quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Devaneios etcétera e tal...: QUANTO NÓS MERECEMOS?Lya Luft
Devaneios etcétera e tal...: QUANTO NÓS MERECEMOS?Lya Luft: "O ser humano é um animal que deu errado em várias coisas. A maioria das pessoas que conheço, se fizesse uma terapia, ainda que breve, haver..."
QUANTO NÓS MERECEMOS?Lya Luft
O ser humano é um animal que deu errado em várias coisas. A maioria das pessoas que conheço, se fizesse uma terapia, ainda que breve, haveria de viver melhor. Os problemas podiam continuar ali, mas elas aprenderiam a lidar com eles.
Sem querer fazer uma interpretação barata ou subir além do chinelo: como qualquer pessoa que tenha lido Freud e companhia, não raro penso nas rasteiras que o inconsciente nos passa e em quanto nos atrapalhamos por achar que merecemos pouco.
Pessoalmente, acho que merecemos muito: nascemos para ser bem mais felizes do que somos, mas nossa cultura, nossa sociedade, nossa família não nos contaram essa história direito. Fomos onerados com contos de ogros sobre culpa, dívida, deveres e… mais culpa.
Um psicanalista me disse um dia:
– Minha profissão ajuda as pessoas a manter a cabeça à tona d’água. Milagres ninguém faz.
Nessa tona das águas da vida, por cima da qual nossa cabeça espia – se não naufragamos de vez –, somos assediados por pensamentos nem sempre muito inteligentes ou positivos sobre nós mesmos.
As armadilhas do inconsciente, que é onde nosso pé derrapa, talvez nos façam vislumbrar nessa fenda obscura um letreiro que diz: “Eu não mereço ser feliz. Quem sou eu para estar bem, ter saúde, ter alguma segurança e alegria? Não mereço uma boa família, afetos razoavelmente seguros, felicidade em meio aos dissabores”. Nada disso. Não nos ensinaram que “Deus faz sofrer a quem ama”?
Portanto, se algo começa a ir muito bem, possivelmente daremos um jeito de que desmorone – a não ser que tenhamos aprendido a nos valorizar.
Vivemos o efeito de muita raiva acumulada, muito mal-entendido nunca explicado, mágoas infantis, obrigações excessivas e imaginárias. Somos ofuscados pelo danoso mito da mãe santa e da esposa imaculada e do homem poderoso, pela miragem dos filhos mais que perfeitos, do patrão infalível e do governo sempre confiável. Sofremos sob o peso de quanto “devemos” a todas essas entidades inventadas, pois, afinal, por trás delas existe apenas gente, tão frágil quanto nós.
Esses fantasmas nos questionam, mãos na cintura, sobrancelhas iradas:
– Ué, você está quase se livrando das drogas, está quase conquistando a pessoa amada, está quase equilibrando sua relação com a família, está quase obtendo sucesso, vive com alguma tranqüilidade financeira… será que você merece? Veja lá!
Ouvindo isso, assustados réus, num ato nada falho tiramos o tapete de nós mesmos e damos um jeito de nos boicotar – coisa que aliás fazemos demais nesta curta vida. Escolhemos a droga em lugar da lucidez e da saúde; nos fechamos para os afetos em lugar de lhes abrir espaço; corremos atarantados em busca de mais dinheiro do que precisaríamos; se vamos bem em uma atividade, ficamos inquietos e queremos trocar; se uma relação floresce, viramos críticos mordazes ou traímos o outro, dando um jeito de podar carinho, confiança ou sensualidade.
Se a gente pudesse mudar um pouco essa perspectiva, e não encarar drogas, bebida em excesso, mentira, egoísmo e isolamento como “proibidos”, mas como uma opção burra e destrutiva, quem sabe poderíamos escolher coisas que nos favorecessem. E não passar uma vida inteira afastando o que poderia nos dar alegria, prazer, conforto ou serenidade.
No conflitado e obscuro território do inconsciente, que o velho sábio Freud nos ensinaria a arejar e iluminar, ainda nos consideramos maus meninos e meninas, crianças mal comportadas que merecem castigo, privação, desperdício de vida. Bom, isso também somos nós: estranho animal que nasceu precisando urgente de conserto.
Alguém sabe o endereço de uma oficina boa, barata, perto de casa – ah, e que não lide com notas frias?
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Devaneios etcétera e tal...: POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE
Devaneios etcétera e tal...: POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE: "O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas cre..."
POLITICAMENTE CORRETO É O CACETE
O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.
Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.(desconheço o autor)
Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.
Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.(desconheço o autor)
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Devaneios etcétera e tal...: Lembranças de uma janela que não me pertence mais....
Devaneios etcétera e tal...: Lembranças de uma janela que não me pertence mais....: "Esta cronica foi escrita por mim direcionada ao comprador de meu ex-apartamento que colocou no jornal de P.Alegre (Zero Hora) logo após adqu..."
Lembranças de uma janela que não me pertence mais...
Esta cronica foi escrita por mim direcionada ao comprador de meu ex-apartamento que colocou no jornal de P.Alegre (Zero Hora) logo após adquiri-lo, um texto muito lindo, agradecendo a oportunidade de eu lhe oferecer a janela do meu apartamento que ele considerava" uma gaiola aberta para o mundo", pois além de ter só vidros e árvores, vivia repleta de passarinhos.
Eis minha resposta, também em cronica, na edição seguinte:
Ao Doutor Dilto Nunes:
Lendo o que o senhor escreveu neste espaço, com o título “Uma gaiola aberta para o mundo” (ZH Moinhos de 22/1), a respeito de sua nova morada na Rua Marquês do Pombal, me senti lisonjeada. Até emocionada, arriscaria dizer.
Morei nesse apartamento, ao qual o senhor dá essa denominação tão carinhosa, por mais de 20 anos. Ali criei meus filhos, levando-os ao colégio todas manhãs, ao inglês, à escolhinha de futebol, à natação, sem nunca precisar sair dos limites do bairro.
O Zaffari me acompanhou todos dias dessa trajetória. A dona Edith Travi, com seus maravilhosos iogurtes. A Primavera, com seus sanduíches incomparáveis, e o Santo Antônio, com seus suculentos filés. Sem falar na pracinha Maurício Cardoso e no Parcão, onde eu levava meus filhos e os cachorros para brincar.
Nele, fui casada e descasei. Lutei contra preconceitos em uma época em que mulher sozinha não era respeitada. Muitas portas se fecharam, mas devo reconhecer que isso serviu para meu crescimento pessoal. Pessoas se afastaram de mim, outras tantas se aproximaram. Fiz grandes amizades, que permanecem até hoje.
Os passarinhos que o encantam, hoje, devem ser os netos dos que pousavam em minha janela, com quem eu conversava sobre minhas tristezas ou compartilhava minhas alegrias vividas ali.
Hoje, o apartamento é seu por direito, mas me permita deixar um pedaço vivo de mim dentro dele. Ali deixei como herança uma história de vida, às vezes, linda, outras, devastadora.
As árvores frondosas, orgulho de todo o bairro, muitas vezes embalaram, ao som do vento, minhas esperanças, e, a cada gorgeio de um novo pássaro que começava a dar seus primeiros trinados, eu nascia novamente, acreditando que tudo na vida é transitório, como na natureza.
Essa janela dá para o mundo, sim, Dr. Dilto! E os pássaros que pousam e cantam para o senhor hoje já não são mais os “meus pássaros”. Pois, assim como eles crescem e deixam o ninho para se aventurarem por outras paragens, os meus filhos também voaram atrás de suas escolhas em outros lugares.
E como meu ninho aí estava vazio, resolvi tomar outros ares, e digo isso sem tristeza, pois aprendi, com os pássaros, que chega um momento em que, se os filhos não abandonam o ninho, a gente mesmo os força, com um leve empurrãozinho a voarem sozinhos.
Um abraço e felicidades na nova morada.
Eis minha resposta, também em cronica, na edição seguinte:
Ao Doutor Dilto Nunes:
Lendo o que o senhor escreveu neste espaço, com o título “Uma gaiola aberta para o mundo” (ZH Moinhos de 22/1), a respeito de sua nova morada na Rua Marquês do Pombal, me senti lisonjeada. Até emocionada, arriscaria dizer.
Morei nesse apartamento, ao qual o senhor dá essa denominação tão carinhosa, por mais de 20 anos. Ali criei meus filhos, levando-os ao colégio todas manhãs, ao inglês, à escolhinha de futebol, à natação, sem nunca precisar sair dos limites do bairro.
O Zaffari me acompanhou todos dias dessa trajetória. A dona Edith Travi, com seus maravilhosos iogurtes. A Primavera, com seus sanduíches incomparáveis, e o Santo Antônio, com seus suculentos filés. Sem falar na pracinha Maurício Cardoso e no Parcão, onde eu levava meus filhos e os cachorros para brincar.
Nele, fui casada e descasei. Lutei contra preconceitos em uma época em que mulher sozinha não era respeitada. Muitas portas se fecharam, mas devo reconhecer que isso serviu para meu crescimento pessoal. Pessoas se afastaram de mim, outras tantas se aproximaram. Fiz grandes amizades, que permanecem até hoje.
Os passarinhos que o encantam, hoje, devem ser os netos dos que pousavam em minha janela, com quem eu conversava sobre minhas tristezas ou compartilhava minhas alegrias vividas ali.
Hoje, o apartamento é seu por direito, mas me permita deixar um pedaço vivo de mim dentro dele. Ali deixei como herança uma história de vida, às vezes, linda, outras, devastadora.
As árvores frondosas, orgulho de todo o bairro, muitas vezes embalaram, ao som do vento, minhas esperanças, e, a cada gorgeio de um novo pássaro que começava a dar seus primeiros trinados, eu nascia novamente, acreditando que tudo na vida é transitório, como na natureza.
Essa janela dá para o mundo, sim, Dr. Dilto! E os pássaros que pousam e cantam para o senhor hoje já não são mais os “meus pássaros”. Pois, assim como eles crescem e deixam o ninho para se aventurarem por outras paragens, os meus filhos também voaram atrás de suas escolhas em outros lugares.
E como meu ninho aí estava vazio, resolvi tomar outros ares, e digo isso sem tristeza, pois aprendi, com os pássaros, que chega um momento em que, se os filhos não abandonam o ninho, a gente mesmo os força, com um leve empurrãozinho a voarem sozinhos.
Um abraço e felicidades na nova morada.
Minha filha...vamos tentar entender...
Minha filha querida!
A vida nos prega peças e as vezes a gente nem sabe porque tudo acontece.De repente tudo fica de pernas pro ar de uma forma tão inesperada e feroz que perdemos o rumo e o senso.
Mas porque é assim, ou tem que ser assim? Deus não dá a cruz maior do que temos que carregar, escuto como refrão, mas ele é justo, o que me dá forças, e sabe muito bem quando deve ou não agir em nossas vidas.
Tenho certeza que Ele te colocou no mundo juntamente comigo, teu irmão e com teu pai para acertarmos pendências de vidas passadas e que estamos seguindo à risca apenas aquilo que foi tratado. E que teremos muitas outras vidas ainda para virmos juntos , em papéis diferentes, trocando apenas os personagens no palco da vida. Não existem culpados nos acontecimentos, o que há, e devemos nos aperceber disto, é o resultado de uma antecipada combinação na outra esfera que fizemos os quatro, com inicio, meio e fim.
E assinamos este contrato.
Um beijo da mãe.
A vida nos prega peças e as vezes a gente nem sabe porque tudo acontece.De repente tudo fica de pernas pro ar de uma forma tão inesperada e feroz que perdemos o rumo e o senso.
Mas porque é assim, ou tem que ser assim? Deus não dá a cruz maior do que temos que carregar, escuto como refrão, mas ele é justo, o que me dá forças, e sabe muito bem quando deve ou não agir em nossas vidas.
Tenho certeza que Ele te colocou no mundo juntamente comigo, teu irmão e com teu pai para acertarmos pendências de vidas passadas e que estamos seguindo à risca apenas aquilo que foi tratado. E que teremos muitas outras vidas ainda para virmos juntos , em papéis diferentes, trocando apenas os personagens no palco da vida. Não existem culpados nos acontecimentos, o que há, e devemos nos aperceber disto, é o resultado de uma antecipada combinação na outra esfera que fizemos os quatro, com inicio, meio e fim.
E assinamos este contrato.
Um beijo da mãe.
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