quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ainda virgem?Vamos para 2011..

"Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. "Paulo Wainberg


Li que na França, um Juiz de Direito anulou um casamento porque a noiva não era virgem!

Imagino a cena: suíte de luxo no hotel cinco estrelas, champanhe gelada, sorrisos, a noiva retorna do banheiro com seus negligées sedutores e estende-se ao leito, pronta para a ação.
O noivinho, ansioso, promete carinhos e cuidados, jura que não vai doer, que ela, a sua amada, vai gostar e, enquanto fala, vai enfiando a mão á valer. Ela, louca para receber seu amado, entrega-se à paixão.
Tudo pronto, as preliminares concluídas, todas as palavras ditas e lá vai o rapaz, com delicadeza e cuidado, invadir o tão cobiçado território, sabendo que terá ainda um último obstáculo a superar: o hímen da mulher amada.
E manda ver.
É quando explode o escândalo!
Você decide: ele armou o escândalo quando percebeu que o virginal obstáculo já fora removido por outro desbravador? Ou concluiu o serviço e só então foi se queixar ao Bispo, ao Mulá ou, no caso, ao Juiz?
Quando comecei minha recente carreira de advogado, no ano de 1968, a noiva não ser virgem era motivo para anular o casamento, sim senhora. E o marido traído podia matar a esposa infiel porque seria absolvido pela legítima defesa da sua honra maculada.
Virgindade e fidelidade, qualidades femininas divinizadas por séculos, ainda são atributos celebrados pelas religiões e, ainda que num caso circunstancial, pela Justiça francesa.
Fantástico.
Com a imparcialidade que me é peculiar, ouso dizer que, do ponto de vista das religiões, a verdadeira divindade é o hímen feminino que, inadequadamente rompido, condena os participantes, circunstantes e observadores incautos às mais dolorosas penas celestiais.
Nada é mais sagrado do que um hímen, tão sagrado que o repuseram em Maria, mãe de Jesus, transformando José, seu marido de tantos anos em, no mínimo, um pobre eunuco, incapaz de deflorar a esposa, que teve de conceber com o hímen intacto.
Tão importante e fundamental a Sacra Membrana que a ordem divina de crescermos e multiplicarmo-nos foi adequadamente adaptada pela exigência do matrimônio sem o qual podemos apenas crescer, mas, multiplicar, jamais.
O Serviço de Proteção ao Hímen percorreu séculos de História, gerando verdadeiros exércitos de abstinentes, poluindo cortes judiciais de civilizações antigas, pré-antigas, meio-idosas, modernas e contemporâneas, exercitando-se em templos e catedrais à base de ameaças furibundas de castigos terríveis e sofrimentos atrozes.
Mulher sem hímen era impura por definição, sabendo-se que impuro é tudo aquilo que contraria as ordens religiosas.
Casar com mulher virgem era imposição cultural, social, religiosa e – por que não? – econômica, vistas as finalidades materiais de um casamento bem fornido.
E a jovem nubente que ousasse desfazer-se, ainda solteira, da Santa Membrana era, entre outras coisas, expulsa de casa, desterrada, morta na fogueira, execrada em público e, conforme antigos costumes, apedrejada em praça pública, exercício que algumas mentes mais, digamos assim, conservadoras, ainda acham exemplares.
O homem-bomba, por exemplo, se explode num shopping porque, fazendo isso, terá à sua disposição incontáveis jovens mulheres virgens, pelo resto da eternidade. É importante ressaltar essa condição de “jovens” porque ninguém vai se explodir se a recompensa eterna lhe reservar “velhas” virgens.
Eu não me explodiria.
Interessante que a concepção de pureza da mulher concentra-se na pele pré-vaginal. Pode rolar de tudo, dedos no clitóris, pau nas coxinhas, sexo oral, sexo anal, lambidas e mordidas, desde que se preserve a pelanca, reservada para os trabalhos da noite de núpcias, com manchas de sangue no lençol para não haver dúvidas.
A noiva assim casada, mesmo que se tenha esvaído em orgasmos mis, pré-nupciais e com diversos namorados é pura para as finalidades do credo e, portanto, apta a preservar o matrimônio, desde que não incorra no pecado do adultério que, mais do que pecado, ofende de morte a honra do marido.
“Ó tempora, ó mores”, afirmo eu como Cícero afirmou, há mais de vinte séculos, no Senado Romano.
Quem te viu, quem te vê, já comentou Chico Buarque de Holanda quando você era a mais bonita das cabrochas desta ala.
Não fossem as mulheres feias terem deflagrado o Movimento Feminista e estaríamos ainda hoje subjugados pelo Sagrado Hímen, pela Pelanca Fundamental a impedir homens e mulheres de acessarem-se mutuamente, em atos de amor, de paixão, de tesão ou de pura e explícita sacanagem o que – me contaram – parece ser muito bom.
E ainda estaríamos à mercê de Cortes Judiciais nutridas de preconceitos a sancionar a insensatez e o obscurantismo da intolerância religiosa, seus tabus, sofismas e dogmas absurdos da qual esse Juiz francês é um anacrônico modelo.
Menos mal que o Governo e a sociedade franceses repudiaram a sentença, escandalizaram-se com ela, afinal de contas o que é isso, meu? Onde é que estamos? Com quem o senhor pensa que está falando? Anular um casamento porque a noiva já tinha dado? Porque a virgindade era cláusula do contrato? Afirmo, do alto de minha cadeira de advogado que essa cláusula, se existiu, é nula de pleno direito, ferindo os mais comezinhos princípios do Direito e da Moral, inclusive sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, a definir-se, no caso concreto, quem era o consumidor.
Aliás, qual é a função biológica do hímen? Alguém sabe? Sua existência não será um defeito na evolução, um pelego desnecessário que, uma vez rompido, não deixa rastro, pegada nem impressões digitais?
Protegê-lo com tanta fúria como alguns fazem é o mesmo que negar as funções biológicas, entre elas comer, beber e, com perdão da má palavra, fazer cocô. Mulher pura faz essas coisas? Ó meus sais, quanta decepção…
Ironias à parte se eu fosse imperador da Áustria no Século XVIII, teria encomendado de Mozart uma Missa Solene chamada A Sagração do Hímen, que seria tocada obrigatoriamente em todas as cerimônias de casamento da Europa. Beethoven poderia ter composto a Décima Sinfonia, A Himenêutica e James Joyce, em vez de escrever o nunca lido e sempre citado Ulisses teria escrito a monumental obra O Hímen Caído, isto depois de percorrer todos os cabarés e casas de meretrício de Dublin num único dia.
Neste assunto sou radical e definitivo.
Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. Mulheres produzem sucos gástricos e espinhas no rosto, assim como os homens, e olha que não estou falando de outras nojeiras.
Às que já se desfizeram da Santa Membrana minha recomendação é: aproveitem que a vida é curta e é só uma.
E vocês, homens, francamente, me fazem vergonha. Virgindade é lá coisa que se exija de uma noiva contemporânea?
Nem minha sogra acredita mais nisso.
Se você pegar uma virgem, desvirgine, mas nem por isso sinta-se dono da garota. Acredite em mim: é muito melhor ser amigo do dono da piscina do que ter piscina em sua casa. Você passa o domingo tomando banho na piscina dele e vai embora sem se preocupar em saber se ele tem cloro em casa para purificar a água.
Recomendo que as Altas Instâncias da Justiça Francesa exonerem o tal Juiz, coloquem-no nas galés e o desterrem para a Ilha de Alba ou de Santa Helena onde ele poderá proferir suas sentenças sem incomodar ninguém nem me obrigar a escrever esta crônica.
Nem você a lê-la.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Férias.O que seria sem elas.

Não é fácil ser um gaúcho típico, classe média.
Mal acaba de desembrulhar os presentes de Natal e já está carregando o carro, colchão enrolado em cima, o aparelho de TV acomodado entre a imensa bagagem, crianças, o cachorro, câmara de ar que será bóia, tudo socado, rumo à estrada que a praia está chamando.
Fila na rodovia, calor danado, capaz de chover, pára de berrar, menino!, engarrafamento inevitável em Canoas, quatro horas de viagem para um trecho tão curto, o chevetão só ferveu uma vez, enfim o mar.
E então é aquilo de sempre, todos numa casa de dois quartos, a mulher trabalha feito uma moura, ele paga todas as despesas - o cunhado que sempre aparece nunca se coça..
 - cadê o menino, pelo amor de Deus, eu disse para ficar olhando, picolé, areia na sunga, queimadura de sol, ui como arde, bota vinagre, o banheiro sempre ocupado, o cunhado é desregulado.
Dormir amontoado não é mole, o cunhado é flatulento, pudera, come feito um cavalo, ainda se colaborasse, mosquitos, pagode no vizinho até de madrugada, mania de soltar foguetes.
 Quando acaba o feriadão repete-se a viagem, agora em sentido contrário: fila de novo, só deu um dia de sol, diabo de chuva, congestionamento irritante em Canoas, o carro ferve, enfim o lar.
Descarrega-se toda a tralha, cuidado com a TV, será que esquecemos alguma coisa?
- O menino! Cadê o Wanderson Kleyton?
A mulher desmaia, a sogra abre falação, o cachorro mijou dentro do carro, calma, liga pro vizinho na praia, pra polícia, eu volto para buscar, alguém me empresta um carro que o chevetão está no bagaço. Leva um ano para curar o estresse das férias. (desconheço o autor)

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?: "Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular? Deve..."

Que presente te dar?


Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular?
Deveria desatar inúmeros presentes ao pé da árvore,entreabrindo jóias, tecidos, requintados e pessoais objetos, ou deveria dar-te o que não posso buscar lá fora, mas o que em mim está fechado e mal sei desembrulhar?
Gostaria de dar-te coisas naturais, feitas com a mão, como fazem os camponeses, os artesãos, como faz a mulher que ama e prepara o Natal com seus dedos e receitas, adornos e atenção.
Te dar, talvez, um pedaço de praia primitiva, como aquelas do Nordeste, ou de antigamente - Búzios e Cabo Frio; um pedaço de mar das Ilhas do Caribe, onde a água e o amor são transparentes e onde a areia é fina e brilhante e, sozinhos, habitam a eternidade, os amantes.
Te dar aquele verso de canção um dia ouvida não sei mais aonde, se numa tarde de chuva, se entre os lençóis cansados; um verso, uma canção ou talvez o puro som de um saxofone ao fim do dia, som que tem qualquer coisa de promessa e melancolia.
Fugir uma tarde contigo para os motéis, quando todos os homens se perdem nos papéis e escritórios, números e tensões: fugir contigo para uma tarde assim,um espaço de amor entreaberto na peça que nos prega a burocracia dos gestos.
Gravar numa fita as canções que me fazem lembrar de ti e ouví-las, ou tocar de algum modo, em algum cassete as frases que disseste, que em mim gravaste: frases líricas, precisas, que quando estou cinza, relembro e me iluminam.
Te enviar todos os cartões que colecionas, de todos os lugares que conheço ou que tu nem imaginas, ir a essas paisagens e ilhas e habitá-las com os selos e palavras de interminente paixão.
Dar-te aquela casa de campo entre montanhas, aquele amor entre a neblina, aquele espaço fora do mundo, fora de outros espaços, sem telefone, sem estranhas ligações, para ali nos ligarmos um no outro em una e dupla solidão.
Se queres jóias, te darei. Aqueles corais que vendem na Ponte Vecchia, em Florença; o âmbar ou as pérolas que expõem nas lojas do Havaí; aquelas pedras de vidro para iridescentes colares, que vendem em Atenas, ao pé da Plaka, ao pé da Acrópole, que amorosa nos contempla.
Te dar numa viagem os castelos do Loire, e sair comendo e rindo juntos no roteiro gastronômico franco-italiano; ali comendo e aqueles vinhos bebendo, de tudo nos esquecendo, sobretudo dos remorsos tropicais de quem tem sempre ao lado um faminto desamparado, de culpa nos ferindo.
Te darei flores. Sempre planejei fazer isto. Tão simples: de manhã acordar displicente e começar a colher flores sob a cama. Ir tirando buquês de rosas, margaridas, vasos de íris, orquídeas que estão desabrochando e, uma a uma, de flores ir te cumulando. E amanhecendo dirás: o amado hoje está mel puro, seu amor aflorou e está me perfumando.
Escrever bilhetes pela casa inteira, metê-los entre as roupas, armários, prateleiras, pra que na minha ausência comeces a desdobrar recados daquele que nunca se ausentou, embora esse ar de quem vive partindo, mas, se alguma vez partiu partido foi para reunido regressar.
Te dar um gesto simples. Passar a mão de repente sobre tua mão, como se apalpa a vida ou fruto que pede para ser colhido.
Te dar um olhar, não aquele olhar distraído, alienado de quem está nas coisas prosaícas perdido, mas um olhar de quem chegou inteiro e que se entrega enternecido e desamparado dizendo: olha, sou teu, agora veja lá o que vai fazer comigo.( Affonso Romano de Sant'Anna)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Um vislumbre do fim.

Este trecho de Clarice Lispector traduz (infelizmente) meu estado de alma neste final de ano.
Que 2011 me revigore em esperanças.Amém




Uma vez eu irei.
 Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações.
 Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria.
 Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou!
Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo.
Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.

Devaneios etcétera e tal...: DILEMA SENTIMENTAL.: "Prezada Consultora Sentimental ! Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério. Eu tenh..."

DILEMA SENTIMENTAL.






Prezada Consultora Sentimental !
Aprecio muito sua coluna e recorro a você para pedir conselho num dilema extremamente sério.
Eu tenho uma namorada que eu amo intensamente e quero casar com ela. O meu problema e' que tenho receio que a minha gata não se identifique com a minha família, e isso venha a gerar conflitos no nosso relacionamento.
Papai é chefe do tráfico e tem atuação muito forte aqui no Rio. Ele conheceu a minha mãe numa casa de tolerância e conseguiu tirá-la dessa vida. Hoje ela tem sua própria zona com mais de duzentas mulheres e homens, e não precisa mais exercer esse trabalho pessoalmente; só de vez em quando, pra se manter por dentro das tendências do mercado.
Tenho três irmãos e duas irmãs que eu conheço pessoalmente. O mais velho é deputado federal. O segundo tinha problemas, mas mudou muito de vida depois que cumpriu a pena por sequestro e estupro e hoje é bispo da Igreja Universal da Glória de Jesus, já ressuscitou mais de catorze mortos e curou mais de 3.000 aidéticos e vive bem com a graça de Deus com suas quatro esposas em Jurerê Internacional. Meu terceiro irmão abandonou a milícia que ele comandava no Complexo do Alemão, se arrependeu dos presuntos que ele tem no currículo, saiu do armário faz uns oito meses e hoje é travesti e trabalha na rua do Jóquei em São Paulo, mas ele faz só ativo. Apesar de ter virado a casaca e largado o Mengão pra virar curintiano por causa do Ronaldo, ele é um menino bom e não causa preocupação na família. A gente vê que ele tá bem encaminhado.
A minha irmã mais velha casou com o avô da ex-namorada lesbica dela, que está em estado vegetativo por causa de um derrame que ele teve quando o bicho pegou na época do mensalão. Ela abriu sua própria empresa em parceria com um sindicato, um despachante e um cartório, e hoje vende autopeças procedentes de veículos "sumidos" de outros Estados.
Quanto a minha irmã caçulinha de dezoito anos, trabalha de dia como atriz nas Brasileirinhas e de noite ajuda a mamãe, só que ainda na fase do atendimento direto ao cliente, pra poder pegar o know-how do negócio a partir da base.
Bom, Marcella, a minha pergunta é a seguinte: você acha que eu devo revelar de uma vez ou ir revelando pouco a pouco pra minha namorada que eu tenho um irmão deputado?



"Anônimo da Barra-RJ."