falar pelos cotovelos, comer guloseimas até dar dor de barriga.
A minha criança sabe que conta com meu apoio, com meu respeito e com toda a minha dedicação. Mas que deve obedecer e respeitar os meus momentos de lucidez e responsabilidade.
domingo, 10 de outubro de 2010
FUCK YOU
Nem o direito a não querer mudar de vida a gente tem. Quantas mulheres já tentaram, persistiram e, quantas, meu Deus, fracassaram? Estas histórias, as revistas não mostram. Ou seja, essas drogas de revistas não servem nem pra nos colocar no nosso lugar. Elas deviam dizer: “Você, querida gorducha, se toca e desiste. Vá se matar de comer doce que ganha mais”. Não, nada disso. Mostram aquelas magras filhas da mãe, que perderam milhões de quilos tomando sopa, mais dezenas de celulites em roupas plásticas e outro monte de gordura na privada, metendo o dedo na goela.
Sempre fiz de tudo para me dar bem acreditando e vendo o que as pessoas são além da aparência. Menosprezo ninguém merece! O desgraçado do meu marido chega toda semana com uma dessas porcarias de revista, repleta de dicas e receitas, para eu emagrecer. Não posso ser assim? Ameaçou até sair de casa e disse que eu preciso me cuidar mais e me valorizar. Será que eu não posso, pura e simplesmente, dar mais importância a meu cérebro do que a essa droga de barriga retíssima?
Agora, vem cá. Como é que eu, com essa idade, vou jogar um casamento de tantos anos fora? Não teve jeito. Faz uma semana que estou correndo lá na quadra do prédio. E, o pior de tudo, meu Deus, são aquelas crianças brincando, correndo atrás de mim, cheias de gracinhas, elas quase me fazem tropeçar. Juro que, se eu cair, derrubo uma delas e ainda rolo por cima. Vai até ficar grudada no chão, a peste. Sem mencionar os cachorros latindo, felizes da vida, como se eu estivesse ali só para brincar com eles. Quero morrer!
Arquitetei um plano para provar àquele traste como essas revistas são mentirosas e manipuladoras. Todos os dias, depois da minha corrida diária, tomo banho calmamente e me sento tranqüila em meu sofá diante da TV. Desenterro todos os meus filmes de romance antigos. Estou aproveitando para rever todos eles. Hoje, pela vigésima vez, assisti “Tarde demais para esquecer”. Isso me dá tanto apetite emocional que devoro todos os doces, chocolates e sorvetes que meu bom salário me permite comprar. Bom salário, aliás, conseguido por conta do meu cérebro, e não da minha bunda!
Já engordei sete quilos em quase um mês.
Vamos ver quem ganha: eu ou a droga da Boa Forma!(Samantha Abreu)
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA
Devaneios etcétera e tal...: A ESCOLHA: "Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das q..."
A ESCOLHA
Odeio metralhadoras, e das giratórias tenho asco.
Porém, não posso me furtar ao elenco das razões que me levam a não votar em Dilma e das que me fizeram hesitar muito até escolher Serra.
Se, por acaso, parecer uma metralhadora giratória, saiba que não é esta a intenção, muito menos o objetivo.Não gosto do PT porque não gosto de nada radical. Portanto, não voto nele, embora, se Lula fosse candidato, provavelmente teria meu voto.
Infelizmente, no nosso sistema eleitoral, ao contrário do que parece, votamos primeiro no partido – e nas coligações – e depois no candidato.
Isto explica como, por exemplo, Luciana Genro com mais de cem mil votos no RS, não se elegeu (ainda bem), enquanto outros, com votação bem inferior, conseguiram a vaga.
Explica como Tiririca, em SP, com mais de um milhão de votos, trouxe com ele candidatos com votação mínima, deixando de fora outros com milhares de votos.
O fenômeno já havia acontecido com o famoso Enéas, nas eleições anteriores, sobrou tempo para a lição ser aprendida, mas o Congresso... Bem, já falei o que penso dele.
Isto se chama, no nosso ultrapassado e corrupto sistema político, de coeficiente eleitoral dos partidos e coligações que, em outras palavras, justifica o abuso do poder econômico pelos grandes partidos.
Lula conseguiu, com habilidade e inteligência, afastar ostensivamente do governo os petistas envolvidos com o mensalão, especialmente José Dirceu e José Genuíno.
Acredito que, sobre isto, não há dúvidas.
Dilma terá esse poder? Sinceramente, não creio. Até acho que ela pensa como eles.
Dilma, a quem conheço dos tempos de Universidade – fomos contemporâneos em faculdades diferentes – ingressou de corpo e alma, na luta armada contra a Ditadura.
Respeito isto, e muito. Não condeno a guerrilha, o movimento libertário contra o esbulho militar praticado em 1964.
Na guerrilha luta-se, armado, contra homens armados. Os soldados, treinados para matar, enfrentaram pessoas dispostas a matar por uma causa, e a morrer por ela também.
Porém, Dilma se excedeu. Saiu da heróica luta ideal e ingressou no terreno insuportável do crime comum, de assalto a bancos, sequestros e, a pior de todas as coisas, o terrorismo.
Terrorismo é obsceno! Terrorismo é atacar pessoas que não se sentem ameaçadas. É matar indiscriminadamente, sem possibilitar a defesa. É a bomba que explode na rua, no edifício, na loja.
Não há redenção para este crime, é como eu penso, é como eu sinto.
O terrorista despe-se de humanidade, é um ser brutal, sem o mínimo de empatia, não há causa, não há ideal que justifique o terrorismo. Nem a mais cruel das ditaduras.
Vejo Dilma falar e não consigo imaginar que esta pessoa não é aquela pessoa.
Acho mesmo que se trata da mesma pessoa. Percebo, com clareza, seu viés autoritário, sua arrogante complacência e sua indiferença com o indivíduo.
Nela, ainda fulgura o brilho ideal de sua causa, que legitima sua consciência para fazer qualquer coisa, desde que em nome da causa.
E, o que me dá mais medo, não sei qual é a causa idealizada por Dilma, na atualidade.
Não gosto de mensagens demonizadoras e deleto todas as que recebo, sem ler até o final. Dilma isto, Dilma aquilo, verdades e mentiras se misturam de tal forma que não se distingue umas das outras.
Prefiro ficar com minha percepção, com os fatos que conheço por mim mesmo, para dizer – mesmo que você não tenha me perguntado – que não votarei na Dilma.
Sobrou – para os meus ais – o Serra.
Não que eu tenha algo pessoal contra ele, muito pelo contrário. Mas o Serra, como candidato, possui um quê de fragilidade que dá no que pensar. E, também, nos nervos.
Ele, como a Dilma, engajou-se no movimento contra a ditadura e, como líder estudantil presidente da UNE, arriscou o pescoço a valer.
Entretanto, não perdeu a humanidade, e isto conta muito. Che Guevara não perdeu, como Fidel, a humanidade.
Líderes revolucionários que não perdem a humanidade, são homens a considerar.
Por quê, senhor, Serra precisava usar os elogios de Lula, na sua campanha, assinando um atestado de absurda ingenuidade política?
Serra é um político que, parece, não ultrapassou os limites dos conchavos de Centros Acadêmicos, disposto a ceder, ceder, ceder até o que não pode ser cedido.
Ao contrário do PT, sempre disposto a comprar, dinheiro se arranja, nas malas, nos correios, nas cuecas.
E se, ao contrário do que parece, Serra não for de ceder? E se, na Presidência da República, Serra revele a mesma dureza, frieza e intransigência que percebo no olhar de Dilma?
É improvável, mas temo por isso.
É importante dizer a você que o dilema é meu. E não pretendo transferi-lo a terceiros. Até porque, por incrível que pareça, encontrei uma saída, a revelar que, no final das contas, não se trata de um dilema verdadeiro.
Talvez, e é provável, você não concorde com a minha saída, você não tem nenhum dilema, já sabe o que vai fazer.
Portanto, não se ofenda.
Eu vou votar no Serra, porque a minha opção verdadeira, a Marina, não passou para o segundo turno. E olhe que não sou um ambientalista, eventual ou fanático. Sou perfeitamente capaz de derrubar uma árvore, se ela estiver me atrapalhando.
Entretanto – e talvez isto faça uma diferença – sinto a obrigação de revelar o que mais me incomoda, o que me incomoda acima de tudo e faz com que minha opção seja, no mínimo, coerente.
Quando Dilma ainda era do PDT e se dedicava, com competência, ao assunto das Minas e Energias aqui no RS, vi pela primeira vez Collor de Mello. E lembrei, na hora, de Dilma.
Depois de tantos anos e de tantos acontecimentos, ouço e vejo Dilma falar. E, na minha cabeça, a imagem de Collor toma conta.
É uma imagem que machuca o cérebro, de um homem furioso, dono da verdade e despido de sentimentos de culpa. Um homem que não se arrepende.
Um homem que não se arrepende é capaz de todas a ignomínias.
Por fim, como argumento derradeiro a amparar minha decisão, que não cogita do voto nulo ou branco, jamais votarei, seja quem for o candidato, em alguém que Sarney apoie.
É indispensável, para que sejamos realmente uma democracia, que figuras assim, representantes das nossas piores tradições, sejam extirpadas da cena política, eles que cuidem das suas fazendas, das suas contas bancárias – aqui e no exterior – e nos deixem em paz, a construir um País verdadeiro, com espírito de Nação.
José Serra, em quem vou votar na falta de outra opção, é uma reminiscência da antiga política de bar de Faculdade, longe de ser ideal, mas tolerável.
Dilma? (Paulo Wainberg- advogado gaúcho)
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