domingo, 12 de setembro de 2010

OS ABOBADOS DA ENCHENTE!( by Afif Simões Neto)


Li ontem em Zero Hora esta crônica e procurei seu autor no Google.Eis que ele pertencia ao Face e logo neste mundinho virtual consegui localizá-lo.Eis  o texto que achei irônico e certeiro a todos "abobados da enchente", mesmo aos que não se consideram.



Ouvi o dito popular há muitos anos atrás, mas nunca tinha me interessado na averiguação da sua origem. Agora descobri, lendo as reminiscências do Dr. Sérgio da Costa Franco. Nas "Memórias de Um Escritor de Província", aquele notável historiador, ao comentar a grande enchente de outono de 1941, em Porto Alegre, fala do desamparo das vítimas da calamidade, gerando nelas tamanho assombro que fez nascer na cidade a expressão o abobado da enchente.
As pessoas ficavam dias e dias fora de casa, com a perda de quase todos os pertences. Dos lugares mais altos, livres da inundação, olhavam sem esperança as águas subirem cada vez mais, num estado de estupefação que se confundia com a debilidade mental. Explica o escritor que, por muito tempo, qualquer palermice que se cometesse era explicada com crueldade: "Coitado, ele é abobado da enchente!Pois o movimento de subida da maré daquele outono antigo apateta gente até hoje, deixando-as ao desabrigo da bestialidade:

Abobado da enchente é quem passa pela vida preocupado unicamente em acumular dinheiro, como se, ao morrer, pudesse levar nos beirais da mortalha o que guardou na caderneta de poupança.

Abobado da enchente é quem larga mulher e filhos para se juntar com uma guria bem novinha, que quando diz "eu te amo tanto, meu velho" não olha para os olhos, mas para o extrato bancário do trouxa.

Abobado da enchente é quem entra na política pensando em se acomodar no dinheiro público. Quem saqueia o povo faz para si um mal tão grande que nem o próprio povo deseja.

Abobado da enchente é todo aquele que, ao invés de consultar um médico para saber o que pode ser aquela dor aguda, vai atrás do afamado curandeiro recém chegado na cidade.

Abobados da enchente são todos os que futilizam a vida, como se ela fosse um liquidificador a produzir o mesmo caldo insosso na próxima manhã amarelada.

Abobado da enchente é aquele que não acredita no sonho da transformação. Aquele que já não guarda mais nem uma parte de si mesmo para renovar-se na utopia.

O abobado da enchente é quem acha que são os outros os únicos culpados pela sua permanente infelicidade. Se pesquisar junto ao espelho, encontrará fácil o exclusivo responsável.

Abobados da enchente são todas aquelas pessoas que jogam a saúde pela janela, em busca de patrimônio, e depois vendem tudo na tentativa de vencer a doença nascida daquela procura.

Abobado da enchente é quem se considera uma irremediável vítima da sociedade.

Abobado da enchente é principalmente aquele que acha que a viagem pelo mundo desconhecido não vale o cansaço.

O abobado da enchente tem a certeza de que vai durar perto de cem anos, e que, por isso, tem tempo de sobra para se incomodar com bobagem.

E o maior dos abobados fui eu, quando deixei de acreditar em Deus!

RESPOSTA AO MEU BLOG- NEI DUCLÓS

Prezado Nei.

"Estupefada" seria a palavra certa quando li tua critica ao filme  CLOSER que precisei ver várias vezes para encaixar as peças para entendê-lo.O aquário...quanta coisa a nos dizer e não me apercebi!
Nesta parte se resume tudo:
Mas eles cercam a verdade sem importância, como saber se foram traídos ou não, enquanto esquecem o principal: qual o verdadeiro nome da pessoa que é amada, por exemplo. O nome conta, pois significa a identidade perdida, a casca abandonada junto com o sofrimento.

Eis a critica, sem retoques, que agora colocou um ponto final nas minhas indagações.
Obrigado Nei!



O conteúdo de um aquário está exposto (aberto) e ao mesmo tempo fechado no seu próprio mundo. É a metáfora perfeita usada pelo filme Closer, de Mike Nichols (2004). Relacionamento amoroso é uma antiga especialidade do diretor, como podemos ver desde Carnal Knowledge (1971). Se no seu filme antigo (e tão terrivelmente moderno na época), o tédio e o vazio eram os motores da trama da troca de casais, neste é o desespero gerado pela situação limite: tudo está próximo demais, transparente, e ao mesmo tempo fechado, inacessível – fazendo jus assim ao título em inglês, que tem esse duplo sentido (closer é o que está perto e é aquele que fecha).
É por isso que o aquário, que tem exatamente essas características, é a metáfora maior do filme: tema do romance de Dan (Jude Law ), local de encontro entre Anna (Julia Roberts) e Larry (Clive Owen), o amor no aquário expõe a stripper Alice ( Natalie Portman), monitorada o tempo todo no clube onde trabalha. Não se pode tocá-la. A única ponte é o olhar e a fala, o roteiro de Patrick Marber, baseado em sua peça teatral
CARGA – Os diálogos assim formam uma criatura à parte, que usam os protagonistas para manter o ritmo da agonia de vidas que se aproximam e se afastam, se expondo o tempo todo. A saída para o impasse, pensam eles, é arrancar a verdade dos que amam ou pensam amar. Saber de tudo é uma espécie de compensação pela impossibilidade da convivência verdadeira. Mas eles cercam a verdade sem importância, como saber se foram traídos ou não, enquanto esquecem o principal: qual o verdadeiro nome da pessoa que é amada, por exemplo. O nome conta, pois significa a identidade perdida, a casca abandonada junto com o sofrimento.
Saber o nome verdadeiro significa carregar o ethos perdido, mas qual relacionamento hoje resistiria a essa carga. O ideal é escolher uma nova denominação, para que haja uma chance. O nome adotado é escolhido a esmo, no local onde se revela o amor, mas ele traz um estigma: o passado, que assombra o mundo prisioneiro no eterno presente.

VIDRO – O sinal está fechado para que as pessoas cumpram seus rituais viciados e burocrátioas, de indivíduos anulados no ritmo da massa. Romper o sinal, cruzar a rua sem rede de segurança, é confiar que alguém virá em seu socorro, ao seu encontro. Só assim, arriscando, é possível cruzar a parede do aquário e tocar na pessoa amada. É o que faz Jane/Alice: segue em frente, mesmo que haja impedimento para a busca de um novo amor. Ela sabe que não poderá encontrar nada se obedecer ao que está disposto num mundo oco, fundado na mentira.
Alice, que usa a representação até o fundo, pois se expõe no clube para sobreviver, atravessa a avenida no momento em que os carros se soltam e as pessoas estão paralisadas, para encontrar a sua verdade, usando o verdadeiro nome. Então quebra o vidro do aquário com seu passo decidido, que implica risco de vida.
CLASSES – O conflito do filme não releva as diferenças de classe social. O jornalista frustrado que tenta ser escritor vê na fotógrafa bem sucedida a porta de entrada de um mundo fora da escassez e dos limites da pouca remuneração. A fotógrafa pergunta para Alice se seu trabalho de garçonete é temporário, ou seja, se é alguém de uma classe social superior que está fazendo apenas um bico ou passando por uma experiência.
No fundo, a fotógrafa concorre com Alice numa disputa de poder baseada no privilégio. Enquanto seu trabalho é desmascarado por Alice na vernissage, ela cede à tentação de voltar para Dan: eis o momento em que a riqueza se curva diante dos menos favorecidos para tirar deles seu último bastião, a alma capaz de amar.

A IMPERMANENCIA!




A hora do encontro é também despedida a plataforma desta estação, é a vida.(Milton Nascimento e Fernando Brant)
Em cada despedida existe a imagem da morte.(George Eliot)


Recebi hoje este email lindo!

Oi Martha


Os filmes que amas são os que tenho há muito no meu acervo.Temos o mesmo gosto.Amor nos tempos...uma maravilha.Gosto muito do teu jeito de ser/viver.As músicas de Ellis..."perdoem a falta de tempo...os dias andam assim." Não faço parte de nada,não quero...twitter,facebook...etceteras...Mas leio todos os dias o que tem de novo no teu blog .A mulher que escreve fascina porque é louca como necessariamente deve ser uma mulher fascinante. É facil apaixonar-se por uma das Marthas...Acho que deves te permitir um grande "acontecimento"...de preferência que envolva ruptura e abandono.Com escândalo seria perfeito. Tu és uma artista...talvez não saibas..."uma trágica"...Pola Negri...Garbo...Maísa...Clarice...Cecilia e por aí vai"... Faça sempre uso desta "qualidade", use como ferramenta na escrita, despudoradamente. Tambem pertenço a esta categoria, mas tenho pudores, medos mal resolvidos; por isso nunca "explodi"no meu trabalho. Eu não quero que me conheçam, estranho não???...Algo diz que devo ser sempre expectador...
Gosto muiiiiito de ti apesar do pouco contato, e quero muito que sejas feliz.Bjsss Luiz


Este e-mail, esta pilula anti oxidante da alma, pilula que não se compra em farmácia de nenhum país e nem se adquire com receitas de manipulação, porque palavras de carinho nunca serão compradas e tampouco manipuladas se o material em que se origina não puder ser adquirido do fundo da alma de quem o faz.

Gostaria de compartilhar com voces, não como um elogio que me promova, mas para aconselhar ou relembrar que hoje estamos aqui amanhã quem sabe...e que palavras simples e desprentesiosas como estas, num simples e-mail, que me deixaram emocionada e feliz deveriam ser ditas por nós mais amiúde a quem amamos ou queremos bem, enfim torná-las parte da nossa rotina.
Tenho uma amiga que perdeu sua única filha e no velório, ali onde a morte mostra que não escolhe quem levanta o dedo e quer ir deste mundo mas quem muitas vezes está feliz sem pensar nela, dizia entre lágrimas: nós havíamos discutido pouco antes desta tragédia!
Adiantava agora o lamento? a culpa pungente?
Então, longe de textos de auto ajuda, vamos nos despedir sempre com um beijo, um abraço apertado, com uma palavra de carinho, um afago, uma gargalhada gostosa, pois jamais saberemos se aquela não será a última vez que teremos oportunidade de olhar nos olhos daquele ser querido, nos estreitar nos seus braços, ouvir ou dizer algo que ilumine nosso dia ou o dia dela(e).

 Junto um texto sobre a nossa impermanencia.

A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo... ela não dura muito tempo. Só olhar o sol, sentir o perfume das flores ou respirar o ar puro já é uma alegria. Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango...que desperdício! Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros. Pense em tudo que se perdeu.
Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz? É verdade que não podemos, de fato, agarrar ou nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara. Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos.
Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas a nossa volta. Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais estaremos com a nossa tia-avó. Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?
Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser.
Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais. Não precisamos sair de casa nem dormir em uma cama de pedras. A prática espiritual não requer condições austeras.... apenas um bom coração e a maturidade de compreender a impermanência. Isso nos fará progredir.

Obrigado Luiz por tuas palavras que me fizeram tão bem.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Amor nos tempos do Cólera!

Este livro foi dos mais lindos e tristes que já li. É simplesmente uma obra-prima. Quando o filme surgiu com um elenco de primeira categoria incluindo a nossa Fernanda Montenegro estava eu lá para assistí-lo. O filme conseguiu ser fiel ao livro de Garcia Marquez. O que me deixou  triste desde a leitura do livro até mesmo ao assistir ao filme, foi a dificuldade que as pessoas criam para serem felizes.A espera de quase uma vida para a concretização de seus sonhos mais recônditos..."finalmente ele conseguiu, depois de 50 anos"... "uma vida inteira desperdiçada" - eu pensava enquanto a cena se passava na tela quase ao fim do filme! Lembro que senti uma frustração enorme exatamente da mesma forma de quando terminei o livro.

Florentino sofre de amor. O sentimento puro que arranca mais pedaços do que a guerra ou a epidemia de cólera que tanto matavam no mundo real. O tempo passa, as conjunturas se modificam, mas o amor permanece.Mas ele nunca o manifesta! E machuca aquele silencio. O filme “O amor nos tempos do cólera” é a prova de que até a história mais piegas pode ser transformada no sentimento mais tocante nas mãos de um grande escritor ou de um grande diretor. Existe algo mais clichê do que falar de amor?E como dói de ver um amor irrealizado por não expressá-lo, pelo medo da rejeição, do riso, do escárnio.
Eis alguns trechos, inesquecíveis:

"Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia.

Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada."
A SABEDORIA NOS CHEGA QUANDO NÃO SERVE PARA NADA.

"É claro que o incidente lhes deu a oportunidade de evocar outros arrufos minúsculos de outras tantas manhãs perturbadas. Uns ressentimentos mexeram em outros, reabriram cicatrizem antigas, transformaram-na em feridas novas, e ambos se assustaram com a comprovação desoladora de que em tantos anos de luta conjugal não tinham feito mais do que pastorear rancores."
EM  ANOS DE  DE LUTA CONJUGAL  NÃO TINHAM FEITO MAIS QUE PASTOREAR RANCORES!

"Mesmo quando já velhos e apaziguados, evitavam evocá-la, porque as feridas mal cicatrizadas voltavam a sangrar como se fosse de ontem."
AS FERIDAS MAL CICATRIZADAS VOLTAM A SANGRAR COMO SE FOSSE ONTEM!

Uma obra que merece ser lida, vista e apreciada.


Não era amor...






"…Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada. Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez este seja o ponto. Talvez eu não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem sequelas, sem registro de ocorrência?

Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo.

Não era amor, era melhor!”



Martha Medeiros em Divã

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

CLOSER-PERTO DEMAIS."O FILME"


ASSISTINDO AO ÓTIMO "CLOSER - Perto demais", me veio à lembrança um poema chamado "Salvação", de Nei Duclós, que tem um verso bonito que diz: "Nenhuma pessoa é lugar de repouso". Volta e meia este verso me persegue, e ele caiu como uma luva para a história que eu acompanhava dentro do cinema, em que quatro pessoas relacionam-se entre si e nunca se dão por satisfeitas, seguindo sempre em busca de algo que não sabem exatamente o que é. Não há interação com outros personagens ou com as questões banais da vida. É uma egotrip que não permite avanço, que não encontra uma saída - o que é irônico, pois o maior medo dos quatro é justamente a paralisia, precisam estar sempre em movimento. Eles certamente assinariam embaixo: nenhuma pessoa é lugar de repouso.
Apesar dos diálogos divertidos, é um filme triste. Seco. Uma mirada microscópica sobre o que o terceiro milênio tem a nos oferecer: um amplo leque de opções sexuais e descompromisso total com a eternidade - nada foi feito pra durar. Quem não estiver feliz, é só fazer a mala e bater a porta. Relações mais honestas, mais práticas e mais excitantes. Deveria parecer o paraíso, mas o fato é que saímos do cinema com um gosto amargo na boca.
Com o tempo, nos tornamos pessoas maduras, aprendemos a lidar com as nossas perdas e já não temos tantas ilusões. Sabemos que não iremos encontrar uma pessoa que, sozinha, conseguirá corresponder 100% a todas as nossas expectativas ¿ sexuais, afetivas e intelectuais. Os que não se conformam com isso adotam o rodízio e aproveitam a vida. Que bom, que maravilha, então deveriam sofrer menos, não? O problema é que ninguém é tão maduro a ponto de abrir mão do que lhe restou de inocência. Ainda dói trocar o romantismo pelo ceticismo, ainda guardamos resquícios dos contos de fada. Mesmo a vida lá fora flertando descaradamente conosco, nos seduzindo com propostas tipo "leve dois, pague um", também nos parece tentadora a idéia de contrariar o verso de Duclós e encontrar alguém que acalme nossa histeria e nos faça interromper as buscas.
Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. Quando se está há muitos anos com a mesma pessoa, há grande chance de ela conhecer bem você, já não é preciso ficar explicando a todo instante suas contradições, seus motivos, seus desejos. Economiza-se muito em palavras, os gestos falam por si. Quer coisa melhor do que poder ficar quieto ao lado de alguém, sem que nenhum dos dois se atrapalhe com isso?
Longas relações conseguem atravessar a fronteira do estranhamento, um vira pátria do outro. Amizade com sexo também é um jeito legítimo de se relacionar, mesmo não sendo bem encarado pelos caçadores de emoções. Não é pela ansiedade que se mede a grandeza de um sentimento. Sentar, ambos, de frente pra lua, havendo lua, ou de frente pra chuva, havendo chuva, e juntos fazerem um brinde com as taças, contenham elas vinho ou café, a isso chama-se trégua. Uma relação calma entre duas pessoas que, sem se preocuparem em ser modernos ou eternos, fizeram um do outro seu lugar de repouso. Preguiça de voltar à ativa? Muitas vezes, é. Mas também, vá saber, pode ser amor.(Martha Medeiros)

Já vi este filme pela enésima vez e sempre retornava a determinadas cenas por não entender o significado ou não conseguir chegar à interpretação mais acertada. Até que me dei conta que o fime é o nosso próprio retrato, onde vemos o que nos interessa enxergar, culpamos os que mais retratam a parte escurada da nossa história e absolvemos aqueles em que já atuamos no seu papel. São situações corriqueiras no âmbito da amizade, do amor, onde existe traição, ciúme, raiva e decepções.
E a mentira como a mola propulsora de alcance das metas mais urgentes.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A ORIGEM- O FILME


Dir.: Christopher Nolan
Com Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Ellen Page, Ken Watanabe, Cillian Murphy, Marion Cotillard, Michael Caine, Tom Hardy, Tom Berenger, Dileep Rao, Pete Postlethwaite

Minha humilde crítica:Fui assistir este filme em uma sala no shopping Cidade Jardim em S.Paulo, onde pipocas e champagne são servidos aos cinéfilos de plantão , deitados em poltronas-cama. Com todo este aparato ao qual nós gaúchos não estamos acostumados  me preparei para curtir um "filme cabeça" acompanhada de toda esta mordomia.
Na primeira meia hora do filme  não entendi nada e me ajeitei naquela cama de solteiro com a esperança que não fosse uma questão de burrice minha. Mais meia hora do filme eu estava quase dormindo com tanta ficção sem nexo.Ali o cara tinha no mínimo fumado uns dez baseados e queria que nós, sóbrios, fizessemos a viagem com ele.Me senti muito otária, em primeiro lugar por ter ido atrás da critica dos pseudo intelectuais que nada entendem mas fingem que tudo ten um significado. As 3 dimensões, um sonho dentro de um sonho...etecétera e tal.Acho que até o Freud não desvendaria o sonho do Di Caprio, e olha que o cara era bom nisto!
Um filme sem pé nem cabeça, que só não levantei e fui embora porque havia mais pessoas comigo.
Na saída todos nos olhamos com cara de sono dando uma grande gargalhada, onde a única coisa que  concordamos é que fizemos uma "viagem" sem ter fumado nenhum.Ainda bem que não foi uma viagem sem volta,concordamos.
Posso afirmar que foi um dos piores filmes que vi nos últimos anos, ganhando até do filme do Lula. Só que neste último, que conta a  história da vida pobre do nosso presidente nem me dei ao trabalho de sair de casa mesmo que me oferecessem champagne , uma cama estofada para deitar e um ingresso gratuíto.

Agora vamos a crítica dos "entendidos":
Em A Origem, Nolan chega ao que podemos pensar ser o ápice de suas experimentações em como contar uma história. A estrutura de seu novo longa-metragem, como não poderia deixar de ser, lembra bastante a de um sonho, cheia de elipses. Com diversos acontecimentos rolando ao mesmo tempo – com o intrincando conceito do sonho dentro do sonho – o espectador precisa ficar atento para pescar todas as informações dadas pelo roteiro. E não são poucas. Christopher Nolan faz questão de explicar as regras desse universo em meio a diálogos expositivos, mas nunca óbvios. Ariadne, a arquiteta dos sonhos, serve como a representante dos espectadores na tela, fazendo as perguntas pertinentes e recebendo as bem-vindas explicações necessárias.

É salutar assistir a um filme com roteiro extremamente inteligente e que não subestima seu público. Isso e o fato de as reviravoltas da história estarem longe dos clichês dos usuais thrillers é motivo de comemoração para cinéfilos. Em dado momento, esperava que algum personagem se mostrasse um vilão em potencial, um infiltrado ou qualquer coisa do tipo como em centenas de outros filmes. Felizmente, Christopher Nolan nos presenteia com um roteiro bastante original, cheio de momentos inspirados e que planta a vontade no espectador de assistir novamente. Seja para confirmar algumas informações, seja para se divertir uma segunda vez com as aventuras de Dom Cobb e sua equipe.
Aventura, aliás, é uma palavra correta para A Origem. São muitas as cenas de ação. Algumas convencionais, mas muito bem executadas, outras completamente inovadoras – como o caso da gravidade zero ou do mundo incoerente criado pela mente de Ariadne. Estas duas cenas, em particular, com o perdão do clichê, são de arrepiar. Mesmo tendo sido utilizadas em trailers e comerciais, o efeito de assistir a imagens tão únicas na tela grande é de deixar qualquer um boquiaberto. Imagine em Imax então?
Com um visual caprichado e roteiro igualmente bem lapidado, Christopher Nolan precisava apenas de um elenco à altura para dar conta do recado. Ainda que não tenhamos uma atuação rasgadamente destacada como a de Heath Ledger em Batman – O Cavaleiro das Trevas, o grupo de A Origem é incrivelmente forte.

E o protagonista? Leonardo DiCaprio encabeça o longa-metragem e convence como um inteligente e traumatizado indivíduo, que vive se escondendo de uma ameaça em potencial. Dom Cobb é um homem apegado demais ao seu passado e precisa deixá-lo para trás. Suas cicatrizes ainda o machucam e a culpa de um evento irreversível o assombra até hoje. Esta é a jornada do personagem e o espectador consegue se relacionar com o seu drama, apesar de faltar uma pitada de emoção para que tudo ficasse perfeito. É o único quesito questionável em A Origem. Muito cérebro e pouco coração em alguns momentos. Nada que tire do filme suas cinco estrelas, two thumbs up, nota 10, ou qualquer que seja o seu sistema de avaliação.

Certamente, muitos procurarão por críticas e resenhas tentando achar respostas para o final do filme. O próprio Christopher Nolan disse que não se preocupava em ceder isso ao espectador. Cada um entende da forma como quiser aquele último momento, cortado segundos antes de uma possível resposta, deixando todos no escuro – literalmente. É um desfecho arrebatador, que deixará perguntas eternas. E, na verdade, o que menos importa é esta resposta. O interessante e fascinante neste filme é a jornada dos personagens. Da mesma forma que nunca saberemos se Capitu traiu Bentinho, se Deckard era ou não um replicante, a resposta para o que vimos em A Origem ficará na cabeça de cada um. Eu tenho a minha.
 EU A MINHA.
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