segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Não vale a pena ver de novo! Plim plim.




Está chegando aos últimos capítulos a novela Passione, e eu que resolvi assistir quando nos primeiros capítulos vislumbrei aquelas imagens deslumbrantes da Toscana, agora ao final, vejo a perda de tempo que o autor me fez passar junto aos inúmeros brasileiros que fizeram o mesmo que eu.
A coitada da Beth Gouvea( a magnânima Fernanda Montenegro)casou-se grávida de outro homem (Francisco Cuoco) que não o marido( Mauro Mendonça) e teve um filho que o marido corno escondeu na Itália, precisamente em Toscana mentindo para ela que havia morrido no parto.
Não sei se foi revolta dos céus, mas daí em diante todos os filhos legítimos do casal viram cornos sendo que depois até o que era considerado morto e aparece ( Tony Ramos) também fica corno,sem deixar de incluir nesta saga  a filha esquisita do casal que chegou de Paris e para mostar isto passa a novela inteira em roupas futuristas.
Um dos filhos(Marcelo Antony) que nunca aparece trabalhando, tinha um problema misterioso, se falou até em pedofilia,  necrofilia, trouxeram  às cenas o psiquiatra Gikovate para auxiliá-lo e no final da novela, após grandes quebras de computador e suores frente ao mesmo, o problema do moço era gostar de ver cenas trash, ou seja, um voyer com péssimo gosto.
O  filho mais velho, mau caráter, assassinado pela metade da novela, ex-presidente da fábrica, que chamaremos de malandro agulha (aquele que toma na bunda mas não perde a linha...) odiava a mãe, alem da mulher que não comia , sendo que esta(Maitê Proença) saía à  tarde pelas ruas do Rio a “pescar” garotos para lhe satisfazer o ego ferido. A linda filha dela se apaixona por um destes rapazes(italiano filho de Totó) e é corneada pela própria mãe.Ambiente bem familiar...
Tem também um filho viciado em drogas( o lindo Cauã Reymond) e outro bonzinho e corno( não me perguntem o nome do artista..artista?), que ama a menina que o irmão drogado comeu e que abortou a criança.
Não custa lembrar que o empregadinho da casa é gay e foi colocado pelo marido Saulo na mansão para controlar a esposa infiel,  que conseguiu tal intento por ser  amante da irmã do mordomo, a Laura, secretaria dele na empresa.
O Totó, nem se fala.Uma riqueza de personagem: tem uma filha corna, a pobre Agostina que é casada com um bígamo , que é casado também com a filha ninfomaníaca (Jéssica- Gabriela Duarte) de um casal de velhos(Francisco Cuoco e Irene Ravache) também ninfomaníacos cujo sujeito vem a descobrir lá pelas tantas que é o pai do Totó.
É inacreditável como S.Paulo e Toscana ficaram pequenas para que todos fossem parentes nesta trama,e uns traíssem os outros numa infindável teia de sedução e mentiras, basta ver que a bela mulher do Totó, Clara,(Mariana Ximenes) é amante do filho viciado da Dama do Lotação com o ex-Malandro Agulha, que é sobrinho do Totó...Ufa.
Repetindo para eu mesma não me atrapalhar: o sobrinho do Totó, drogado, é apaixonado pela mulher do Totó, ex-puta profissional, ladra, que foi criada pela avó cafetina das netas, que as prostituía para explorá-las, inclusive a menor de idade.
Clara por sua vez, já mulher do Totó é amante do principal bad da novela, Fred, em ótima interpretação de Gianecchini , o malandrinho, bandido, cafetão, receptador etc. que come também a filha da velha Beth Gouvêa, a Melina futurista.
Agora, na virada da novela, aparece Clara como uma boa moça, trabalhando em uma trattoria, ganhando no mês o que ganhava em horas na prostituição e nos engôdos.
Porém, neste ínterim, Totó decepcionado pelo se amor se apaixona pela boazinha da Felícia, irmã do gigolô Fred, (que comia a Clara- mulher dele), que é a mãe da menina apaixonada pelo viciado em droga, que come a mulher do Totó... Dá para acreditar ????
E que ainda por cima, complementando, é uma menina que tinha um pai misterioso  e de repente descobre o mesmo por uma foto antiga !É o Gérson - o bonitinho, corno e suícida, corredor de carros, filho da viúva genial...
Essa zorra toda ocorre no horário da 21 horas, apesar de ser chamada novela das oito, entre tres famílias apenas: a da velha viúva Beth Gouvea que só não morre na novela por ter um coração muito forte, a da Clara onde a avó já explorava menores e da ex futura esposa do Totó que já interpretou Maysa e se prestou para um papel tão ridículo, como filha de uma feirante que acaba com Gérson, paixão da adolescencia e que se cura insntaneamente de um problema sexual que parecia insolúvel.
Isto que ainda não se falou do filho do chofer (Rodrigo Lombardi) o machão  Raj do Caminho das índias, e que se tornou um boiola conversando com a filha recém nascida de tanto tatibitati, filho adotivo da velha, presidente da metalúrica, que come a filha e a nora da d.Beth, o honesto competente e bonzinho Mauro.
E o velho dos velhos, o já empalhado falso avô paterno do Totó que foi apaixonado e deixado no altar pela irma do Totó, a moralista Gemma?
E a velha esposa do velho avô do Totó a também empalhada Brígida, se  insinuando  desde o início da novela ao motorista da família, dentro da própria casa, se escondendo do velho marido...
E o pior vem agora: depois que Totó morre com polícia presente, ambulância, direito a exame de corpo de delito e tudo mais, ele volta para se vingar da esposa impura e interesseira e em conluio com o amante da própria que se fazia de bandido mas era policial, e comia( dizem que sem querer) armam uma cilada para a loira mau caráter.
Bem, só falei a metade do que vi e já me sinto com um nó no cérebro
Rezo para que chegue logo sexta feira onde tudo se encaixará, os maus serão punidos e os bons viverão felizes para sempre!

Por favor,peçam à Globo mais respeito pelo seu público!

domingo, 2 de janeiro de 2011

Devaneios etcétera e tal...: Família é prato difícil de preparar.

Devaneios etcétera e tal...: Família é prato difícil de preparar.: "Extraído do texto 'O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo! Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é u..."

Família é prato difícil de preparar.


Extraído do texto "O Arroz de Palma”, de Francisco Azevedo!

Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria?endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante.
Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa. Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo.
Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você
também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.
Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher.
Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini; Família à Belle Meunière; Família ao Molho Pardo, em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seriam assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e
transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui,que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
Desejamos a todas as famílias nesse natal e no decorrer de 2011, 2012, e assim sucessivamente, que
reencontrem os ingredientes mais nobres e necessários, e, a sabedora e inteligência para fazer da família a mais deliciosa das dietas, com muita paz, serenidade, amizade, amor e compreensão.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ainda virgem?Vamos para 2011..

"Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. "Paulo Wainberg


Li que na França, um Juiz de Direito anulou um casamento porque a noiva não era virgem!

Imagino a cena: suíte de luxo no hotel cinco estrelas, champanhe gelada, sorrisos, a noiva retorna do banheiro com seus negligées sedutores e estende-se ao leito, pronta para a ação.
O noivinho, ansioso, promete carinhos e cuidados, jura que não vai doer, que ela, a sua amada, vai gostar e, enquanto fala, vai enfiando a mão á valer. Ela, louca para receber seu amado, entrega-se à paixão.
Tudo pronto, as preliminares concluídas, todas as palavras ditas e lá vai o rapaz, com delicadeza e cuidado, invadir o tão cobiçado território, sabendo que terá ainda um último obstáculo a superar: o hímen da mulher amada.
E manda ver.
É quando explode o escândalo!
Você decide: ele armou o escândalo quando percebeu que o virginal obstáculo já fora removido por outro desbravador? Ou concluiu o serviço e só então foi se queixar ao Bispo, ao Mulá ou, no caso, ao Juiz?
Quando comecei minha recente carreira de advogado, no ano de 1968, a noiva não ser virgem era motivo para anular o casamento, sim senhora. E o marido traído podia matar a esposa infiel porque seria absolvido pela legítima defesa da sua honra maculada.
Virgindade e fidelidade, qualidades femininas divinizadas por séculos, ainda são atributos celebrados pelas religiões e, ainda que num caso circunstancial, pela Justiça francesa.
Fantástico.
Com a imparcialidade que me é peculiar, ouso dizer que, do ponto de vista das religiões, a verdadeira divindade é o hímen feminino que, inadequadamente rompido, condena os participantes, circunstantes e observadores incautos às mais dolorosas penas celestiais.
Nada é mais sagrado do que um hímen, tão sagrado que o repuseram em Maria, mãe de Jesus, transformando José, seu marido de tantos anos em, no mínimo, um pobre eunuco, incapaz de deflorar a esposa, que teve de conceber com o hímen intacto.
Tão importante e fundamental a Sacra Membrana que a ordem divina de crescermos e multiplicarmo-nos foi adequadamente adaptada pela exigência do matrimônio sem o qual podemos apenas crescer, mas, multiplicar, jamais.
O Serviço de Proteção ao Hímen percorreu séculos de História, gerando verdadeiros exércitos de abstinentes, poluindo cortes judiciais de civilizações antigas, pré-antigas, meio-idosas, modernas e contemporâneas, exercitando-se em templos e catedrais à base de ameaças furibundas de castigos terríveis e sofrimentos atrozes.
Mulher sem hímen era impura por definição, sabendo-se que impuro é tudo aquilo que contraria as ordens religiosas.
Casar com mulher virgem era imposição cultural, social, religiosa e – por que não? – econômica, vistas as finalidades materiais de um casamento bem fornido.
E a jovem nubente que ousasse desfazer-se, ainda solteira, da Santa Membrana era, entre outras coisas, expulsa de casa, desterrada, morta na fogueira, execrada em público e, conforme antigos costumes, apedrejada em praça pública, exercício que algumas mentes mais, digamos assim, conservadoras, ainda acham exemplares.
O homem-bomba, por exemplo, se explode num shopping porque, fazendo isso, terá à sua disposição incontáveis jovens mulheres virgens, pelo resto da eternidade. É importante ressaltar essa condição de “jovens” porque ninguém vai se explodir se a recompensa eterna lhe reservar “velhas” virgens.
Eu não me explodiria.
Interessante que a concepção de pureza da mulher concentra-se na pele pré-vaginal. Pode rolar de tudo, dedos no clitóris, pau nas coxinhas, sexo oral, sexo anal, lambidas e mordidas, desde que se preserve a pelanca, reservada para os trabalhos da noite de núpcias, com manchas de sangue no lençol para não haver dúvidas.
A noiva assim casada, mesmo que se tenha esvaído em orgasmos mis, pré-nupciais e com diversos namorados é pura para as finalidades do credo e, portanto, apta a preservar o matrimônio, desde que não incorra no pecado do adultério que, mais do que pecado, ofende de morte a honra do marido.
“Ó tempora, ó mores”, afirmo eu como Cícero afirmou, há mais de vinte séculos, no Senado Romano.
Quem te viu, quem te vê, já comentou Chico Buarque de Holanda quando você era a mais bonita das cabrochas desta ala.
Não fossem as mulheres feias terem deflagrado o Movimento Feminista e estaríamos ainda hoje subjugados pelo Sagrado Hímen, pela Pelanca Fundamental a impedir homens e mulheres de acessarem-se mutuamente, em atos de amor, de paixão, de tesão ou de pura e explícita sacanagem o que – me contaram – parece ser muito bom.
E ainda estaríamos à mercê de Cortes Judiciais nutridas de preconceitos a sancionar a insensatez e o obscurantismo da intolerância religiosa, seus tabus, sofismas e dogmas absurdos da qual esse Juiz francês é um anacrônico modelo.
Menos mal que o Governo e a sociedade franceses repudiaram a sentença, escandalizaram-se com ela, afinal de contas o que é isso, meu? Onde é que estamos? Com quem o senhor pensa que está falando? Anular um casamento porque a noiva já tinha dado? Porque a virgindade era cláusula do contrato? Afirmo, do alto de minha cadeira de advogado que essa cláusula, se existiu, é nula de pleno direito, ferindo os mais comezinhos princípios do Direito e da Moral, inclusive sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, a definir-se, no caso concreto, quem era o consumidor.
Aliás, qual é a função biológica do hímen? Alguém sabe? Sua existência não será um defeito na evolução, um pelego desnecessário que, uma vez rompido, não deixa rastro, pegada nem impressões digitais?
Protegê-lo com tanta fúria como alguns fazem é o mesmo que negar as funções biológicas, entre elas comer, beber e, com perdão da má palavra, fazer cocô. Mulher pura faz essas coisas? Ó meus sais, quanta decepção…
Ironias à parte se eu fosse imperador da Áustria no Século XVIII, teria encomendado de Mozart uma Missa Solene chamada A Sagração do Hímen, que seria tocada obrigatoriamente em todas as cerimônias de casamento da Europa. Beethoven poderia ter composto a Décima Sinfonia, A Himenêutica e James Joyce, em vez de escrever o nunca lido e sempre citado Ulisses teria escrito a monumental obra O Hímen Caído, isto depois de percorrer todos os cabarés e casas de meretrício de Dublin num único dia.
Neste assunto sou radical e definitivo.
Às portadoras de hímen recomendo: livrem-se dele, só atrapalha e não conserva pureza alguma até porque não existe, nem na natureza, nem na religião nem na sociologia lato senso nenhuma norma, regra ou determinação para que mulheres sejam puras interna ou externamente falando. Mulheres produzem sucos gástricos e espinhas no rosto, assim como os homens, e olha que não estou falando de outras nojeiras.
Às que já se desfizeram da Santa Membrana minha recomendação é: aproveitem que a vida é curta e é só uma.
E vocês, homens, francamente, me fazem vergonha. Virgindade é lá coisa que se exija de uma noiva contemporânea?
Nem minha sogra acredita mais nisso.
Se você pegar uma virgem, desvirgine, mas nem por isso sinta-se dono da garota. Acredite em mim: é muito melhor ser amigo do dono da piscina do que ter piscina em sua casa. Você passa o domingo tomando banho na piscina dele e vai embora sem se preocupar em saber se ele tem cloro em casa para purificar a água.
Recomendo que as Altas Instâncias da Justiça Francesa exonerem o tal Juiz, coloquem-no nas galés e o desterrem para a Ilha de Alba ou de Santa Helena onde ele poderá proferir suas sentenças sem incomodar ninguém nem me obrigar a escrever esta crônica.
Nem você a lê-la.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Férias.O que seria sem elas.

Não é fácil ser um gaúcho típico, classe média.
Mal acaba de desembrulhar os presentes de Natal e já está carregando o carro, colchão enrolado em cima, o aparelho de TV acomodado entre a imensa bagagem, crianças, o cachorro, câmara de ar que será bóia, tudo socado, rumo à estrada que a praia está chamando.
Fila na rodovia, calor danado, capaz de chover, pára de berrar, menino!, engarrafamento inevitável em Canoas, quatro horas de viagem para um trecho tão curto, o chevetão só ferveu uma vez, enfim o mar.
E então é aquilo de sempre, todos numa casa de dois quartos, a mulher trabalha feito uma moura, ele paga todas as despesas - o cunhado que sempre aparece nunca se coça..
 - cadê o menino, pelo amor de Deus, eu disse para ficar olhando, picolé, areia na sunga, queimadura de sol, ui como arde, bota vinagre, o banheiro sempre ocupado, o cunhado é desregulado.
Dormir amontoado não é mole, o cunhado é flatulento, pudera, come feito um cavalo, ainda se colaborasse, mosquitos, pagode no vizinho até de madrugada, mania de soltar foguetes.
 Quando acaba o feriadão repete-se a viagem, agora em sentido contrário: fila de novo, só deu um dia de sol, diabo de chuva, congestionamento irritante em Canoas, o carro ferve, enfim o lar.
Descarrega-se toda a tralha, cuidado com a TV, será que esquecemos alguma coisa?
- O menino! Cadê o Wanderson Kleyton?
A mulher desmaia, a sogra abre falação, o cachorro mijou dentro do carro, calma, liga pro vizinho na praia, pra polícia, eu volto para buscar, alguém me empresta um carro que o chevetão está no bagaço. Leva um ano para curar o estresse das férias. (desconheço o autor)

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?

Devaneios etcétera e tal...: Que presente te dar?: "Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular? Deve..."

Que presente te dar?


Que presente te darei, eu que tanto quero e pouco dou, porque mesquinho, egoísta, distraído não te cumulo daquilo que deveria cumular?
Deveria desatar inúmeros presentes ao pé da árvore,entreabrindo jóias, tecidos, requintados e pessoais objetos, ou deveria dar-te o que não posso buscar lá fora, mas o que em mim está fechado e mal sei desembrulhar?
Gostaria de dar-te coisas naturais, feitas com a mão, como fazem os camponeses, os artesãos, como faz a mulher que ama e prepara o Natal com seus dedos e receitas, adornos e atenção.
Te dar, talvez, um pedaço de praia primitiva, como aquelas do Nordeste, ou de antigamente - Búzios e Cabo Frio; um pedaço de mar das Ilhas do Caribe, onde a água e o amor são transparentes e onde a areia é fina e brilhante e, sozinhos, habitam a eternidade, os amantes.
Te dar aquele verso de canção um dia ouvida não sei mais aonde, se numa tarde de chuva, se entre os lençóis cansados; um verso, uma canção ou talvez o puro som de um saxofone ao fim do dia, som que tem qualquer coisa de promessa e melancolia.
Fugir uma tarde contigo para os motéis, quando todos os homens se perdem nos papéis e escritórios, números e tensões: fugir contigo para uma tarde assim,um espaço de amor entreaberto na peça que nos prega a burocracia dos gestos.
Gravar numa fita as canções que me fazem lembrar de ti e ouví-las, ou tocar de algum modo, em algum cassete as frases que disseste, que em mim gravaste: frases líricas, precisas, que quando estou cinza, relembro e me iluminam.
Te enviar todos os cartões que colecionas, de todos os lugares que conheço ou que tu nem imaginas, ir a essas paisagens e ilhas e habitá-las com os selos e palavras de interminente paixão.
Dar-te aquela casa de campo entre montanhas, aquele amor entre a neblina, aquele espaço fora do mundo, fora de outros espaços, sem telefone, sem estranhas ligações, para ali nos ligarmos um no outro em una e dupla solidão.
Se queres jóias, te darei. Aqueles corais que vendem na Ponte Vecchia, em Florença; o âmbar ou as pérolas que expõem nas lojas do Havaí; aquelas pedras de vidro para iridescentes colares, que vendem em Atenas, ao pé da Plaka, ao pé da Acrópole, que amorosa nos contempla.
Te dar numa viagem os castelos do Loire, e sair comendo e rindo juntos no roteiro gastronômico franco-italiano; ali comendo e aqueles vinhos bebendo, de tudo nos esquecendo, sobretudo dos remorsos tropicais de quem tem sempre ao lado um faminto desamparado, de culpa nos ferindo.
Te darei flores. Sempre planejei fazer isto. Tão simples: de manhã acordar displicente e começar a colher flores sob a cama. Ir tirando buquês de rosas, margaridas, vasos de íris, orquídeas que estão desabrochando e, uma a uma, de flores ir te cumulando. E amanhecendo dirás: o amado hoje está mel puro, seu amor aflorou e está me perfumando.
Escrever bilhetes pela casa inteira, metê-los entre as roupas, armários, prateleiras, pra que na minha ausência comeces a desdobrar recados daquele que nunca se ausentou, embora esse ar de quem vive partindo, mas, se alguma vez partiu partido foi para reunido regressar.
Te dar um gesto simples. Passar a mão de repente sobre tua mão, como se apalpa a vida ou fruto que pede para ser colhido.
Te dar um olhar, não aquele olhar distraído, alienado de quem está nas coisas prosaícas perdido, mas um olhar de quem chegou inteiro e que se entrega enternecido e desamparado dizendo: olha, sou teu, agora veja lá o que vai fazer comigo.( Affonso Romano de Sant'Anna)