quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Analise, terapia, você já fez alguma vez?


Sou da opinião que para duas pessoas se relacionarem, ambas devem ter alguma experiência do assunto ou, então, é melhor que nenhuma das duas tenha jamais sentado naquela poltrona que parece cômoda a princípio mas que após alguns segundos não se acha nunca a posição mais confortável e a bunda não para de se mexer inquietantemente.
Sofá eu nunca deitei, ao menos para falar de mim. Deitei em um, relaxadamente, mas na casa de amigas ou na minha mesmo para falar de tudo e todos, menos de mim.
Sinceramente, se eu tivesse um cargo de ministra da Saúde- não do governo Lula, por favor- faria um projeto para que todos, sem distinção de cor, credo,partido político, todos os cidadãos brasileiros, tivessem a possibilidade, a chance, de tratarem a “cuca”, o que diminuiria, acredito eu, a incidência de tantos doentes que temos de agüentar...começando pelos do governo.
Se antes de casar, de se relacionar, de se ter filhos, as pessoas se tratassem, estaríamos evitando crianças problemáticas no futuro, pois sabemos que pais doentes vão gerar uma cadeia interminável de seus problemas não resolvidos acrescidos da maneira como a criança vai vivenciar e entender os mesmos.
Por outro lado, fico pensando que se todos tivessem acesso à terapia, o país ia ser invadido por uma onda, quase um arrastão de pessoas que iriam se considerar aptas a entender do assunto e ficar “palpitando” sobre o porquê do fulano ter subido no ônibus com a perna direita e não com a esquerda.
Um parênteses: me lembrei de um papo entre duas pessoas populares dentro de um ônibus quando passava a novela “Viver a Vida” sobre o esquizofrênico que hoje é italiano na novela das 21.00 horas.
Dizia uma:
-eu depois que vi o capitulo de ontem acho que meu filho é psicopata(tinha uma psicopata na novela chamada Ivone)
Ao que a outra respondeu:
- Mas é melhor ser psicopata que aproveita bem a vida e ainda não sente culpa, que um esquizofrênico.Viu como o menino sofre?
-Melhor é a mãe dele que fica fazendo massagem e passando cremes...
E o papo fluía como se as duas fossem catedráticas no assunto, isto com o pouco conhecimento que uma novela traz a população.
Pena que precisei descer antes da conclusão a que ambas chegaram.
Eu já fiz terapia varias vezes, mas análise, nunca.
Dizem que nesta última, primeiro destroem a gente para, após, reconstruir.Começamos lá do alicerce a ser edificadas novamente. Já pensaram?
Como sou prática e odeio processos demorados e na época estava repleta de dúvidas sobre separo ou não separo procurei meu primeiro psiquiatra.
Entrei lá com um problema e saí com uma meia dúzia deles.
O cara era mais doido que eu. Disse que eu não queria assumir ser mãe, encarar o fato, não ter cacife prá maternidade e que estava colocando no casamento a culpa de minha incapacidade.Saí de lá como uma ventania.Em apenas 45 minutos ele conseguiu produzir um tsunami em minha cabeça.Sei que até hoje este cara se trata com outro doido.
Me esqueci o nome dele. Freud explica!
Anos depois com os filhos criados, mas continuando casada (a culpa foi deste sujeito pseudo-entendedor da alma humana que conseguiu em minutos de uma única sessão me transformar de vítima em carrasca) fui tentar a segunda terapia. Agora queria uma mulher.
Era muito agradável, eu gostava dela. Só que eu falava de tudo, gastronomia, empregada, vinhos, menos do que me levara lá.
Coitada, nos 45 minutos do tempo marcado por aquele relógio maldito eu reclamava da empregada, do marido, dos filhos, que tinha engordado,que tinha emagrecido, brigado com a sogra, ido fazer ginástica e, de quebra, falar de algumas mágoas e ressentimentos. Eu não esperava nada daquele tratamento mas colocarr meus problemas para fora já me ajudava, tanto quanto serve a confissão para os católicos praticantes. Tempos depois já levava biscoitos e uma garrafa de chá para o encontro ficar mais agradável, porque no seco ninguém agüenta falar só de problemas.
Não sei como após anos tomando chá um dia criei coragem de me separar. Lembram que era a minha intenção inicial desde o primeiro doido que me caiu nas mãos?
E me separei sem stress, sem culpa, sem idas e vindas, foi um hoje deu. Pega a mala e some.
Me achei o máximo.Cravei a bandeira no pico do Himalaia.Fiz a volta ao mundo num barquinho rodeada de tubarões.Completei o percurso Paris/ Dakar. Ganhei na Sena.
Filhos bem criados, hoje moro só. Faço o que quero, durmo esparramada na cama sem dividir espaço, não escuto ronco de ninguém, apago a televisão quando o filme fica chato, e não escuto futebol aos domingos- parece que hoje tem jogos em outros dias da semana .Pobres mulheres.
Só que agora surgiu um novo problema.
Casa nova começam a assoprar nos meus ouvidos:
-E quando vai me convidar para conhecer a casa nova?
- E quando é que vai me convidar para jantar?
Realmente, isso é o que fazem as pessoas civilizadas: um dia um convida, depois o outro retribui. Foi quando descobri que não sou uma pessoa civilizada e que receber para um jantar, por mais íntimos que sejam os convivas para mim se torna um sacrifício. Fiz comidinha especial para marido e filhos 25 anos da minha vida.
-Só a mãe faz bem, a empregada não faz direito.
E lá ia eu para a cozinha agradar a família.
Depois que me separei só compro pratos congelados e ligo o micro. Coisa bem boa!
Não preciso dizer que após insistentes convites para eu receber e abrir as portas de minha casa fui em busca de um novo psiquiatra. Só para falar sobre isso. Parece banal? Para mim virou tormento.
Ele ouviu todas as minhas razões sem dizer palavra nenhuma: medo da comida não ficar boa pois havia perdido a receita, de fazer muita ou pouca pois havia perdido a idéia de quantidade ou de exagerar e sobrar sobremesa para eu ficar uma semana tentando acabar com ela, fato que iria me deixar uma bola de gorda.
No final, ouvi dele apenas uma frase redentora e tranquilizante:
-Se você não gosta de dar jantares ou almoços, não dê.
Prá que!Foi a minha libertação. Foi como ao subir no ônibus com a perna que eu escolhi, aleatoriamente, não me preocupar se alguém achava que deveria ser com a outra.
A partir desse dia, nunca mais precisei perguntar a ninguém se devo ou não devo fazer alguma coisa. Pergunto a mim mesma e o assunto está resolvido. E estou muito feliz assim – pelo menos por enquanto.

2 comentários:

  1. É o legítimo "procurar cabelo em ovo". Nós é que complicamos a vida... nossa culpa interna precisa de libertação, e que bom que você alcançou a sua... a D. Culpa ainda assombra meus dias rs rs mas tenho fé que "chego lá"! bjs

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  2. Qualquer pessoa inteligente chega.Beijos

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